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Cultivo
da Cebola no Nordeste
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Sumário
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Custos |
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A cebola, a batata e do tomate são as três hortaliças de maior importância econômica cultivadas no Brasil. Atualmente, a oferta brasileira de cebola gira em torno de 1.300.000 toneladas/ano, sendo 1.100.000 toneladas oriundas da produção nacional e 200 000 importadas da Argentina. A produção brasileira de cebola é concentrada, principalmente, nos estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Pernambuco. Estes dois últimos respondem por praticamente toda a produção de cebola da região Nordeste, montante que representa cerca de 18% da produção nacional. As principais zonas de cultivos desta olerácea no Nordeste são o agropólo do Submédio São Francisco, que abrange municípios pertencentes aos Estados de Bahia e Pernambuco, e a região de Irecê e Mucugê, na Bahia. Nestes dois pólos de produção são explorados anualmente cerca de 10.000 hectares de cebola, que geram em torno de 60.000 empregos diretos e indiretos, distribuídos nos diversos elos que compõem a cadeia de produção dessa olerácea.
A cebola produzida no Nordeste é toda consumida no território brasileiro, sendo comercializada nos mercados local, regional e nacional. O mercado local é constituído pelas cidades situadas dentro da área geográfica dos pólos de produção. O regional corresponde a toda macrorregião Nordeste, sendo as capitais e os grandes aglomerados urbanos do interior, os principais centros de consumo. O nacional é representado, notadamente, pelas grandes metrópoles da região Centro-Sul do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília). No tocante ao processo de distribuição, os intermediários são os principais agentes do processo. Estes elementos compram, beneficiam, classificam e embalam o produto na propriedade rural ou em suas unidades de comercialização, que ficam localizadas nas cidades de porte das zonas de produção, como é o caso de Petrolina e Juazeiro, no pólo do Submédio São Francisco. Em nível local, eles repassam o produto para as feiras livres, mercados municipais, sacolões, mini-mercados de bairros e supermercados. Em níveis regional e nacional, os intermediários têm como clientes preferenciais os atacadistas das Centrais Estaduais de Abastecimento S.A. - CEASAs e as grandes redes de supermercados. A grande vantagem da produção de cebola no Nordeste é que se trata da única região brasileira produtora de cebola que tem possibilidade de ofertar o produto durante todos os meses do ano, devido à favorabilidade das suas condições climáticas. Esta vantagem permite aos produtores da região programar suas safras para os meses do ano quando, historicamente, ocorre menor oferta do produto no mercado doméstico e, consequentemente, os preços estão mais elevados. Considerando que a cebola é um produto de alto custo de produção, de extrema perecibilidade e de fortes variações estacionais de preços, esta vantagem ganha ainda maior importância. Outra importante vantagem da exploração da cebola no Nordeste é o seu ciclo de produção, que fica em torno de 120 dias, enquanto nas demais regiões as cultivares mais precoces registram, entre a semeadura e a colheita um horizonte temporal de no mínimo 150 dias. Com relação ao comportamento do preço da cebola do Nordeste, estudo realizado com dados obtidos no Mercado do Produtor de Juazeiro-BA, maior centro de distribuição de produtos hortifrutícolas do Nordeste, durante o período de 1995 a 2005, aponta que em janeiro o valor registrado corresponde, praticamente, ao preço médio anual do período analisado (igual a 100%). De fevereiro até junho, os preços observados são superiores ao preço médio anual, enquanto os demais meses do ano apresentam índices de preços inferiores ao índice médio (Figura 1). O índice estacional máximo, que corresponde ao maior preço obtido pelo produto, ocorreu no mês de junho, estando 39,08% acima do preço médio, e o mínimo ocorreu no mês de agosto, com 46,70% abaixo do preço médio. Houve uma tendência de aumento de janeiro até junho, com uma pequena oscilação decrescente observada em abril e, a partir daí, ocorre uma queda muito significativa nos preços da cebola, comportamento que se mantém até agosto e, a partir daí, até dezembro verifica-se uma discreta tendência de aumento de preço, que se prolonga até o final do ano, mas sempre registrando valores abaixo da média de preços do período analisado.
