Embrapa Semi-Árido
Sistemas de Produção, 2
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Julho/2004
Cultivo da Mangueira

Selma Cavalcanti Cruz de Holanda Tavares

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Referências bibliográficas

Glossário

 

Expediente

Autores

 

Manejo integrado de doenças

No controle das doenças que ocorrem na cultura da mangueira, normalmente são observados o uso abusivo de agrotóxicos e a agressividade crescente dos patógenos. Contudo, a pesquisa tem investido no desenvolvimento de métodos e processos alternativos que asseguram o cultivo com menor impacto ambiental. Assim, visando contribuir para uma mangicultura mais racional e estável,  órgãos competentes como a FAO, estabeleceram o programa de Produção Integrada de Frutas- PIF, para todos os países exportadores. Para a cultura da manga, o programa teve início na região semi-árida no Nordeste do Brasil, onde os pomares estão sendo monitorados quanto a fitossanidade, adubação,  irrigação e a outros manejos. A seguir, será descrita a  metodologia de monitoramento para as principais doenças incluídas na PIF.

Metodologia de monitoramento de doenças da mangueira

Morte descendente ou podridão seca da mangueira

Oídio (Oidium mangiferae)

Malformação floral (embonecamento) e vegetativa

Antracnose (Colletotrichum gloeosporides )

Mancha de alternaria

Mancha angular

Seca-da-mangueira ou mal-do-recife

 

Metodologia de monitoramento de doenças da mangueira

A metodologia requer o acompanhamento periódico, no monitoramento de doenças, através de amostragem para detecção do objeto alvo. A amostragem deve traduzir a realidade fitossanitária da área monitorada, e deve ser feita de forma casualizada, e no percurso em ziguezague. É quantificada apenas a incidência da doença, ou seja, a presença  dos sintomas. A planta amostrada é dividida em quatro partes, chamadas quadrantes, nas quais são avaliados seus órgãos (ramos, folhas, flores e frutos) (Fig. 1). A determinação do nível de infecção, caracterizado como nível de ação, quando atingido, indica o momento para uma ação corretiva ou de controle. Os níveis de ação determinados na metodologia, foram baseados em resultados de pesquisas e observações no acompanhamento da severidade de doenças nas condições de manejo da cultura, na região semi-árida. Traçam, portanto, uma realidade local, podendo ser alterado, ajustado ou adaptado, quando no uso ou na aplicação desta metodologia em outras regiões. Independente da doença que está sendo avaliada ou monitorada, foi padronizado o número a ser amostrado de cada órgão, afim de tornar a metodologia mais prática. Em cada planta e órgão amostrado são realizadas todas as avaliações de sintomas, para todas as doenças incluídas no monitoramento ou na PIF.

Fig. 1.  Esquema de divisão da planta amostrada em quadrantes

Morte descendente ou podridão seca da mangueira
(Botryodyplodia theobromae = Lasiodiplodia theobromae)

Sintomatologia, danos e importância econômica

A sintomatologia pode iniciar nos ponteiros da copa, principalmente na panícula da frutificação anterior, progredindo para os ramos, atingindo as gemas vegetativas, que reagem com a produção de exsudados gomosos de coloração clara a escura. Observa-se também, morte de ramos com folhas de coloração palha e com pecíolo necrosado. A penetração nas folhas também pode ocorrer através das  bordas, causando necrose de cor palha com halo escuro. Nos ramos podados e sem proteção, a podridão acontece iniciando pelo ferimento, avançando de forma progressiva e contínua, podendo, também,  se observar necrose e abortamento de flores e de frutos.. Nos ramos mais grossos e no tronco, a infecção acontece de fora para dentro do lenho, iniciando nas rachaduras naturais do tronco e das bifurcações e sob o córtex, onde são observadas lesões escuras, que progridem para o interior do lenho, causando anelamento do órgão afetado, sobrevindo a morte da planta.

