Manejo
da indução floral
A
possibilidade de produção durante o ano todo é o que desperta o maior
interesse na exploração da mangueira, nas condições do semi-árido brasileiro,
e a informação de que todo fator que reduz o vigor vegetativo sem alterar
a atividade metabólica, favorece a floração, é o que vem orientando
os trabalhos para produção de manga, visando atender todos os mercados
disponíveis. O
frio e o estresse hídrico são condições naturais que induzem a paralisação
do crescimento vegetativo da mangueira, nas condições de clima subtropical
e tropical, respectivamente. A ocorrência de temperaturas baixas, nas
condições subtropicais, define o período de floração e produção da
mangueira.
O
primeiro passo no processo de indução floral da mangueira, nas condições
tropicais semi-áridas, visa cessar o crescimento vegetativo.
Nesta região, pode-se preparar a planta para florir através do manejo
da irrigação. O método consiste na redução gradual da quantidade
de água, visando uma maturação mais rápida e uniforme dos ramos; quando
bem conduzido e dependendo do estado nutricional da planta, deve permitir
o efeito desejado em 30 a 70 dias. O grande inconveniente deste método é que
restringe a produção a um determinado período do ano.
Os
trabalhos testando o paclobutrazol (PBZ), como regulador do crescimento
vegetativo da mangueira, foram iniciados com o objetivo de desenvolver
um manejo da floração da cultura, que permitisse a produção de manga
em qualquer época do ano. O PBZ regula o crescimento vegetativo da
mangueira, através da inibição da síntese das giberelinas e a forma
de aplicação mais eficiente é feita através da diluição do produto
em um ou dois litros de água, que depois é despejado, junto ao colo
ou na projeção da copa (Fig. 1). É importante que esta área seja irrigada
normalmente, depois da aplicação, pois é a água que leva o produto
até as raízes, para ser absorvido pelas plantas. O PBZ deve ser aplicado à planta,
depois da emissão de, pelo menos dois fluxos vegetativos, após a poda
pós-colheita (Fig. 2).
Fotos: Embrapa
Semi-Árido
Fig.
1. PBZ aplicado no colo
da planta.
|
Fig.
2. PBZ aplicado após a emissão
de fluxo vegetativo. |
Uma das decisões mais difíceis no trabalho com PBZ é a determinação da
dosagem a aplicar. Em trabalhos experimentais são mencionadas doses,
sem especificar tamanho e condições de vigor das plantas, tipos de solo
e irrigação, e determinam, de um modo geral, uma grama por metro linear
de diâmetro de copa. Entretanto, o que se verifica é que esta recomendação
embora se ajuste para plantas entre 3 e 5 m de diâmetro, fica excessivo
para plantas de diâmetro inferior e insuficiente para plantas maiores.
A dosagem de PBZ é dependente de alguns fatores: o vigor, que é o resultado
de um conjunto de características que pode tornar a planta mais ou menos
vegetativa, é favorecido pelo teor de nitrogênio foliar, aspecto da planta
e presença de umidade no solo; o fator variedade está relacionado com
a capacidade da planta de vegetar mais intensamente, como a Haden e a
Kent, que requerem uma dosagem de PBZ maior que a Tommy Atkins, considerada
padrão. Por último, o fator resíduo, que pode persistir na planta oriunda
de aplicações anteriores. É comum, depois da poda pós-colheita, utilizar
o aspecto dos fluxos vegetativos, para serem comparadas com fluxos de
plantas testemunhas, que não tiveram aplicação de PBZ. Assim, para o
2º ano de aplicação, dependendo do tipo de brotação vegetativa depois
da poda pós-colheita (se normal ou compactada), pode-se usar 70% ou 50%
da dosagem de PBZ, utilizado na safra anterior.
Em
casos onde a dosagem de PBZ utilizada foi elevada, tendo provocado
emissões de panículas e vegetação muito compactadas, deve-se ter bastante
cuidado no ciclo seguinte da planta, recomendando-se:
a) Evitar
poda drástica da planta na pós-colheita, devendo-se quebrar apenas
o ráquis floral.
b) Adubação
com nitrogênio (pós-colheita).
c) Pulverização,
via foliar, com nitrato de potássio + sulfato de zinco.
d) Aguardar
a emissão da brotação vegetativa que, se for muito compacta, deve-se
esperar a emissão
do segundo fluxo, para reinicio do ciclo produtivo.
O
sulfato de potássio também pode ser usado para conter a emissão de
ramos vegetativos, devendo ser utilizado em duas ou três aplicações,
em concentrações de 2,0 a 2,5 %.
