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 Projeto de desenvolvimento rural faz crescer
renda de produtores no sudoeste da Bahia

Ações da Embrapa Semi-Árido e CAR, órgão da Secretaria de
Planejamento do Governo da Bahia, melhoram desempenho das
propriedades numa das regiões mais pobres da Bahia

Neste ano, o agricultor Vagnei Gonçalves Dias quebrou uma rotina a que se obrigava há “vários anos”, segundo sua conta: no início da seca, nos meses de fevereiro-março, partia para São Paulo em busca de emprego que lhe garantisse o dinheiro que ajudasse a manter sua família que permanecia na propriedade no interior do município de Licínio de Almeida, no sudoeste da Bahia. Em outubro, quando iniciava as primeiras chuvas, lá vinha ele de volta da capital paulista, cuidar da família e do pouco gado na pequena terra.
Vagnei encontrou ocupação na seca e deixou de ir para São Paulo.

Neste ano, Vagnei não precisou ir a São Paulo. O período de seca ele atravessou no batente, tocando a propriedade ao lado da mulher e dos filhos. Em outubro do ano passado, obteve um empréstimo junto ao Banco do Nordeste, que o tem feito operar em sua propriedade o “milagre da multiplicação”: investiu na aquisição de um reprodutor e 15 cabras, e pôs-se a cultivar plantas forrageiras resistentes à seca a adotar técnicas de armazenamento de forragem. Hoje, o rebanho saltou para 44 ovinos. Na seca, só perdeu um animal. Em 2003, começam a vencer as prestações do financiamento. Vai conseguir pagá-las “tranqüilo”. A vida está melhor, garante Vagnei.

No município vizinho de Piripá, na localidade de Sumidouro, o trabalho em uma pequena horta de um hectare é que está mudando a rotina e a qualidade de vida de dez famílias. Há seis meses, se ocupam em cuidar de hortaliças que, por várias vezes chegaram a comer e sob um sistema de cultivo irrigado do qual nunca haviam tratado, na labuta penosa no semi-árido baiano. Há três meses, quando começaram a colher mais de 10 hortaliças diferentes tornaram-se fartas e findou o estranhamento com a inovação.

As colheitas têm chegado a quantidades que as 10 famílias e vizinhos consomem e ainda sobra. O excedente segue para a feira livre do município que acontece toda semana. A renda obtida ainda não é significativa. Mas, chegam a arrecadar R$ 200,00 por feira, em média. É bem mais do que “apuram” os donos de bares no mesmo dia: R$ 70,00. As pessoas estão alegres, revela Ricardo Ribeiro de Carvalho, presidente da Associação dos Pequenos Produtores de Sumidouro e Floresta.

Nova Dinâmica

As estruturas produtivas que estão melhorando a renda e as condições de vida de Vagnei e as famílias de Sumidouro são resultados das atividades de transferência de tecnologias do Projeto de Desenvolvimento Comunitário da Região do Rio Gavião – Pró-Gavião – executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR – , vinculada à Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia, com apoio da Embrapa Semi-Árido e Embrapa Mandioca e Fruticultura. Carlos Henrique de Souza Ramos, Subcoordenador de Desenvolvimento Tecnológico do Pro-Gavião afirma que o Projeto está conseguindo retirar as pequenas propriedades do “estado de inércia” em que se encontravam há muito tempo, apenas mantendo os produtores com condições mínimas de sobrevivência, para transformá-las em “unidades geradoras de renda”. Há uma nova dinâmica econômica e social em curso nos 13 municípios do Sudoeste baiano atendidos pelo Projeto, garante ele.

As mudanças nas vidas de Vagnei e das famílias de Sumidouro estão constatadas de forma mais abrangente no estudo: “Projeto Gavião: Impactos no desenvolvimento rural – 1998/2001. O estudo revela que a renda média das propriedades atendidas pelo Pró-Gavião cresceu cerca de 24%. E um crescimento expressivo, principalmente porque é registrado em uma das áreas onde a população rural é uma das pobres de toda a Bahia, explica o pesquisador Rebert Coelho Correia, da Embrapa Semi-Árido.
Agricultores trabalhando numa horta comunitária de produção orgânica.

Pesquisa Participativa

Nos 13 municípios do Sudoeste baiano que estão na área de abrangência do Pró-Gavião, habitam cerca de 40 mil famílias. Aproximadamente, 70% delas residem nas áreas rurais e são, basicamente, de pequenos produtores com propriedades de até 50 ha. Não são todos os que recebem assistência do Projeto. A estratégia da sua implantação, elaborada por técnicos da CAR e pesquisadores da Embrapa, se ocupou, primeiramente, em definir os produtores entre aqueles do estrato de renda mais pobre: renda bruta média anual de até US$2,500.00.  Deste universo, foram escolhidos grupos de produtores organizados em associações cujas práticas agrícolas que empregaram em suas propriedades eram representativas dos sistemas de produção usados na região do rio Gavião.