Monitoramento na produção integrada de frutas - PIF

Métodos de amostragem

Amostrar: 10 plantas em até 5 ha ; 14 plantas em 06 a 10 ha e 18 plantas em 11 a 15 ha.

Freqüência: semanal (da poda até a colheita).

Folhas: avaliar a presença de sintomas (secamento de folhas iniciando nas bordas e com escurecimento de seu pecíolo), em folhas de oito ramos por planta, sendo dois por quadrante, fazendo uma observação de cinco folhas da parte apical de um ramo e de cinco folhas da parte mediana do outro ramo.

Ramos: avaliar a presença de sintomas (escurecimento e exsudações em gemas ou em rachaduras do ramo) em oito ramos por planta, sendo dois por quadrante, fazendo observações em uma gema de brotação apical de um ramo e de uma gema de brotação da parte mediana do outro ramo, como,  também, ao longo destes.

Inflorescências: avaliar a presença ou ausência de sintomas (panículas com flores e totalmente secas e/ou panículas com alguma queda de flores e com secamento apical de sua raque) em oito inflorescências, sendo duas por quadrante.

Frutos: avaliar a presença ou ausência de sintomas (escurecimento peduncular e/ou basal de aparência seca ou com amolecimento) em oito frutos por planta, sendo dois por quadrante e em panículas distintas.

Avaliação: cálculo da % de ocorrência em folhas, ramos, inflorescências, frutos, bifurcações e tronco

Nível de ação

Medidas preventivas: tratamento periódico (anual) de troncos e bifurcações; eliminação de restos da cultura no chão do pomar a cada poda.

Medidas reparadoras: > 10% de folhas com sintomas ou > 5% de ramos, ou  inflorescências e frutos com sintomas. Também, > 05% de bifurcações e > 10% de tronco com sintoma.

Controle

Através de levantamentos da predisponibilidade da planta ao fungo na região e estudos de proteção e controle realizados pela Embrapa Semi-Árido, verificou-se que os cuidados com a sanidade do pomar em relação a esse fungo necessitam ser preventivos e em conjunto. Para tanto, os mangicultores da região precisariam implantar, em seu calendário de rotina, as práticas integradas listadas a seguir, que incluem medidas culturais, químicas e de monitoramento:

Medidas culturais

  • estabelecer as podas de limpeza após a colheita, eliminando-se os ponteiros ou panículas da produção anterior;
  • podar e eliminar, sistematicamente, os ramos e ponteiros necrosados ou secos que possam favorecer a sobrevivência do fungo no pomar;
  • proteger as áreas podadas, pincelando com thiabendazole ou benomyl, a fim de evitar novas infecções;
  • desinfestar as ferramentas de poda, com uma solução de hipoclorito de sódio (água sanitária) diluída em água corrente na proporção de 1:3;
  • eliminar todas as plantas mortas ou que apresentam a doença em estádio avançado, a fim de reduzir o potencial de inóculo no campo;
  • não deixar no chão materiais vegetais de mangueira, ainda que sadios, uma vez que estes podem ser parasitados pelo fungo;
  • adubar adequadamente o pomar, no que se refere aos macronutrientes (N, P, K, Ca, Mg), com ênfase em Ca e Mg, e aos micronutrientes, com ênfase em Zn, desde a implantação do pomar;
  • irrigar adequadamente o pomar, evitando a distribuição insuficiente da água e a molhação do tronco das plantas;
  • evitar submeter a planta a estresse hídrico ou nutricional prolongado;
  • controlar os insetos que possam causar ferimentos às plantas, que serão porta de entrada para o fungo;
  • ter cuidado no uso de retardantes  de crescimentos e de indutores de floração, utilizando dosagens baixas, uma vez que estes vêm favorecendo a penetração do fungo, principalmente, quando em concentrações altas, devido a algumas queimas que causam no tecido vegetal.

