Embrapa Semi-Árido
Sistemas de Produção, 2
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Julho/2004
Cultivo da Mangueira

Davi José Silva

Clementino Marcos Batista de Faria

Início

 

Socioeconomia

Clima

Manejo do Solo

Cultivares

Propagação

Plantio

Irrigação

Poda

Floração

Plantas Invasoras

Doenças

Pragas

Colheita e pós-colheita

Mercado

Custos e Rentabilidade

Referências bibliográficas

Glossário

 

Expediente

Autores

 

Nutrição, calagem e adubação

Efeito e funções dos nutrientes na cultura

Amostragem e análise de solo

Amostragem e análise de planta

Calagem

Adubação

 

Efeito e funções dos nutrientes na cultura
Topo da Página

Nitrogênio -  O nitrogênio é um dos nutrientes mais importantes para a mangueira e exerce um importante papel na produção e na qualidade dos frutos. Seus efeitos se manifestam principalmente na fase vegetativa da planta e considerando a relação existente entre surtos vegetativos/emissão de gemas florais/frutificação, sua deficiência poderá afetar negativamente a produção. Mangueiras adequadamente nutridas com nitrogênio poderão emitir regularmente brotações que, ao atingirem a maturidade, resultarão em panículas responsáveis pela frutificação. Nitrogênio em excesso pode aumentar a susceptibilidade a desordens fisiológicas, tais como colapso interno, a doenças de pós-colheita, e se for aplicado no momento errado, pode prejudicar o florescimento.  Altos teores de nitrogênio podem, ainda, deixar os frutos verdes, ou manchados de verde, o que diminui o seu valor de mercado.

Fósforo - O fósforo é necessário na divisão e crescimento celular da planta. É especialmente importante no desenvolvimento radicular, comprimento da inflorescência, duração da floração, tamanho da folha e maturação do fruto. Influencia positivamente na coloração da casca, uma característica de grande importância para o mercado consumidor.

Potássio - O potássio exerce um importante papel na fotossíntese e produção de amido, na atividade das enzimas e na resistência da planta a doenças. Ele está estreitamente relacionado com a qualidade dos frutos, em particular cor da casca, aroma, tamanho e brix. Influencia ainda a regulação de água na célula, controlando as perdas de água das folhas através da transpiração. É o nutriente mais importante em termos de produção e qualidade de frutos. No entanto, o excesso desse nutriente pode causar desbalanço nos níveis de cálcio e magnésio, causando ainda, queima nas margens e ápice das folhas velhas.

Cálcio - O cálcio, juntamente com o nitrogênio, é um nutriente exigido em grandes quantidades pela mangueira. O cálcio participa do desenvolvimento celular da planta e dos frutos. Ele influencia na firmeza e na vida de prateleira dos frutos. Baixos níveis de cálcio estão associados com o colapso interno. Os períodos críticos para a absorção de cálcio são durante o fluxo pós-colheita e o desenvolvimento inicial dos frutos. O cálcio é melhor absorvido pelo sistema radicular; aplicações foliares de cálcio não tem sido eficientes, uma vez que ele é praticamente imóvel na planta.

Magnésio - Embora o magnésio não seja exigido em grandes quantidades, sua deficiência poderá provocar redução no desenvolvimento, prematura desfolha e, em decorrência, diminuição da produção. Adubações com altas doses de cálcio e de potássio diminuem a absorção de magnésio, motivo pelo qual deve ser verificada, antecipadamente, a relação potássio/cálcio/magnésio

Boro - O boro é importante para a polinização e desenvolvimento de frutos e essencial para a absorção e uso do cálcio. A deficiência de boro resulta em pobre florescimento e polinização, além de frutos de tamanho reduzido. Os sintomas de deficiência são mais visíveis durante o florescimento, produzindo inflorescências deformadas, brotações de tamanho reduzido, com folhas pequenas e coriáceas. Poderá ocorrer ainda redução significativa em termos de produção, uma vez que a gema terminal poderá morrer ou então, baixa germinação do grão de pólen e o não desenvolvimento do tubo polínico. A morte de gemas terminais resulta na perda da dominação apical, induzindo assim a emissão de grande número de brotos vegetativos, originados das gemas axilares dos ramos principais. Deve-se tomar extremo cuidado com as quantidades de boro aplicadas, uma vez que o limite entre deficiência e toxicidade é muito próximo. A toxidez de boro causa queima das margens e queda das folhas.

Zinco - Plantas deficientes em zinco apresentam encurtamento dos entrenós, além do limbo foliar aumentar sua espessura e ficar quebradiço. Os distúrbios denominados malformação floral ou “Embonecamento” e malformação vegetativa ou “Vassoura de Bruxa” podem, em parte, serem confundidos com a deficiência de zinco, uma vez que as plantas emitem panículas pequenas, de forma irregular, múltiplas e deformadas.

