Proposição de tratamento e estocagem adequados de resíduos
Um programa de gerenciamento de resíduos utiliza o princípio da responsabilidade objetiva, onde o gerador do resíduo deve ser o responsável pelo seu correto tratamento e descarte (individual ou coletivo) e as devidas proposições devem ser seguidas:
· Prevenção na geração de resíduo – Quanto menor o volume gerado mais fácil será seu tratamento.
· Segregar sempre que necessário – Isto aumenta a segurança sob o ponto de vista químico e facilita o gerenciamento e tratamento.
· Identificar os resíduos (rotulagem) – Isto facilita o gerenciamento e diminui o tempo e custo para tomada de decisão.
· Reciclagem e reutilização interna e externa – Diminui os custos com compra de reagentes e reduz o volume do resíduo.
· Tratar o resíduo na fonte geradora – Sempre que possível esta prática deve ser adotada, pois reduz a infra-estrutura necessária para seu tratamento coletivo.
· Fazer o correto armazenamento e disposição – Isto diminui os riscos químicos associados ao processo de gerenciamento de resíduos.
1. Tratamento:
Na medida do possível sempre tratar o resíduo na origem, sugere-se que sejam adotados procedimentos operacionais padrão (POPs), contendo informações sobre o tratamento dos resíduos. Sugere-se ainda que estes procedimentos sejam anexados aos POPs das análises, no sentido de fazer com que as pessoas responsáveis pelas rotinas de laboratório tenham o entendimento de que a destruição do resíduo faz parte do procedimento de análise.
Os resíduos que são passíveis de destruição/neutralização no próprio laboratório, para posterior descarte na pia, não deverão ser acumulados é sempre mais fácil e menos perigoso o tratamento em pequenas quantidades.
Todos os procedimentos, descritos a seguir, devem ser efetuados em capela com boa exaustão, fazendo-se uso de equipamentos de proteção individual como avental, luvas e óculos de segurança:
l ácidos e bases: neutralizar com NaOH ou H2SO4, respectivamente, utilizar papel indicador ou gotas de fenolftaleína, para garantir que o Ph da solução resultante situe-se entre 6 e 8. Após a neutralização, descartar lentamente na pia sob água corrente. Para soluções extremamente ácidas, como mistura sulfonítrica, por exemplo, utilizar cal na neutralização.
l metais: tratar com soda cáustica (NaOH + Na2SO3) em excesso. descartar a mistura nos tambores apropriados para este fim que encontram-se no depósito de resíduos.
l cianetos: a destruição deve ser feita em capela com boa exaustão. o procedimento relatado a seguir é adequado para cianetos solúveis e insolúveis, não é recomendado para complexos com alta estabilidade basificar o meio com NaOH não muito concentrado (pH entre 10 e 11 sob agitação adicionar hipoclorito de sódio ou cálcio (50% em excesso em relação ao CN- em mol.l-1) manter sob agitação, na capela por cerca de 12 horas abaixar o pHcom HCl até cerca de 8 descartar lentamente na pia da capela, sob água corrente.
l agentes oxidantes: Hipocloritos, cloratos, bromatos, iodatos, periodatos, peróxidos e hidroperóxidos inorgânicos, cromatos e dicromatos, molibdatos, manganatos e permanganatos podem ser reduzidos por hiposulfito de sódio. O excesso de hipossulfito deve ser destruído com H2O2 depois disso, diluir a 3% e descartar na pia.
l sulfetos inorgânicos: Precipitar na forma de sulfeto de Fe+2, decantar, o precipitado deve ser descartado nos resíduos de metais, o sobrenadante pode ser descartado na pia após diluição, se não contiver metais pesados/tóxicos.
l metais finamente divididos (Al, Co, Fe, Mg, Mn, Ni, Pd, Pt, Ti, Sn, U, Zn, Zr, e suas ligas: Suspender o pó em água, até formar uma pasta, colocar em um recipiente metálico formando uma camada fina, deixar secar ao ar. conforme a mistura for secando, formar-se-ão, óxidos que não são pirofóricos, descartar como resíduos de metal ou recuperar, dependendo do metal, outra alternativa: solubilizar com ácido e depois descartar como resíduo de metais.