Controle químico

  • As pulverizações com thiabendazole (240 ml/100L) ou benomyl (100g/100L), nos períodos críticos da cultura, ou seja, na poda, estresse hídrico, indução floral, floração e frutificação, devem ser  acompanhadas de uma aplicação de iprodione após dez dias (200g/100L) a  fim de evitar resistência do fungo. Esse tratamento tem oferecido bons resultados nas áreas irrigadas do Nordeste;
  • em pomares com o problema já instalado, a freqüência de pulverizações varia conforme a incidência da doença;
  • tronco e bifurcações da planta devem ser pincelados com thiabendazole ou benomyl + um espalhante adesivo a partir de dois anos de idade da planta ou antes do aparecimento de rachaduras.

Tratamento pós-colheita

  • tratamento hidrotérmico à temperatura de 58oC por 60 minutos, realizado para frutos para exportação, utilizado para mosca-das-frutas, tem sido satisfatório no combate à podridão basal e à antracnose;
  • a imersão em suspensão fungicida com thiabendazole, na concentração de 0,1%, oferece proteção por algum tempo;
  • pincelamento no corte do pedúnculo, por ocasião da colheita, com thiabendazole na concentração de 1%, também oferece proteção por algum tempo.
Fotos: Embrapa Semi-Árido

Fig. 2. Sintoma de morte descendente em folhas tronco e frutos.

 

Oídio (Oidium mangiferae)

Sintomatologia, danos e importância econômica

A sintomatologia do oídio em planta adulta é caracterizada pela presença das estruturas do fungo (micélio, conidióforo e conídio) sobre a superfície vegetal, visível a olho nu, na forma de intenso crescimento pulverulento de cor branca que, em seguida, deixa a área afetada com aspecto ferruginoso. Os sintomas são observados em folhas, inflorescências, ramos e em  frutos novos.

Monitoramento na produção integrada de frutas - PIF

Método de amostragem

Amostrar: 10 plantas em até 5 ha ; 14 plantas em 06 a 10 ha e 18 plantas em 11 a 15 ha.

Freqüência: semanal, durante todo o ciclo da planta.

Folhas: avaliar as cinco primeiras folhas do último fluxo de oito ramos de cada planta, sendo dois por quadrante, considerando presença ou ausência de sintomas (crescimento pulverulento de cor esbranquiçada no pecíolo e invadindo para a superfície da folha).

Inflorescências: oito panículas por planta, sendo duas por quadrante, avaliando a presença ou ausência de sintomas (crescimento pulverulento de cor esbranquiçada sobre as flores, provocando sua queima).

Avaliação: cálculo da % de ocorrência em folhas e inflorescências.

Nível de ação

Medidas preventivas: Inspeções de 2 a 3 vezes por semana em toda a área, quando o período de floração ocorrer no  2º semestre.

Medidas reparadoras: > 10% de folhas com sintomas, estando a planta sem flores ou > 5% estando a planta com flores ou frutos; será < 5% quando inflorescências apresentarem sintomas.

Controle

  • Resultados positivos vêm sendo obtidos nos tratamentos com enxofre, na concentração de 0,2%, intercalados com produtos sistêmicos como tebucunazole a 0,05% e triadimenol a 0,1%, com intervalos de quinze dias. Devem ser efetuadas quatro pulverizações, sendo duas antes da abertura das flores e duas na formação dos frutos, evitando-se a aplicação nas horas mais quentes do dia, pois pela manhã, período mais fresco, há uma melhor retenção dos produtos aplicados na planta;
  • outros fungicidas, como benomyl e mancozeb, utilizados no controle de outras doenças, como podridão seca da mangueira e antracnose, também têm efeito positivo sobre o oídio. Sugere-se, portanto, uma estratégia comum de controle quando essas doenças estão simultaneamente envolvidas;
  • outros oidicidas sistêmicos, como fenarimol e pyrazophos, bastante utilizados na região, têm uma eficiência mais evidenciada quando alternados e intercalados com produtos de contato, como o enxofre;
  • a alternância de produtos é recomendada para evitar a seleção de estirpes do fungo resistentes aos oidicidas.
Foto: Embrapa Semi-Árido
Fig. 3. Sintoma de Oídio em folhas e inflorescências de mangueira.