Amostragem e análise de solo 
Topo da Página

O resultado da análise química do solo é essencial na recomendação de adubação, no entanto, é necessário que se faça uma amostragem de solo criteriosa, de modo que represente as condições reais do campo.

Inicialmente, procede-se a divisão da área da propriedade, levando-se em conta a topografia, vegetação, cor e a textura do solo e o uso (virgem ou cultivado). Para cada subárea, coletar, ao acaso, vinte amostras simples a uma profundidade de 0 - 20 cm e outras vinte a uma profundidade de 20 - 40 cm, colocando a terra em duas vasilhas limpas. Misturar toda terra coletada de cada profundidade e, da mistura, retirar uma amostra composta com aproximadamente 0,5 kg de solo e colocá-la num saco plástico limpo ou numa caixinha de papelão. Identificar essas duas amostras e enviá-las para um laboratório. Nunca coletar amostra em locais de formigueiro, monturo, coivara ou próximos a currais. Antes da coleta, limpar a superfície do terreno, caso tenha mato ou resto vegetal.

A amostragem em pomares implantados também deve ser feita aleatoriamente em pelo menos 20 pontos (20 amostras simples formando uma amostra composta) por área uniforme, na projeção da copa das árvores, evitando a coleta em faixas de terra recém adubadas. Deve-se fazer a amostragem após a colheita e antes de efetuar a adubação de base, no local onde será realizadas a calagem e a adubação. Normalmente se tem retirado as amostras à profundidade de 0 – 20 e 20 – 40 cm.

Amostragem e análise de planta
Topo da Página

A análise mineral de planta é outra informação importante para se fazer a recomendação de adubação, mas para isso, é necessária uma amostragem adequada. Deve-se separar talhões ou conjunto de talhões (não ultrapassar 10 ha) com a mesma idade, variedade e produtividade, em áreas de solos homogêneos. Manter o mesmo agrupamento usado na amostragem de solo. Escolher para a coleta apenas as folhas inteiras e sadias. As folhas devem ser coletadas na parte mediana da copa, nos quatro pontos cardeais, em ramos normais e recém-maduros. Coletar as folhas na parte mediana do penúltimo fluxo do ramo ou do fluxo terminal, com, pelo menos, quatro meses de idade. Retirar quatro folhas por planta, em 20 plantas selecionadas ao acaso e colocá-las em saco de papel.

Realizar a coleta antes da aplicação de nitratos ou outro fertilizante foliar para a quebra de dormência das gemas florais.  Não amostrar plantas que tenham sido adubadas, pulverizadas ou após períodos intensos de chuvas. Após a coleta, deve-se acondicionar as amostras em sacos de papel, identificando-as e enviando-as, imediatamente, para um laboratório. Se isto não for possível armazená-las em ambiente refrigerado. Realizar amostragem de folhas anualmente, pois os teores foliares de N, condicionam as doses de fertilizantes nitrogenados a serem aplicadas.

Calagem 
Topo da Página

A calagem tem a finalidade de corrigir a acidez do solo, elevando o pH e neutralizando os efeitos tóxicos do alumínio e manganês, concorrendo assim, para que haja um melhor aproveitamento dos nutrientes pelas culturas. Além da correção da acidez, a calagem eleva os teores de cálcio e magnésio do solo, porque o calcário, que é o corretivo normalmente usado, contém teores altos desses nutrientes.

A mangueira é uma cultura das mais exigentes em cálcio, pois possui quase sempre o dobro desse nutriente nas folhas em relação ao nitrogênio, o qual é o nutriente predominante nas folhas da maioria das espécies cultivadas. Também são freqüentes no campo os sintomas de deficiência de magnésio, considerado o quarto nutriente mais importante para a mangueira. Em solos ácidos os problemas de deficiência de Mg são facilmente corrigidos mediante a aplicação de calcário dolomítico, que é uma fonte eficiente e a mais econômica do nutriente. Entretanto, em solos alcalinos a deficiência de Mg só é corrigida pela aplicação de sais solúveis de Mg, como sulfato, cloreto ou nitrato, os quais normalmente têm custo elevado, principalmente quando comparados com o calcário dolomítico. Em pomares corrigidos com calcário ou naqueles em que o pH elevado não permite a utilização de calcário, a concentração de cálcio nas folhas pode ficar abaixo do nível crítico, predispondo as plantas a distúrbios fisiológicos, como o colapso interno (soft nose). Uma fonte alternativa de cálcio é o gesso ou o fosfogesso. Nestas situações o gesso é um material que vem sendo usado para aumentar os teores de cálcio, sem alterar o pH do solo. Existem também, os produtos quelatizados com ácidos orgânicos (polihidroxicarboxílicos) como fonte de cálcio.

