Embrapa Semi-Árido
Sistemas de Produção, 2
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Julho/2004
Cultivo da Mangueira

Antônio Heriberto de C. Teixeira

José Moacir P. Lima Filho

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Autores

 

Clima

Um dos maiores problemas das regiões semi-áridas é a irregularidade das chuvas, aliada à ocorrência de temperaturas elevadas, ocasionando grandes taxas de deficiência hídrica. O clima da região que compreende o pólo Petrolina-PE/Juazeiro-BA é do tipo BSwh’, segundo a classificação de Köeppen. Abaixo são apresentados os parâmetros climáticos considerados importantes para o cultivo comercial da cultura da mangueira.

radiação solar

Temperatura do ar

Umidade do ar

Velocidade do vento

Precipitação pluviométrica

Potencial climático da região do submédio São Francisco

 

Radiação solar

A radiação solar absorvida pela cultura da mangueira, interfere no seu ciclo vegetativo e no período de desenvolvimento do fruto, sendo de grande importância para o crescimento, floração e frutificação, daí a importância do manejo cultural, principalmente, em plantios muito adensados. Em decorrência do hábito de crescimento vigoroso da árvore, existe, geralmente, uma porcentagem relativamente alta de folhas sombreadas, em comparação com folhas ensolaradas. Dessa forma, grande parte das folhas localizadas no interior da copa recebe baixos níveis de luz, diminuindo a disponibilidade de carboidratos provocando, consequentemente, reduções no crescimento e produção. Uma maior penetração da luz na copa, como resultado da realização da poda, pode provocar um aumento significativo na produção e melhoria na coloração dos frutos. Uma maior intensidade de radiação solar incidente promove maiores teores de açúcar e de ácido ascórbico nos frutos. O aumento da quantidade desse ácido tem sido observado em frutos de várias espécies vegetais, expostos diretamente à luz do Sol, durante os estágios de desenvolvimento, e em plantas que crescem sob altas intensidades de radiação solar.

Temperatura do ar

A temperatura do ar atua no processo de evapotranspiração, devido ao fato de que a radiação solar absorvida pela atmosfera e o calor emitido pela superfície cultivada, elevam a temperatura do ar. O ar aquecido próximo às plantas, transfere energia para a cultura na forma de fluxo de calor sensível, aumentando as taxas evapotranspiratórias. Além disso, a temperatura interfere na atividade fotossintética das plantas, por que este fenômeno envolve reações bioquímicas, cujos catalisadores, as enzimas, são dependentes da temperatura para expressar sua atividade máxima. A faixa de temperatura considerada ideal para o cultivo da mangueira situa-se entre 24ºC a 30ºC, sendo que valores acima de 48ºC limitam a produção. Valores baixos também são limitantes e quando próximos a 0ºC por poucas horas, provocam danos severos ou morte das plantas. A distribuição de matéria seca na mangueira é também influenciada pela temperatura. A partição de matéria seca para as raízes é maior sob condições de baixa temperatura, resultando na redução do crescimento da parte aérea. Com o aumento da temperatura, a parte aérea é mais favorecida, culminando em maior crescimento dos ramos e das folhas. A temperatura  influencia de forma significativa a seqüência do desenvolvimento das gemas da mangueira. Na região do Vale do Rio São Francisco, tem sido observado que temperaturas dia/noite de 30oC/25oC, estimulam o crescimento vegetativo, enquanto a combinação 28oC/18oC, que ocorre com mais freqüência entre os meses de maio a agosto promove intensa floração. A frutificação e o pegamento dos frutos também são afetados pela temperatura. Temperaturas  muito baixas ou elevadas prejudicam a formação do grão de pólen, reduzindo sua viabilidade, alem de provocar,  altas taxas de partenocarpia (frutos que se desenvolvem sem o embrião), originando frutos pequenos e sem valor comercial.

De maneira geral, não havendo excesso de precipitação pluvial, quanto mais elevada for a temperatura da região, dentro dos limites críticos de cultivo, maior será a concentração de açúcar e menor a acidez  nos frutos, favorecendo a qualidade. 

Umidade do ar

A umidade do ar durante o ciclo da cultura da mangueira é muito importante, por favorecer o surgimento de doenças fúngicas. Quando altos valores de umidade relativa estão associados a temperaturas elevadas, ocorre uma maior incidência dessas doenças, provocando danos econômicos, podendo, inclusive, inviabilizar a produção comercial de frutos. A concentração de vapor d’água da atmosfera também condiciona a perda de água pelas plantas e consequentemente, o processo de evapotranspiração. A diferença entre a pressão do vapor d’água, entre a cultura e o ar vizinho, é um fator determinante para esse processo. Assim, cultivos bem irrigados em regiões semi-áridas, como no caso do Submédio São Francisco, consomem grandes quantidades de água, em virtude da abundância de energia solar e do poder dissecante da atmosfera. Em regiões úmidas, a elevada umidade do ar reduz a demanda evapotranspiratória. Em tais circunstâncias, o ar encontra-se próximo ao ponto de saturação, causando, portanto, um menor consumo hídrico da cultura do que nas regiões áridas. 