 

Malformação floral (embonecamento) e vegetativa
(Fusarium subglutinans)

Sintomatologia, danos e importância econômica

Plantas infectadas com a estirpe do fungo da malformação, podem apresentar ou não sintomas. O fungo afeta as inflorescências e as brotações vegetativas da mangueira, aumentando os níveis endógenos das substâncias reguladoras do crescimento, principalmente as giberelinas; este desequilíbrio determina o desenvolvimento de brotações florais e vegetativas malformadas. O sintoma característico é a inflorescência compacta, formada pela massa de flores estéreis, com eixo primário mais curto e ramificações secundárias da panícula.. A inflorescência apresenta, inicialmente, um crescimento vigoroso, para, em seguida, murchar, convergindo-se numa massa negra, que permanece nas plantas por longo tempo. A malformação vegetativa pode ser observada em planta adulta, porém é mais freqüente em mudas no viveiro, e é caracterizada pelo superbrotamento das gemas terminais e  axilares.

Monitoramento na produção integrada de frutas - PIF

Método de amostragem

Amostrar: 10 plantas em até 5 ha ; 14 plantas em 06 a 10 ha e 18 plantas em 11 a 15 ha.

Freqüência: duas avaliações por ciclo da cultura, sendo a primeira após a poda e a segunda na fase de florescimento.

Brotações: avaliar a presença ou ausência de sintomas (superbrotamento) em brotações ou gemas de oito ramos por planta, sendo dois por quadrante, fazendo observação em uma brotação na parte apical de um ramo e em uma brotação na parte mediana do outro ramo.

Inflorescências: avaliar a presença ou ausência de sintomas (embonecamento floral) em oito inflorescências por planta, sendo duas por quadrante.

Avaliação: cálculo da % de ocorrência em brotações e inflorescências

Nível de ação

  • 5% de brotações ou de inflorescências com sintomas.

Controle

Os resultados positivos no controle são observados quando são adotadas medidas em conjunto (controle integrado). Assim, o controle químico isolado não resolve o problema.

  • proceder vistoria periódica do pomar, principalmente nos casos de emergência de panícula sob temperaturas amenas; em viveiro, vistoriar as brotações vegetativas, observando as gemas;
  • não usar, na formação de mudas, porta-enxertos infectados,  borbulhas ou garfos de plantas que apresentem ou já apresentaram sintomas da doença;
  • queimar  mudas que apresentem sintomas de malformação vegetativa, uma vez que estas têm potencial para, quando adultas, desenvolver sintomas de malformação floral;
  • evitar a aquisição de mudas malformadas e/ou provenientes de viveiros e regiões onde ocorra a doença. Em plantas adultas, podar e destruir os ramos que apresentem sintomas da malformação. No caso de reincidência dos sintomas, fazer uma poda drástica. A cada estrutura ou órgão podado, deve-se fazer a desinfestação dos instrumentos de poda, através da imersão em água sanitária diluída em água, na proporção de 1:3, protegendo-se as áreas podadas da planta com benomyl e cobre.

Controle químico

O controle  de ácaros é aconselhável nos períodos de pré-floração, com produtos à base de enxofre molhável e quinomethionate. A aplicação de ácido naftaleno-acético a 200 ppm antes da diferenciação floral, em cobertura total, tem apresentado sucesso na inibição à malformação ou no equilíbrio das substâncias reguladoras do crescimento. Pulverizações com benomyl ou com outros produtos destinados ao controle de outras doenças, como oídio e podridão seca, podem diminuir as causas da malformação.