A explicação para os preços da cebola praticados no pólo de produção do Submédio São Francisco estarem acima da média anual em todo o primeiro semestre está seguramente associada a duas situações de mercado que se observa nessa primeira metade do ano: a primeira, que vai de janeiro a abril, época que o mercado nacional é abastecido principalmente pela cebola produzida em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná ( Tabela 1), e como esses pólos de produção não penetram com muita intensidade nos mercados consumidores da região Norte e Nordeste, maiores clientes dos cebolicultores do Submédio São Francisco, os preços não sofrem aviltamento. Outro fator que também contribui para que nessa fase do ano os preços da cebola comercializada no Vale do São Francisco estejam acima da média é a pouca oferta do produto regional, a segunda situação de mercado, que corresponde aos meses de maio a junho, é a época do ano que a cebola melhor remunera os produtores do Submédio São Francisco, isto porque, coincide com o período de final das safras de cebola dos pólos sulistas de produção e ainda estão iniciando as safras dos pólos de produção de cebola de São Paulo (V Tabela 1), o que permite que o produto regional alcance preços satisfatórios nos principais mercados do país, inclusive em São Paulo. A significativa queda observada nos índices estacionais dos preços da cebola comercializada na região do Submédio São Francisco, no segundo semestre do ano, está fortemente relacionada à coincidência com o forte da safra da cebola de São Paulo ( Tabela 1). Essa situação traz duas conseqüências negativas para os cebolicultores da região em análise: a primeira é que, praticamente fica inviabilizado o envio de cebola do Submédio São Francisco para o mercado paulista, que é o maior mercado consumidor do produto no país, e a segunda é que a cebola dos pólos de produção de São Paulo também penetra com fluidez nas principais cidades das regiões Norte e Nordeste nesse período, provocando uma queda no preço do produto nesses mercados, que, tradicionalmente, são abastecidos pela cebola da região do São Francisco. O outro fator que também concorre para o decremento do índice estacional do preço da cebola comercializada no pólo de produção do Submédio São Francisco no segundo semestre do ano é a própria ampliação da oferta do produto regional no mercado local, comportamento que perdura até o mês de outubro.
A análise dos custos de produção e beneficiamento da cebola na região do Submédio São Francisco revela, que os gastos dos insumos correspondem a 50,25 % dos custos operacionais totais, sendo a sacaria e a semente melhorada os itens mais onerosos, respondendo, respectivamente, por cerca de 29,50% e 15,17% dos custos dos insumos (Tabela 2). Já os serviços, que correspondem a 49,75% dos custos operacionais totais, têm na irrigação, na colheita e no transplantio as operações que absorvem os maiores custos, uma vez que, no conjunto, são responsáveis por cerca de 67,16% dos gastos com serviços. Analisando-se os insumos por grupo, constata-se que os agroquímicos respondem por 26,61% dos custos operacionais deste segmento, enquanto que os adubos e fertilizantes são responsáveis por 18,21% desses mesmos custos. Já com relação aos serviços, é interessante ressaltar que as operações manuais correspondem a 92,51% desses gastos e a mais de 46,00% dos custos operacionais totais de produção e beneficiamento da cebola explorada na região do Submédio São Francisco (Tabela 2).
Para se ter uma idéia mais precisa da rentabilidade econômica da exploração da cebola no Submédio São Francisco, pode-se adicionar ao total dos custos operacionais de produção e beneficiamento da cebola o custo indireto da exploração de 01 hectare dessa olerácea (Tabela 2). Esse custo, que corresponde ao valor de 10,00% do total dos custos operacionais, cobre os gastos referentes a manutenção do produtor, depreciação dos equipamentos utilizados, impostos e outras taxas. Com a incorporação deste novo item, o custo total aproximado de 01 hectare de cebola na região do Submédio São Francisco fica ao redor de R$ 6.218,74. Considerando que o valor médio anual de comercialização da cebola na região do Submédio São Francisco é de R$ 0,41/kg, e a produtividade média da cebola é 20.000 kg/ha, pode-se admitir que o valor bruto médio da produção em 01 hectare é de é de R$ 8.200,00. Comparando-se esse valor, que corresponde à receita bruta total, com os custos totais de produção por hectare, constata-se que a exploração da cebola no pólo de produção do Submédio São Francisco apresenta resultados economicamente satisfatórios em diversos índices de eficiência econômica (Tabela 3). A relação benefício/custo é de 1,32, situação que indica que para cada R$ 1,00 utilizado no custo total de exploração de 01 hectare de cebola, há um retorno de R$ 1,32. O ponto de nivelamento confirma, também o significativo desempenho econômico da cultura, pois será necessária uma produtividade de apenas 15.168 kg/ha para a receita se igualar aos custos. Este mesmo desempenho pode ser observado no resultado da margem de segurança, que corresponde a - 0,24, condição que revela que para a receita se igualar à despesa a quantidade produzida ou o preço de venda do produto pode cair em até 24%.
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