IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE PRODUÇÃO INTEGRADA DE MANGA NA REGIÃO DO SUBMÉDIO DO VALE DO SÃO FRANCISCO

A Produção Integrada de Manga no Submédio do Vale do São Francisco foi iniciada mediante a demanda dos produtores da região, preocupados em atender às exigências do mercado Europeu, o qual poderia impor restrições às importações das mangas.

A PIF, além de ser uma proposta de agricultura sustentável sob os pontos de vista ecológico, social e econômico, aumenta muito a possibilidade de as frutas produzidas concorrerem com maior competitividade nos principais mercados importadores, os quais, além da qualidade visual das frutas, passaram a exigir controle sobre todo o sistema de produção, de modo a permitir a rastreabilidade do produto.

Na implantação do programa de Produção Integrada de Manga, foram consideradas as seguintes etapas:

Seleção das áreas de produção de manga

No início do programa 14 empresas exportadoras de mangas foram selecionadas para participarem da Produção Integrada. Posteriormente, outros produtores solicitaram voluntariamente a participação no programa. O programa encontra-se aberto à adesão de novas unidades de produção, com uma meta de viabilizar a participação de todos os exportadores, diretos e indiretos.

Seleção e identificação das parcelas nas empresas

Para realizar o acompanhamento da cadeia produtiva da manga, facilitar a coleta de informações em campo e manter os dados atualizados para fins de rastreabilidade das práticas realizadas no pomar, é necessário, primeiramente, definir a parcela na qual será feito o registro de todas as etapas do processo de produção, em conformidade com o ciclo agrícola e os procedimentos técnicos a ser adotados. Dessa forma, define-se parcela como a unidade de produção que apresente a mesma variedade, tenha a mesma idade, e esteja submetida aos mesmos tratos culturais preconizados pela PIF. Posteriormente, estas parcelas são numeradas, georreferenciadas e mapeadas.

Fotos: Equipe PIF/Embrapa Semi-Árido

Realização do diagnóstico ambiental das parcelas das áreas de produção

O diagnóstico ambiental foi realizado considerando os aspectos sócio-econômicos e ambientais da região. Vários mapas temáticos foram confeccionados visando a classificação das bacias hidrográficas em função dos diferentes usos da terra e características dos recursos naturais (vegetação, solo, clima e água). O monitoramento ambiental foi realizado em escala de parcela; dessa forma, as unidades produtoras de manga foram inventariadas e caracterizadas em termos de cadeia produtiva, levantando-se as variedades de mangas cultivadas, espaçamento, área plantada, idade de plantio, manejo, produtividade e previsão de colheita. Dados referentes à rede de drenagem e aos sistemas de irrigação, também, foram levantados, assim como a fonte e manejo da água. Os solos dessas unidades produtoras foram analisados quanto às características físicas e químicas, presença de metais pesados, para efeito de análise da vulnerabilidade de contaminação das águas superficiais e subterrâneas pelos produtos aplicados na referida cultura. Os produtos aplicados nas unidades produtivas de manga foram identificados e classificados em termos de princípio ativo; grupo químico; Limites Máximos de Resíduo (LMR) permitidos no Brasil, Estados Unidos, União Européia, Japão e Codex; período de carência; ação do produto; formulação; classe toxicológica; disponibilidade de metodologia para identificação de resíduos Ver home page Embrapa Meio Ambiente.

Foto: Equipe PIF/Embrapa Semi-Árido

 

 

Elaboração do caderno de campo

Os cadernos de campo são instrumentos que orientam o produtor sobre a maneira de registrar todas as informações referentes às atividades de manejo da cultura desenvolvida em nível de parcelas das unidades de produção, baseadas nas recomendações preconizadas nas Normas Técnicas específicas. Nestes controles são registrados os dados da empresa, responsável técnico, dados da cultivar, adubação, irrigação, monitoramento de pragas e doenças, produtos químicos utilizados, tratos culturais, fitorreguladores, colheita e pós-colheita, como, também, a justificativa que leva o produtor a realizar um determinado tratamento fitossanitário ou adubação, bem como os critérios e objetivos utilizados para tal. Os registros são anotados diariamente pelos encarregados e/ou técnicos responsáveis e serão os meios utilizados para dar a conformidade de que o produtor está cumprindo com as normas estabelecidas, o que o credenciará à obtenção de um selo de qualidade da fruta produzida.

Manejo Integrado de Pragas

Na PIF, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) representa 80% das estratégias de implantação desta moderna tecnologia de produção agrícola. O MIP preconiza que o controle de pragas deve ser realizado por meio de técnicas compatíveis que visem manter a população de insetos abaixo do nível de dano econômico.

Nesse contexto, a base de qualquer sistema de MIP é o monitoramento. Esta prática inovadora de acompanhamento racional das pragas trouxe uma maior segurança para o agrônomo, técnico ou produtor na tomada de decisão no controle de uma determinada população da praga. Para isto, necessita-se de um bom treinamento do pessoal que irá realizar as amostragens no campo, bem como, o conhecimento dos métodos de amostragem.