Variedade resistente

Com relação à resistência varietal entre as variedades de maior aceitação comercial, a variedade Haden apresenta tolerância  à malformação floral, enquanto que a Tommy Atkins é a mais suscetível.

Fotos: Embrapa Semi-Árido

Fig. 4. Sintomas de malformação vegetativa e floral, da mangueira.

 

Antracnose (Colletotrichum gloeosporides )

Sintomatologia, danos e importância econômica

A antracnose ocorre em ramos, folhas, frutos e inflorescências. Os frutos podem apresentar manchas ou lesões escuras um pouco deprimidas por toda o sua superfície, desde o pedúnculo, e com aspecto úmido. A casca pode se romper e os frutos infectados chegam ao mercado, geralmente apodrecidos. Quando ocorre em frutos novos, estes podem cair prematuramente ou pode o fungo permanecer em latência até que amadureçam.

As flores afetadas enegrecem e secam o pedúnculo, prejudicando a frutificação em toda a panícula. Na ráquis da inflorescência e suas ramificações, aparecem manchas de coloração marrom escura, profundas e secas, alongadas no sentido longitudinal, destruindo grande número de flores. As folhas podem ser afetadas, ficando manchadas de marrom, de forma oval ou irregular e tamanho variável. As lesões aparecem no ápice, margem ou centro da folha, podendo esta se romper quando a  incidência da doença é muito alta.

Monitoramento na produção integrada de frutas - PIF

Método de amostragem

Amostrar: 10 plantas em até 5 ha; 14 plantas em 06 a 10 ha e 18 plantas em 11 a 15 ha.

Freqüência: semanal (da poda até a colheita)

Folhas: avaliar a presença ou ausência de sintomas (manchas necróticas irregulares ou circulares de tamanho variado) em folhas de oito ramos por planta, sendo dois por quadrante, fazendo uma observação de cinco folhas da parte apical de um ramo e de cinco folhas da parte mediana do outro ramo.

Inflorescências: avaliar a presença ou ausência de sintomas (necroses nas flores e engaço ou raquis, de coloração escura e salteadas) em oito inflorescências por planta, sendo duas por quadrante.

Fruto: avaliar a presença ou ausência de sintomas (manchas necróticas com depressão na superfície do fruto, progredindo para a polpa) oito frutos por planta, sendo dois por quadrante em panículas distintas.

Avaliação: cálculo da % de ocorrência em folhas, inflorescências e frutos.

Nível de ação

Medidas preventivas: inspeções de 2 a 3 vezes por semana em toda a área quando no 1º semestre do ano o pomar  estiver com flores.

Medidas reparadoras: > 10% de folhas com sintomas, estando a planta sem flores ou > 05% estando a planta com flores ou frutos. Também será > 5% de flores ou de frutos com sintomas.

Controle

  • Por depender muito das condições climáticas, primeiramente, o produtor deve adotar o sistema de inspeção freqüente no pomar, quando nas condições de temperatura e U. R. favoráveis à doença, principalmente nos períodos de floração, frutificação e colheita, de modo a estabelecer um controle adequado;

  • Quanto às medidas culturais, sugere-se analisar, primeiramente, o espaçamento do plantio, considerando-se as copas de cada variedade, de modo que não comprometam a ventilação e a insolação entre as plantas, bem como as podas leves e periódicas, para abrir a copa e aumentar a aeração e penetração dos raios solares. As podas de limpeza, para eliminação dos galhos secos e frutos velhos remanescentes, são recomendadas, como também, o recolhimento de materiais vegetais caídos no chão, a fim de reduzir as fontes de inóculo do fungo no pomar;

  • A associação do controle químico também é indispensável, principalmente logo após a poda e nos períodos antes da abertura das flores, durante o florescimento e na frutificação. Os produtos podem ser à base de cobre, mancozeb e benomyl, em intervalos variáveis de quinze a vinte dias, dependendo das condições climáticas e da gravidade da doença. Recomenda-se a alternância de fungicidas de contato com os sistêmicos, para evitar o aparecimento de estirpes resistentes do fungo;

  • No tratamento de pós-colheita, tem-se observado algum efeito positivo com a imersão dos frutos em tanques com suspensão de thiabendazole a 0,01%, como também no tratamento hidrotérmico já adotado para  moscas-das-frutas, utilizado nas mangas exportadas para os Estados Unidos. É uma medida eficiente para a antracnose, dispensando qualquer outro tipo de tratamento.

