Embrapa Semi-Árido
Sistemas de Produção, 3
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Nov./2007

Cultivo da Cebola  no Nordeste

Geraldo Milanez de Resende

Nivaldo Duarte Costa

Sumário

 

Socioeconomia

Botânica

Composição química

Clima

Solos e plantio

Cultivares

Nutrição e adubação

Irrigação

Plantas daninhas

Pragas

Doenças

Colheita e pós-colheita

Custos

Referências

Glossário

 

Expediente

Autores

 

 

Socioeconomia

Dentre as várias espécies cultivadas pertencentes ao gênero Allium, a cebola (Allium cepa L.) é a mais importante quanto ao volume de produção e valor econômico.

A globalização da economia mundial e a formação do Mercosul interferiram significativamente no mercado de hortaliças no Brasil, sobretudo o da cebola. As tendências das produções na Argentina e no Brasil evidenciam um mercado competitivo do qual continuarão participando somente os países que tiverem vantagens comparativas e fizerem reconversão nos setores produtivos. Portanto, somente continuará no mercado o produtor que se tecnificar para obter produto de qualidade e se adaptar às mudanças de mercado.

Segundo a Food Agriculture Organization - FAO, em 2004 foram produzidos no mundo 55,15 milhões de toneladas em 3,05 milhões de hectares, resultando em uma produtividade média de 18,1 t/ha (Tabela 1).

O maior produtor mundial de cebola é a China, que no ano de 2004 foi responsável por cerca de 32,7% da produção, sendo, também, o país que apresenta a maior superfície cultivada. Outros países, como a Índia, Rússia e Paquistão, se destacam entre os maiores produtores mundiais, com áreas acima de 100 mil hectares. O Brasil situa - se como o nono maior produtor mundial, com uma área de 57,03 mil ha e uma produção de 1,12 milhão de toneladas, o que proporcionou uma produtividade média de 19,7 t/ha. Em termos de produtividade, entre os países que apresentam as maiores áreas de plantio, sobressaem os Estados Unidos, com maior produtividade média (54,41 t/ha), seguido do Irã, China, Turquia, Brasil e Paquistão (Tabela 1).

Na América do Sul, o Brasil é o maior produtor, seguido pelo Argentina, Colômbia e Peru. Entretanto, as produtividades nacionais obtidas nos últimos anos o posicionam abaixo dos índices de maior expressão registrados para a cultura, que pertencem ao Chile e Peru, com 47,6 e 28,7 t/ha, respectivamente.

Principais países produtores
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Tabela 1. Área, produção e produtividade média da cebola nos principais países produtores, 2004.
Países
Área (ha)
Produção (t)
Produtividade (t/ha)
China
850.600
18.035.000
21,20
Índia
530.000
5.500.000
10,38
Rússia
127.000
1.673.420
13,18
Paquistão
106.000
1.657.900
15,64
Indonésia
779.508
779.508
9,44
Turquia
82.000
1.750.000
21,34
Vietnam
76.000
225.000
2,96
Estados Unidos
67.440
3.669.540
54,41
Brasil
57.036
1.120.680
19,65
Bangladesh
51.799
272.000
5,25
Ucrânia
45.000
520.000
11,56
Iran
45.000
1.450.000
32,22
Mundo
3.049.741
55.153.027
18,08
Fonte: FAO (2005).
 

A cebolicultura no Brasil é uma atividade praticada principalmente por pequenos produtores e a sua importância sócioeconômica se fundamenta não apenas na rentabilidade, mas, na grande demanda de mão-de-obra, contribuindo para a viabilização de pequenas propriedades e a fixação dos produtores na zona rural, reduzindo a migração para as grandes cidades.