Com
relação à utilização do ethephon no manejo da floração, o objetivo é a
liberação de etileno nas plantas, o mesmo que vai participar no processo
de maturação das gemas e promover a floração; é um produto que não
apresenta bom resultado isolado, mas que tem eficiência quando combinado
com o estresse hídrico e/ou PBZ. Deve ser aplicado por meio de pulverizações,
em dosagens entre 200 a 300ppm.
O
efeito dos nitratos no processo de indução floral deve ser interpretado
com cautela, pois eles não induzem a floração, só estimulam iniciação
do crescimento (brotação). Os nitratos são aplicados via foliar, por
meio de pulverizações. As dosagens comumente usadas variam de 2% a
4% para o nitrato de potássio (KNO3) e de 1,5% a 2% para
o nitrato de cálcio, Ca(NO3)2. O número de pulverizações
vai depender do índice de brotação que se for obtendo. As pulverizações
com nitratos devem ser feitas no início da noite, quando as condições
ambientais favorecem a absorção e minimizam os danos à planta.
A
resposta às pulverizações com nitrato vai depender do estado de maturação
dos ramos (gemas), cujo processo é obtido através do estresse hídrico
e/ou uso de reguladores de crescimento. Outros fatores, como baixa
temperatura na ocasião das pulverizações com nitratos, melhoram o índice
de floração. Em período chuvoso, é recomendável um intervalo
maior entre as pulverizações, em torno de 15 dias ou mais, pois chuvas
intensas levam o produto das folhas para o solo próximo ao sistema
radicular da planta, podendo provocar uma brotação vegetativa indesejável.
As
condições climáticas do Semi-Árido no Nordeste brasileiro estão
caracterizadas pela ocorrência de temperaturas (noturna inferior a
20ºC e diurna inferior a 30ºC) no período de maio a agosto, onde também
tem-se a menor quantidade de precipitação pluviométrica. A floração
natural da mangueira, nesta região, ocorre com maior intensidade entre
junho e agosto.
O
manejo artificial de floração da mangueira deve ser definido de acordo
com a época do ano. Quando a indução à floração (quebra de dormência
das gemas) for feita no período de maio a agosto, pode-se proceder
de duas formas:
Modelo
A
-
duas a três pulverizações, com sulfato de potássio (2 a 2,5%), com
intervalo de 12 dias, quando as plantas estiverem no primeiro ou segundo
fluxo
de brotação vegetativa, depois da poda pós-colheita;
-
uma a duas pulverizações com ethephon (200 a 300 ppm), com intervalo
de 12 dias, devendo-se iniciar após a última do sulfato de potássio;
- redução
da lâmina de água, com monitoramento para que não haja amarelecimento
e queda das folhas, até a maturação do primeiro fluxo foliar;
-
pulverizações
com nitrato de potássio (3% a 4%), alternando ou não com o nitrato
de cálcio (2%), para estimular a brotação das gemas.
Modelo
B
-
aplicação
de PBZ (~0.5 g ia/ m de diâmetro de copa - 1º ano de aplicação);
-
duas a três pulverizações, com sulfato de potássio, no intervalo de
12 dias e a partir dos 30 a 40 dias da aplicação do PBZ;
-
redução
da lâmina de água, aos setenta dias da aplicação do PBZ;
-
pulverizações
com nitrato de potássio (3% a 4%), alternando ou não com o nitrato
de cálcio (2%).
O
manejo da floração de um pomar, quando a indução (quebra de dormência
das gemas) está programada para o período mais quente, onde há a ocorrência
de temperaturas noturnas e diurnas superiores à 25°C/35°C respectivamente,
e que corresponde ao período de outubro a abril, pode ser conduzido
da seguinte forma:
Modelo
C
-
aplicação
do PBZ (0.7g ia/ m de diâmetro de copa - 1º ano de aplicação);
-
três
pulverizações com sulfato de potássio (intervalo de 12 dias), iniciando
aos 30 dias da aplicação do PBZ;
-
redução
da lâmina de água, aos 80 dias após a aplicação do PBZ;
- duas
pulverizações com ethephon, com intervalo de 12 dias, iniciando
12 dias após a última pulverização com sulfato de potássio;
- pulverizações
com nitrato de potássio (3% a 4%), alternando ou não com o nitrato
de cálcio (2%).
A
eficiência dos modelos para o manejo da floração da mangueira, vai
depender do estado nutricional e fitossanitário do pomar.
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