Fotos: Embrapa Semi-Árido

Fig. 5. Sintoma de antracnose em folha e frutíolos.

 

Mancha de alternaria (Alternaria alternata e A. solani)

Sintomatologia, danos e importância econômica

Nas condições do Vale do São Francisco, em região semi-árida do Nordeste do Brasil, os sintomas são em folhas, caracterizados por secamento das bordas contornado por uma linha não muito defenida, evoluindo para o interior da folha. Frutos em campo ainda não se constata a presença do fungo, porém existe suspeita de seus sintomas na pós colheita conforme. Análises em laboratório não nos permitiu o diagnostico em frutos de infecção latente. Os sintomas são de pequenas manchas com centros escuros e bordas difusas, as manchas são concêntricas pequenas ou coalescidas de forma mais ou menos circular na lateral da superfície  exteriorizado-se somente após a colheita.

A sintomatologia da mancha de alternaria em manga causada por A. alternata  é semelhante a causada pôr A. solani, o que dificulta uma diagnose precisa da doença em condições de campo, em termos de espécie.

Monitoramento na produção integrada de frutas - PIF

Método de amostrage

Amostrar: 10 plantas em até 5 ha ; 14 plantas em 06 a 10 ha e 18 plantas em 11 a 15 ha

Freqüência: quinzenal, durante todo o ciclo da cultura.

Folhas: avaliar a presença ou ausência de sintomas (bordas com secamento contornado pôr  uma linha enegrecida evoluindo para o interior da folha) em folhas de oito ramos por planta, sendo dois por quadrante, fazendo uma observação em cinco folhas da parte apical de um ramo e em cinco folhas da parte mediana do outro ramo, e quantificar a presença de sintomas.

Frutos: avaliar a presença ou ausência de sintomas (manchas concêntricas pequenas ou coalescidas de forma mais ou menos circular, na lateral da superfície de frutos) em oito frutos por planta, sendo dois por quadrante e em panículas distintas, e quantificar a presença de sintomas.

Avaliação: cálculo da % de ocorrência em folhas e frutos

Nível de ação

  • 10%, de folhas com sintomas ou > 05% de frutos com sintomas.

Controle

Na literatura pouco  foi encontrado para o controle da mancha de alternaria na cultura da manga. Prusky et al. (1999) relatam que a combinação do tratamento com água quente em pulverização mais o fungicida pochloraz (900ug/ ml) foi mais eficiente que o tratamento hidrotérmico convencional, com água quente a 55oC por 5 minutos.

Prusky et al. (1983) verificaram que o tratamento químico na pré colheita reduz significativamente, 37%, as infeções latentes causadas pôr  A.  alternata no armazenamento, sendo esta uma alternativa para um planejamento de proteção pós colheita.

Lonsdale e Kotzé (1993) avaliaram a eficiência de fungicidas no controle de doenças pós colheita em frutos de manga de variedades Tommy Atkins, Keitt e Irwin. Verificaram para A.  alternata a eficiência de Iprodione (50g i.a./100 L); Pochloraz (11,5g i.a./100 L) Flusilazol+mancozeb (2+160g i.a./100 L), sendo estes mais eficientes na variedade Tommy, apresentando em torno de 0% de infeção, do que na Keitt.