Velocidade do vento

Existem poucos estudos com relação ao efeito do vento sobre o comportamento da mangueira no Vale do Rio São Francisco, existindo divergências quanto ao efeito sobre o crescimento das plantas, produção e da importância da utilização de quebra ventos. A velocidade do vento é outro parâmetro importante no processo de evapotranspiração. A remoção do vapor d’água depende, em grande parte, do vento e da turbulência do ar. Nesse processo, o ar acima da cultura vai se tornando gradativamente saturado com vapor d’água e se não há reposição de ar seco, a evapotranspiração da cultura decresce.

Precipitação pluviométrica

Em termos de exigências hídricas, a mangueira é muito resistente à seca, graças ao seu sistema radicular que é capaz de atingir grandes profundidades, sobrevivendo até 8 meses sem chuvas, nas regiões onde não é irrigada. As regiões de cultivo incluem áreas onde a ocorrência de baixas precipitações e alta demanda evapotranspiratória, impõem o fornecimento de água através da irrigação. Nessas condições, mesmo irrigada, a mangueira sofre um certo grau de estresse hídrico. O excesso de chuvas, por outro lado, combinado com temperaturas elevadas, torna a cultura muito suscetível a doenças fúngicas e pragas, sendo conveniente que não ocorram precipitações durante todo o período vegetativo. A cultura porém apresenta tolerância à iinundação. Um período seco precedendo o florescimento favorece a produção, porém, a cultura requer umidade edáfica  do início da frutificação à maturação, o que também influencia na promoção de novo crescimento vegetativo. Portanto, em regiões com baixas taxas de precipitações pluviométricas é recomendável a irrigação com base nos requerimentos de água da cultura. 

Potencial climático da região do submédio São Francisco

Nas Figuras 1 a 5 é apresentado o comportamento climático do pólo produtor de manga Petrolina-Juazeiro.  Os maiores valores de radiação solar global são registrados no mês de outubro, com  528 cal/cm2/dia e 495 cal/cm2/dia para Petrolina e Juazeiro, respectivamente. Os menores valores são registrados no mês de junho, com 363 cal/cm2/dia e 351 cal/cm2/dia em Petrolina e Juazeiro, respectivamente (Fig. 1). 

Com relação à temperatura do ar, em Petrolina, as normais mensais apresentam variações médias de 24,2ºC a 28,2ºC e em Juazeiro de 24,5ºC a 28,6ºC. Constata-se uma pequena variabilidade interanual, devida à proximidade da região em relação ao equador terrestre,  sendo julho o mês mais frio e  novembro o mês mais quente do ano (Fig. 2).Os meses mais úmidos correspondem àqueles do período chuvoso. Nesse período, em Petrolina a umidade relativa do ar varia em média de 66% a 71,5% e em Juazeiro de 61% a 65%.  Menores valores acontecem nos meses de setembro e outubro, abaixo de 55% em Petrolina e de 51,5% em Juazeiro, coincidindo com os meses mais quentes do ano. Nestes locais o mês mais úmido é o de abril que corresponde ao fim do período chuvoso e, o mais seco é o de outubro, correspondendo ao final do período seco (Fig. 3).A Figura 4 mostra o comportamento médio anual da velocidade do vento a 2,0 m de altura em relação à superfície do solo. Os valores mais elevados ocorrem no período seco, entre os meses de agosto a outubro, chegando a 256 km/dia em Petrolina e 300 km/dia em Juazeiro, no mês de setembro. Os menores valores ocorrem no período chuvoso apresentando valores médios de 139 km/dia e 164,3 km/dia respectivamente em Petrolina e Juazeiro. 

A precipitação pluvial, apresentada na Figura 5, é o elemento meteorológico de maior variabilidade espacial e temporal. Nos últimos 30 anos, em Petrolina, o total anual médio é da ordem de 567 mm, enquanto que em Juazeiro é de 542 mm . O período chuvoso concentra-se entre os meses de novembro e abril, com 90% do total anual. A quadra chuvosa, de janeiro a abril, contribui com 68% do total anual, destacando-se o mês de março e o de agosto como o mais e o menos  chuvoso,  com totais médios de 136,2 mm e 4,8 mm, respectivamente, em Petrolina e de 139,6 mm e 1,7 mm   em Juazeiro.

   
Fig. 1. Radiação solar global em Bebedouro - Petrolina-PE(Rbeb) e Mandacaru - Juazeiro-BA (Rmand).

 
Fig. 2. Temperatura média do ar em Bebedouro - Petrolina-PE (Rbeb) e Mandacaru - Juazeiro-BA (Rmand).

 
Fig. 3. Umidade relativa média do ar em Bebedouro - Petrolina-PE (Rbeb) (URbeb) e Mandacaru - Juazeiro-BA (URmand).

 
Fig. 4. Velocidade média do vento  (2m) em Bebedouro - Petrolina-PE (Vbeb) e Mandacaru - Juazeiro-BA (Vmand)

   
Fig. 5. Precipitação pluviométrica em Bebedouro (Pbeb) e Mandacaru (Pmand).

 

 

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