Dessa forma, explica Rebert Correia, ao longo do tempo de execução do Projeto, foram sendo avaliados várias tecnologias em áreas coletivas gerenciadas por pesquisadores e produtores. As tecnologias de melhor desempenho, ganharam rápida disseminação e foram garantir o aumento de renda das propriedades. Uma das consequências dessa estratégia. Foi a ênfase na produção animal. No período analisado pelo estudo “Projeto Gavião: Impactos no desenvolvimento rural – 1998/2001” o valor médio da produção animal havia crescido 39,5%. Nesse tempo, a produção vegetal regrediu cerca de 27%. Assim, a área com pastagens registrou uma expansão de 55,4%. Outras forrageiras, como leucena, palma e guandu cresceram 1300%, 134,6% e 15,5%, respectivamente. O estudo ainda constatou que a média de trabalhadores contratados pelos produtores que recebem orientações técnicas do projeto havia crescido cerca de 173%: passou de 0,25 homem/dia/ano para 0,69.

Crédito

O Pró-Gavião tem uma linha de crédito que financia a implantação das tecnologias e a aquisição de animais pelos produtores que assiste. Em 2000, foram liberados R$ 1.613.000,00 para 547 famílias. Cerca de 94% desses recursos foram destinados a investimentos na formação da base produtiva das propriedades. Em 2001, os recursos financiados foram de R$ 1.000.000,00 e atenderam a 280 famílias. Neste ano de 2002, a estimativa dos técnicos da CAR é do total de recursos chegar a R$ 3.350.000,00 e beneficiar 900 famílias.

Grande parte desses recursos estão sendo investidos na alteração da matriz pecuária da região: a aquisição de bovinos, que predominava, é preterida pela compra de caprinos e, principalmente, ovinos. Em 2000, o sistema de financiamento rural do projeto, liberou recursos para a aquisição de 1.600 animais. No ano seguinte, foram 900 animais. Neste ano de 2002, serão mais 3.200 animais. Segundo Carlos Henrique, da CAR, os animais financiados têm um bom padrão genético e os recursos para sua aquisição só são repassados aos produtores depois de constatados nas propriedades a base forrageira implantada que vai garantir a oferta de forragem na época seca e manter o rebanho em condições produtivas.

Das 900 famílias que devem ser financiadas em 2002, 100 têm a mulher como chefe de família. Elas vão receber um crédito de R$ 500,00 para ser aplicado em equipamentos como máquina de costura para que possam desenvolver atividade geradora de renda.

Mesa farta

Segundo Cristiane Andrade, assistente social do Pró-Gavião, o crédito rural tem aumentado a produção e elevado a renda. Como conseqüência tem levado à redução da quantidade de homens que rumam para São Paulo, em busca da superação das dificuldades econômicas e da falta de perspectiva de vida. Aliás, hoje, já há um movimento contrário, de retorno de muita gente que havia partido fugindo da seca.

Na fazenda Baixa Funda, município de Presidente Jânio Quadros, o filho de seu Hildo Ribeiro Farias é dos que se preparam a volta de São Paulo para se estabelecer de novo na região. A oportunidade do retorno está se consolidando com os resultados produtivos que seu pai e mais 12 famílias estão conseguindo na pequena área irrigada, instalada pela CAR e a Embrapa na sua comunidade. O filho de seu Hildo todo mês paga uma pessoa para fazer o serviço que seria dele na horta irrigada. Quando voltar já tem ocupação garantida por todo o ano, faça chuva, faça sol.

No ano passado, o Pró-Gavião implantou 11 dessas hortas. Em 2002, serão mais 20 até o final do ano. Nos locais onde funcionam a contento, as famílias envolvidas deixaram de comprar hortaliças. As safras têm sido fartas. Na Comunidade de Barra de Santana, município de Piripá, no primeiro ano de trabalho, a produção da horta foi quase nenhuma. A partir do segundo ano, no entanto, os alimentos que as 10 famílias envolvidas com a horta passaram a colher “deixaram todos animados”, diz dona Maria Rosa de Jesus, da Associação de Produtores.

Antes, os plantios eram apenas para o “mantimento”. Agora, com a horta irrigada, são 18 verduras e hortaliças que colhem duas vezes por semana. Com mais temperos, a comida ficou mais saborosa, revela Maria. E ainda sobra o bastante para montarem uma concorrida barraca na feira semanal do município e que comercializa um produto único: verdura orgânica.

Maiores informações:

Rebert Coelho Correia – pesquisador Embrapa Semi-Árido – tel. 87 3862 1711 r 130
Endereço eletrônico: rebert@cpatsa.embrapa.br

Carlos Henrique de Souza Ramos, Subcoordenador de Desenvolvimento Tecnológico do Pro-Gavião – tel 71 370 3643
Endereço eletrônico: carlossr@cpu0011.ba.gov.br

Marcelino Ribeiro – jornalista, Embrapa Semi-Árido – tel. 87 3862 1711 r 234/235
Endereço eletrônico: marcelrn@cpatsa.embrapa.br

 

 
 


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