No Vale do São Francisco, em vistas a freqüência de ocorrência, porém ainda em pequenos focos, tem-se orientado as seguintes medidas de controle:_ Moderação em todo o processo de manejo de indução floral, como pôr exemplo, redução do período de dias de estresse hídrico; poda de limpeza na copa da planta infectada, retirando ramos danificados ou com gemas em estresse; retirada de todas as folhas com sintoma, colhendo estas em um saco para posterior queima; pincelamento de todas as áreas de ferimento das podas com um fungicida sistêmico registrado para a cultura mais um produto adesivo e pulverização da planta.

Fotos: Embrapa Semi-Árido

 

 

Fig. 6. Sintoma de mancha em fruto e de queima em folha.

 

Mancha angular (Xanthomonas campestris pv. Mangiferai indica)

Sintomatologia, danos e importância econômica

Em frutos, pode-se observar lesões circulares, de coloração verde-escuro, a partir das quais podem ocorrer rachaduras quando o fruto se desenvolve. Quando a parte atacada é o pedúnculo, o fruto mumifica e murcha.

Nas folhas, pode-se observar o aparecimento de pequenos pontos encharcados de coloração castanha, rodeados por um halo de cor verde claro amarelado. Com a evolução da doença, as lesões se desenvolvem, escurecem e assumem formas angulares ao tocarem as nervuras. Em seguida, o tecido do centro das lesões cai, deixando as folhas com vários orifícios.

Nas áreas irrigadas do Semi-Árido brasileiro os sintomas da mangha angular podem ser confundidos com os da mosquinha da panícula Erosomya mangiferae, sendo, as causadas pôr bactéria diferenciada pelo halo clorótico. No Submédio do Vale do São Francisco, até então, a doença acontece principalmente em folhas de brotações jovens e raramente em frutos, no primeiro semestre do ano, quando se tem um aumento da umidade relativa do ar, num período curto de fevereiro a abril. Podendo em condições atípicas, ocorrer fora deste.

Monitoramento na produção integrada de frutas - PIF

Método de amostrage

Amostrar: 10 plantas em até 5 ha ; 14 plantas em 06 a 10 ha e 18 plantas em 11 a 15 ha.

Freqüência: semanal, durante todo o ciclo da cultura.

Folhas: avaliar as cinco primeiras folhas do último fluxo de oito ramos de cada planta, sendo dois por quadrante, considerando presença e ausência de sintomas (lesões necróticas circulares a angulares com halo clorótico visível nas duas faces foliares, medindo em torno de 2 a 3mm de diâmetro) ,  e quantificar a presença de sintomas..

Frutos: avaliar oito frutos por planta, sendo dois por quadrante e em panículas distintas, considerando presença ou ausência de sintomas (lesões necróticas circulares e concêntricas na superfície e progredindo para a polpa) ,  e quantificar a presença de sintomas.

Avaliação: cálculo da % de ocorrência em folhas e frutos

Nível de ação

  • 10%, de folhas com sintomas ou >5% de frutos com sintomas.

Alternativas de controle

Acompanhando as áreas de produção, a Embrapa Semi- Árido tem orientado aos mangicultores da região, uma pulverização quando nos primeiros sintomas e na época que precede as chuvas, com Kasugamicina + Oxicloreto de Cobre + Adesivo nas concentrações do rótulo para fruteiras, e ainda, o arejamento do pomar.

Quando a doença encontra-se estabelecida no pomar, a orientação é fazer uma poda leve de limpeza dos ramos vegetativos novos e infectados, pincelamento das áreas podadas na planta, eliminação do material podado, desinfestação da tesoura de poda com hipoclorito mais água corrente, na proporção de 1:3 e pulverização com os produtos anteriormente citados.

Fotos: Embrapa Semi-Árido

Fig. 7. Mancha angular em folhas e em frutos.