2. Alguns compostos que podem ser descartados diretamente na pia:
Em geral, podem ser descartados diretamente na pia (após diluição-100x e sob água corrente) os compostos solúveis em água e com baixa toxicidade. Para os orgânicos é preciso que também sejam facilmente biodegradáveis. Quantidade máxima recomendável: 100 g ou 100 ml, por ponto, por dia.
Compostos com PE <50°C não devem ser descartados na pia, mesmo que extremamente solúveis em água e pouco tóxicos.
Considerar sempre a toxicidade (aguda e crônica), inflamabilidade e reatividade, além da quantidade e concentração. compostos com características ácido-base pronunciadas (ph < 6 ou ph > 8) deverão ser neutralizados antes do descarte. Compostos com odor forte devem ser neutralizados/destruídos, diluídos pelo menos 1000 vezes com água e depois descartados sob água corrente.
l orgânicos
Álcoois com menos de 5 carbonos; glicerol; açúcares; ácidos carboxílicos com menos de 6 carbonos e seus sais de NH4+, Na+ e K+; ésteres com menos de 5 carbonos; cetonas com menos de 6 carbonos.
l inorgânicos
Cátions: Al+3, Ca+2, Cu+2, Fé+2, Fé+3, Li+1, Mg+2, Na+1, NH+4, Sn+2, Sr+2, Zn+2, Zr+2.
Ânions: BO33- , B4O72-, Br-, CO32-, Cl-, HSO3-, I-, NO3-, SO42-, SCN-, SO32-, OCN-
Apesar do fosfato (PO43) não ter toxicidade pronunciada seu descarte na pia deve ser encarado com muito cuidado por seu potencial eutrofizante nos corpos d’água.
3. Alguns compostos que podem ser descartados no lixo:
l orgânicos
Açúcares, amido, aminoácidos e sais de ocorrência natural ácido cítrico e seus sais (na, k, mg, ca, nh4); ácido lático e seus sais (na, k, mg, ca, nh4)
l inorgânicos
Sulfatos, fosfatos, carbonatos: Na, K, Mg, Ca, Sr, Ba, nNh4
Óxidos: B, Bg, Ca, Sr, Al, Si, Ti, Mn, Fe, Co, Cu, Zn
Cloretos: Na, K, Mg
Boratos: Na, K, Mg, Ca
4. Outros materiais de laboratório não contaminados com produtos químicos perigosos:
Adsorventes cromatográficos: sílica, alumina, etc; material de vidro; papel de filtro, luvas e outros materiais descartáveis.
5. Alguns compostos que devem ser descartados incineração/coprocessamento
Solventes não halogenados, < 5% água ; solventes não halogenados, > 5% água; solventes halogenados; peróxidos orgânicos; pesticidas e outros de alta toxicidade aguda ou crônica.
Se houver possibilidade de formação de misturas azeotrópicas, avaliar o custo/benefício da recuperação: mercúrio metálico, solventes clorados, acetatos e aldeídos, hidrocarbonetos, álcoois e cetonas.
6. Disposição Final
Um procedimento recomendável é a adoção de praticas que possam diminuir o volume do resíduo final a ser encaminhado para disposição ou tratamento fora da Unidade. deve-se ter em mente os custos elevados para transporte e destino final dos residuos. Por isso a pratica de geração e simples armazenamento para disposição ou tratamento externo devem ser desencorajados, pois embora operacionalmente mais simples, oneram o sistema, alem de representar maior risco ambiental. Portanto, procedimentos como recuperação de solventes, aprimoramento de novos técnicas, redução de insumos, devem ser encorajados para minorar o problema dentro da própria unidade.
7. Armazenamento/ Estocagem
Embalagens a utilizar devem ser utilizadas específicas para o descarte de resíduos. As embalagens plásticas de alta densidade são preferíveis, exceto quando houver incompatibilidade com o resíduo. na falta de embalagem plástica, os frascos vazios de reagentes, também poderão ser utilizados. Os frascos deverão permanecer sempre tampados e preenchidos até o máximo 2/3 de seu volume para evitar problemas com gases que eventualmente se desprendam do resíduo. Não armazenar frascos de resíduos na capela. Nunca utilizar embalagens metálicas para resíduos. Mesmo próximo a neutralidade, sólidos e líquidos podem corroer facilmente este tipo de embalagem. Não armazenar resíduos próximos a fonte de calor ou água.