No período de 1961 a 2005, a área cultivada com cebola no Brasil passou de 40.890 para 58.388 ha (Tabela 2), o que representa um aumento da ordem de 42,8%. No entanto, em relação à produção, no período de 1940 (48,55 mil t) a 2005 (1,13 milhão de t), registrou-se um incremento de 2.227,5%. Neste período, foi pouca a variação na área cultivada, mas observa-se um grande aumento na produtividade, provavelmente em função dos esforços das instituições de pesquisa, além do interesse das empresas produtoras de sementes.

As regiões Sul e Sudeste são as principais produtoras de cebola no país, respondendo com aproximadamente 82,0 % da produção nacional (Tabela 3), sendo o melhor desempenho apresentado pela região Sul, que respondeu por 59,6% da produção em 2004, todavia, com a menor produtividade média (17,5 t/ha).

Evolução do cultivo de cebola no Brasil
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Tabela 2. Evolução da área plantada, produção e produtividade de cebola no Brasil, 1940/2005.
Anos
Área (ha)
Produção (t)
Produtividade (t/ha)
1940²
-
48.550
-
1950²
-
121.988
-
1961¹
40.890
192.639
4,71
1965¹
46.732
225.496
4,83
1970¹
51.719
284.603
5,50
1975¹
52.258
346,484
6,63
1980¹
67.044
694.585
10,36
1985¹
58.005
639.569
11,03
1990²
74.646
869.067
11,64
1995²
74.676
940.537
12,59
2000²
66.505
1.156.332
17,39
2001²
63.931
1.050.360
16,43
2002²
68.869
1.222.124
17,75
2003²
68.790
1.229.848
17,88
2004²
57.496
1.127.660
19,61
2005²
58.388
1.137.684
19,48
Fonte: ¹ FAO (2005) ²IBGE (2006).

Principais regiões produtoras nacionais
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Tabela 3. Área, produção e produtividade média da cebola nas principais regiões produtoras do Brasil, 2004.
Regiões
Área (ha)
Produção (t)
Produtividade (kg/ha)
Nordeste
10.087
200.538
19,88
Sudeste
8.797
252.242
28,67
Sul
38.612
674.880
17,48
Outras
294
5.260
17,89
Brasil
57.790
1.132.920
19,60
Fonte: IBGE (2006).

Principais estados produtores
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Tabela 4. Área, produção e produtividade da cebola nos principais estados produtores do Brasil, 2004. 
Estados
Área (ha)
Produção (t)
Produtividade (kg/ha)
Santa Catarina
21.417
436.597
20,39
Rio Grande do Sul
11.252
158.086
14,05
São Paulo
6.590
186.120
28,24
Paraná
5.943
80.197
13,49
Bahia
5.877
126.333
21,50
Fonte: IBGE (2006).

Em 2004, Santa Catarina foi o estado líder em área cultivada e produção, com 38,5% do total, seguido, em ordem decrescente, pelo Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia e Paraná (Tabela 4). Quanto à produtividade média nacional, Goiás se destacou com 51,8 t/ha em uma área cultivada de 330 hectares, com uma produção de 17.100 toneladas.

No Nordeste brasileiro, a cebola foi introduzida no final da década de 40. É predominantemente produzida no Vale do São Francisco, onde é cultivada durante o ano todo, com concentração de plantio nos meses de janeiro a março. Em 2004, gerou cerca de 60.000 empregos diretos e indiretos, e movimentou na região cerca de 131,49 milhões de reais, segundo o IBGE. A área plantada está estabilizada em torno de 10.500 ha/ano (Tabela 5), oscilando de acordo com os preços do ano anterior. Nos últimos 45 anos (Tabela 5), houve um incremento na produção, da ordem de aproximadamente, 2335%, em decorrência do aumento da produtividade que praticamente duplicou neste período, em função de trabalhos de pesquisa no manejo da cultura e, principalmente, pelo uso de cultivares desenvolvidas e melhor adaptadas às condições regionais. No entanto, a produtividade média regional, em torno de 20,0 t/ha, apesar de ser superior à média nacional de 19,6 t/ha, é bastante inferior aos 28,0 t/ha da Argentina, o principal concorrente da cebola nordestina nos meses de abril a junho.