 

Seca-da-mangueira ou mal-do-recife (Ceratocystis fimbriata)

Sintomatologia, danos e importância econômica

A infecção pode acontecer de duas formas: através da copa e das raízes. Quando através da copa, a seca da planta inicia-se pelos galhos finos da parte externa, progredindo lentamente em direção ao tronco, até atingi-lo, matando toda a planta. O fungo só consegue infectar a copa se for introduzido. Desta forma, o principal disseminador é um coleóptero, normalmente encontrado sob o córtex de galhos e troncos. Os sintomas são amarelecimento, murcha e seca dos galhos, que geralmente têm início num ramo da extremidade da copa. Quando a Os sintomas da seca da mangueira (Ceratocystis fimbriata) podem ser confundidos com os causados por Botryodiplodia theobromae e vice-versa. A diferença está na infecção de fora para dentro do lenho, causada pelo último, e de dentro do lenho para fora, quando causada pelo primeiro.

Alternativas de controle

O controle preventivo mais coerente será através da medida de exclusão, ou seja, com auxílio de medidas legais de Defesa Vegetal, para impedir que a doença entre em áreas ou regiões isentas do problema. Como exemplo de medida de exclusão, recomenda-se impedir o transporte e a recepção de mudas produzidas em locais onde a doença ocorre para locais em que  não ocorre.O monitoramento do pomar com visitas periódicas, principalmente nos meses de maior precipitação e calor, é uma medida conveniente.

As práticas culturais iniciam-se com a aquisição de mudas de locais ou regiões onde não ocorre a doença. Em locais isentos do problema, mas sob risco, como acontece no Vale do São Francisco, ao ser observada alguma ocorrência, recomenda-se a eliminação da planta infectada, retirando-se todas as raízes, e queimando-as imediatamente. No local da planta eliminada, suspender a irrigação, colocar cal e manter o solo limpo, sem vegetação, durante um tempo ainda não determinado, mas por precaução, orienta-se que sejam anos. Esta medida já foi adotada em Petrolina,  há dois anos e, até então, vem se obtendo sucesso.

Em locais onde a doença já ocorre, as infecções via parte aérea são resultantes da disseminação via vetor; infecção possível de controle, que consiste em eliminar os galhos e ramos doentes 40cm abaixo do local infectado. Nesta situação, o produtor deve certificar-se da sanidade do ramo que vai permanecer na planta. Para tanto, deve  guiar-se pela coloração clara do lenho e pela ausência de estrias escuras no seu interior. Caso contrário, a poda deverá ser feita mais abaixo. Os galhos podados devem ser imediatamente queimados, a fim de evitar que os besouros infectados sejam liberados e que outros besouros incidam. Deve-se pincelar o local de poda com uma pasta cúprica + carbaril a 0,2%. As ferramentas de poda devem ser imediatamente limpas com uma solução de hipoclorito de sódio (água sanitária) a 2%, para evitar a transmissão do fungo a outras plantas.

O controle da infecção, via sistema radicular, só é possível mediante porta-enxertos resistentes, como medida preventiva bastante promissora. O único impasse é o número de raças que o fungo apresenta, podendo uma cultivar de mangueira, resistente numa região, comportar-se como suscetível em outra, dependendo da raça do fungo que prevalece naquele local. A variedade de porta-enxerto Jasmim é considerada resistente a várias raças do fungo, embora seja suscetível a uma outra raça encontrada em Ribeirão Preto-SP. Outros estudos de resistência têm apontado as cultivares Carabao e Manga D'agua. A variedade Espada é um pouco tolerante e a Coquinho, muito suscetível. Os resultados de avaliação das copas, de um modo geral, apresentam alguma tolerância para as cultivares Rosa, Sabina, São Quirino, Oliveiras Neto, Espada, Jasmim, Keitt, Sesation, Kent, Irwin e Tommy Atkins.

Fotos: Embrapa Semi-Árido

Fig. 8. Sintoma da seca da mangueira na parte aérea e no tronco.

 

 

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