Fotos: Cynthia Amorim

O monitoramento das principais pragas e doenças, como, também, a ocorrência de inimigos naturais estão sendo realizados por meio de amostragens, envolvendo o conhecimento sobre a fenologia da cultura, esquema experimental, número de plantas amostradas por área (unidade produtiva), freqüência, partes amostradas da planta (tronco, brotações, gemas, folhas, ramos, inflorescências e frutos), níveis de ação, conhecimento da praga e epidemiologia da doença, e as condições climáticas. A metodologia de amostragens das pragas, doenças e inimigos naturais, bem como as planilhas a serem utilizadas foram desenvolvidas pela Embrapa Semi-Árido (Barbosa et al., 2000a e b, 2001; Tavares, 2000; Tavares et al., 2001), excetuando-se as moscas-das-frutas, cujo programa de monitoramento, coordenado pelo MAPA/Embrapa Semi-Árido, vem sendo realizado na região desde 1989. Manuais de monitoramento de pragas e doenças foram elaborados para orientar os produtores na identificação dos danos e sintomas das pragas e doenças no campo, assim como os níveis de ação para intervenção química.

Foto: Equipe PIF/Embrapa Semi-Árido

Além do programa de monitoramento de pragas e doenças, uma rede de estações climáticas automatizadas é necessária para o sucesso da Produção Integrada. A disponibilidade dos dados climáticos associados ao monitoramento permitirá a criação de estações de avisos fitossanitários, que subsidiarão um planejamento mais adequado de formas alternativas de prevenção e controle em função do nível populacional de pragas e doenças. Dessa forma, sete estações climáticas foram instaladas na região do Submédio do Vale do São Francisco.

Monitoramento dos itinerários técnicos da cadeia produtiva de manga e da qualidade final na pós-colheita.

A implantação do banco de dados permitirá o acompanhamento e monitoramento do programa de qualidade das frutas e a implantação de aplicativos visando um sistema de geo-processamento, transferência de tecnologia e monitoramento de mercados. Nesta diretriz, estão sendo realizados treinamento de pessoal, levantamento e sistematização das informações geográficas e/ou georreferenciadas para acompanhamento do desenvolvimento da cultura da mangueira, da produção na região, previsão de safras e apoio ao sistema regional de defesa vegetal, bem como a aquisição de “hardware” e “software”.

Capacitação de recursos humanos para monitorar o Sistema de Produção Integrada.

O projeto de PI-Manga viabiliza a capacitação de agrônomos, técnicos, produtores, operadores e estudantes no monitoramento de pragas e doenças da mangueira, por meio de cursos, treinamentos teóricos e práticos, visitas técnicas, distribuição de material didático e publicações, enfatizando a identificação de sintomas e danos no campo, o preenchimento de planilhas de amostragens, como, também, a utilização do caderno de campo com informações sobre o manejo da cultura.

Fotos: Equipe PIF/Embrapa Semi-Árido

Elaboração da grade dos agrotóxicos utilizados na cultura.

Como medida de proteção à saúde dos consumidores e para evitar problemas com a comercialização das mangas produzidas, é necessário que os níveis de agrotóxicos não superem os limites máximos de resíduos (LMR) legalmente estabelecidos . A identificação dos níveis de resíduos nas frutas é realizada por meio de coletas de amostras nas parcelas de manga, as quais são enviadas para análise em um laboratório credenciado. A metodologia de coleta do material é descrita pelo MAPA (2000).

Elaboração das normas de produção integrada de manga.

As normas de Produção Integrada de Manga estão baseadas nas Diretrizes Gerais para Produção Integrada de Frutas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Instruções Normativas N.º 20, de 27 de setembro de 2001, e Nº 12, de 29 de novembro de 2001 (Brasil, 2001a e b). Um Comitê Gestor voluntário foi formado com a finalidade de apoiar a estrutura organizacional do Projeto de Produção Integrada de Manga, no planejamento e definição de responsabilidades das atividades de pesquisa e administrativas, e na elaboração das diretrizes técnicas e das normas para implementação da produção integrada na região. Os membros que compõem o Comitê Gestor são representantes da iniciativa privada, da pesquisa (Embrapa) e de associações de produtores. Para elaboração das Normas Técnicas da Produção Integrada de Manga, também, foi criado um Comitê Técnico formado por representantes de instituições de pesquisas, de produtores e consultores. Ver relação dos participantes do comitê gestor e técnico da manga.

As normas estabelecem critérios referentes a procedimentos obrigatórios, recomendados, permitidos com restrição e proibidos para cada uma das áreas temáticas, como, por exemplo, para material propagativo (sementes e mudas), implantação de pomares (localização, porta-enxerto, cultivar e sistema de plantio), manejo do solo (manejo de cobertura do solo e herbicidas), nutrição, manejo da parte aérea, irrigação, controle integrado de pragas e doenças, tratos culturais, colheita, pós-colheita e outras práticas.