Dentre os principais municípios produtores de cebola, destacam-se: Ituporanga, Alfredo Wagner e Aurora, em Santa Catarina, São José do Norte - RS e São José do Rio Pardo - SP, com áreas iguais ou superiores a 1.800 ha. Em 2004, Ituporanga - SC foi o principal produtor do país, com área de 4.800 ha e produção de 120.000 toneladas. Quanto a produtividade média, São José do Rio Pardo - SP se destacou, com 35,0 t/ha (Tabela 6).

Evolução do cultivo de cebola no Nordeste brasileiro
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Tabela 5. Evolução da área plantada, produção e produtividade de cebola no Nordeste brasileiro (Bahia/Pernambuco), 1960/2005.
Anos
Área (ha)
Produção (t)
Produtividade (t/ha)
1960
-
11.661
-
1970
-
27.163
-
1975
-
29.268
-
1980
10.738
111.665
10,40
1985
5.100
44.936
8,81
1990
7.846
102.791
13,10
1995
11.268
155.755
13,82
2000
7.571
123.240
16,28
2001
8.035
170.129
21,17
2002
10.527
223.805
21,26
2003
10.534
242.189
22,99
2004
10.397
205.729
19,79
2005
11.593
219.785
21,21
Fonte: IBGE (2006).

A produção nordestina de cebola se de­sen­volve nas regiões do Baixo e Médio São Francisco, principalmente nos municípios baianos de Casa No­va, Jua­zeiro, Sento Sé, Curaçá, Abaré e Itaguaçu e nos mu­nicípios pernambucanos de Belém de São Francisco, Cabrobó, Floresta, Itacuruba, Lagoa Grande, Orocó, Parnamirim, Petrolândia, Petrolina, Salgueiro, Santa Maria da Boa Vista e Terra Nova. Estes dois estados respondem pela totalidade da área plan­tada no Nordeste brasileiro. As cultivares mais usadas, são principalmente, as liberadas pelo IPA (Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária), além da série Texas Grano e Granex e Alfa Tropical. Entre os principais municípios da região Nordeste, Sento Sé - BA e Cabrobó - PE sobressaem como os maiores produtores, respectivamente, com 2.180 e 1.000 ha cultivados e produtividade média em torno de 18,0 t/ha. No que se refere à produtividade média, o município de América Dourada - BA apresentou os melhores resultados, com 34,0 t/ha, bem superior à média nacional, que foi de 19,6 t/ha.

Principais municípios produtores no Brasil e no Nordeste
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Tabela 6. Área, produção e produtividade média dos principais municípios produtores de cebola do Brasil e do Nordeste, 2004.
Municípios
Área (ha)
Produção (t)
Produtividade (kg/ha)
Brasil
Ituporanga - SC
4.800
120.000
25,00
Alfredo Wagner - SC
3.500
70.000
20,00
São José do Norte - RS
2.000
40.000
20,00
São José do Rio Pardo - SP
1.800
63.000
35,00
Aurora - SC
1.800
45.000
25,00
Imbuia - SC
1.400
35.000
25,00
Monte Alto - SP
1.250
31.250
25,00
Canguçu - RS
1.200
7.200
6,00
Angelina - SC
950
11.400
12,00
Divinolândia - SP
920
24.270
26,38
Nordeste
Sento Sé - BA
2.180
39.240
18,00
Cabrobó - PE
1.000
18.000
18,00
Casa Nova - BA
743
13.374
18,00
Belém do S. Francisco - PE
700
10.500
15,00
João Dourado - BA
500
13.000
26,00
Orocó - PE
400
8.000
20,00
Santa Maria da B. Vista - PE
400
7.200
18,00
Terra Nova - PE
400
8.000
20,00
Juazeiro - BA
384
6.257
16,29
América Dourada - BA
350
11.900
34,00
Fonte: IBGE (2006).
 

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