A calagem deverá promover a elevação da saturação por bases (V) a 80% e/ou o teor de Ca2+ a 2 cmolc dm-3 e o de Mg2+ a 0,8 cmolc dm-3. A quantidade dos corretivos deve ser determinada pelo técnico especialista, com base nos resultados da análise de solo.

Adubação
Topo da Página

O manejo de adubação da mangueira envolve três fases: 1) adubação de plantio; 2) adubação de formação; e 3) adubação de produção.

Adubação de plantio - Depende, essencialmente, da análise do solo. Os fertilizantes minerais e orgânicos são colocados na cova e misturados com a terra da própria cova, antes de se fazer o transplantio das mudas (Tabela 1).

Adubação de formação - As adubações minerais devem ser iniciadas a partir de 50 a 60 dias após o plantio, distribuindo-se os fertilizantes na área correspondente a projeção da copa, mantendo-se uma distância mínima de 20 cm do tronco da planta (Tabela 1).

Adubação de produção - A partir de três anos ou quando as plantas entrarem em produção, os fertilizantes deverão ser aplicados em sulcos, abertos ao lado da planta. A cada ano, o lado adubado deve ser alternado. A localização destes sulcos deve ser limitada pela projeção da copa e pelo bulbo molhado, por ser esta a região com maior concentração de raízes (Tabela 2). Após a colheita, se aplica 50% do nitrogênio, 100% de fósforo e 25% do potássio. Antes da indução, se aplica 20% do pottássio. Na floração, se aplica  15% do potássio. Após pegamento dos frutos, se aplica 30% do nitrogênio e 15% do potássio. Cinquenta dias após o pegamento dos frutos, se aplica 20% do nitrogênio e 15% do potássio.

Adubação orgânica - Aplicar 20 a 30 L de esterco por cova no plantio, pelo menos uma vez por ano.

Adubação com micronutrientes - As deficiências mais comuns de micronutrientes que ocorrem na mangueira são de zinco e boro. A correção dessas deficiências poderá ser realizada por meio da aplicação de fertilizantes ao solo ou via foliar, em função dos resultados de análise foliar e de solo.

Fornecimento de cálcio - Considerando a elevada exigência da mangueira em cálcio, recomenda-se associar a calagem com a aplicação de gesso na superfície, sem incorporação, após a calagem e antes da adubação.

Tabela 1. Quantidades de N, P2O5 e K2O indicadas para a adubação de plantio e formação da mangueira irrigada no semi-árido.

Adubação1

N

g/cova

P solo, mg dm-3

K solo, mmolc dm-3

<10

10-20

21-40

> 40

<1,6

1,6-3,0

3,1-4,5

>4,5

P2O5, g/cova

K2O, g/cova

Plantio

-

250

150

120

80

-

-

-

-

Formação

· 0-12 meses

150

-

-

-

-

80

60

40

20

· 13-24 meses

210

160

120

80

40

120

100

80

60

· 25-30 meses

1502

-

-

-

-

80

60

40

20

1. Adicionar como fonte de P o superfosfato simples, ou como de N o sulfato de amônio, com o objetivo de se fornecer S às plantas.
2. Antes de aplicar nitrogênio neste período, realizar análise foliar, principalmente se for fazer a indução floral entre 30 e 36 meses
.


Tabela 2. Quantidades de N, P2O5 e K2O indicadas para a adubação produção da mangueira em função da produtividade e da disponibilidade de nutrientes

Produtivi-dade esperada

N nas  folhas, g kg-1

P solo, mg dm-3

K solo, mmolc dm-3

< 12

12-14

14-16

>16

<10

10-20

21-40

> 40

<1,6

1,6-3,0

3,1-4,5

>4,5

t/ha

N, kg/ha

      P2O5 , kg/ha

K2O, kg/ha

< 10

30

20

10

0

20

15

8

0

30

20

10

0

10 - 15

45

30

15

0

30

20

10

0

50

30

15

0

15 - 20

60

40

20

0

45

30

15

0

80

40

20

0

20 - 30

75

50

25

0

65

45

20

0

120

60

30

0

30 - 40

90

60

30

0

85

60

30

0

160

80

45

0

40 - 50

105

70

35

0

110

75

40

0

200

120

60

0

> 50

120

80

40

0

150

100

50

0

250

150

75

0

1. Usar como fonte de P o superfosfato simples no sentido de disponibilizar maior quantidade de cálcio para as plantas, o que também poderia ser conseguido com a aplicação de nitrato de cálcio na fase de quebra de dormência das gemas florais.

 

 

Copyright © 2004, Embrapa
Topo da Página