Embrapa Semi-Árido
Sistemas de Produção, 2
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Julho/2004
Cultivo da Mangueira

Maria Aparecida do C. Mouco

João Antônio Silva de Albuquerque

Início

 

Socioeconomia

Clima

Adubação

Manejo do Solo

Cultivares

Propagação

Plantio

Irrigação

Poda

Plantas Invasoras

Doenças

Pragas

Colheita e pós-colheita

Mercado

Custos e Rentabilidade

Referências bibliográficas

Glossário

 

Expediente

Autores

 

Manejo da floração

Manejo da indução floral

A possibilidade de produção durante o ano todo é o que desperta o maior interesse na exploração da mangueira, nas condições do semi-árido brasileiro, e a informação de que todo fator que reduz o vigor vegetativo sem alterar a atividade metabólica, favorece a floração, é o que vem orientando os trabalhos para produção de manga, visando atender todos os mercados disponíveis.

O frio e o estresse hídrico são condições naturais que induzem a paralisação do crescimento vegetativo da mangueira, nas condições de clima subtropical e tropical, respectivamente. A ocorrência de temperaturas baixas, nas condições subtropicais, define o período de floração e produção da mangueira.

O primeiro passo no processo de indução floral da mangueira, nas condições tropicais semi-áridas,  visa cessar o crescimento vegetativo. Nesta região, pode-se preparar a planta para florir através do manejo da irrigação. O método consiste na redução gradual da  quantidade de água, visando uma maturação mais rápida e uniforme dos ramos; quando bem conduzido e dependendo do estado nutricional da planta, deve permitir o efeito desejado em 30 a 70 dias. O grande inconveniente deste método é que restringe a produção a um determinado período do ano. 

Os trabalhos testando o paclobutrazol (PBZ), como regulador do crescimento vegetativo da mangueira, foram iniciados com o objetivo de desenvolver um manejo da floração da cultura, que permitisse a produção de manga em qualquer época do ano. O PBZ regula o crescimento vegetativo da mangueira, através da inibição da síntese das giberelinas e a forma de aplicação mais eficiente é  feita através da diluição do produto em um ou dois litros de água, que depois é despejado, junto ao colo ou na projeção da copa (Fig. 1). É importante que esta área seja irrigada normalmente, depois da aplicação, pois é a água que leva o produto até as raízes, para ser absorvido pelas plantas. O PBZ deve ser aplicado à planta, depois da emissão de, pelo menos dois fluxos vegetativos, após a poda pós-colheita (Fig. 2).

Fotos: Embrapa Semi-Árido


Fig. 1. PBZ aplicado no colo da planta.


Fig. 2.  PBZ  aplicado  após a  emissão de  fluxo vegetativo.

Uma das decisões mais difíceis no trabalho com PBZ é a determinação da dosagem a aplicar. Em trabalhos experimentais são mencionadas doses, sem especificar tamanho e condições de vigor das plantas, tipos de solo e irrigação, e determinam, de um modo geral, uma grama por metro linear de diâmetro de copa. Entretanto, o que se verifica é que esta recomendação embora se ajuste para plantas entre 3 e 5 m de diâmetro, fica excessivo para plantas de diâmetro inferior e insuficiente para plantas maiores. A dosagem de PBZ é dependente de alguns fatores: o vigor, que é o resultado de um conjunto de características que pode tornar a planta mais ou menos vegetativa, é favorecido pelo teor de nitrogênio foliar, aspecto da planta e presença de umidade no solo; o fator variedade está relacionado com a capacidade da planta de vegetar mais intensamente, como a Haden e a Kent, que requerem uma dosagem de PBZ maior que a Tommy Atkins, considerada padrão. Por último, o fator resíduo, que pode persistir na planta oriunda de aplicações anteriores. É comum, depois da poda pós-colheita, utilizar o aspecto dos fluxos vegetativos, para serem comparadas com fluxos de plantas testemunhas, que não tiveram aplicação de PBZ. Assim, para o 2º ano de aplicação, dependendo do tipo de brotação vegetativa depois da poda pós-colheita (se normal ou compactada), pode-se usar 70% ou 50% da dosagem de PBZ, utilizado na safra anterior.

Em casos onde a dosagem de PBZ utilizada foi elevada, tendo provocado emissões de panículas e vegetação muito compactadas, deve-se ter bastante cuidado no ciclo seguinte da planta, recomendando-se:

a)  Evitar poda drástica da planta na pós-colheita, devendo-se quebrar apenas o ráquis floral.

b)  Adubação com nitrogênio (pós-colheita).

c)  Pulverização, via foliar, com nitrato de potássio + sulfato de zinco.

d)  Aguardar a emissão da brotação vegetativa que, se for muito compacta, deve-se esperar a emissão do segundo fluxo, para reinicio do ciclo produtivo.

O sulfato de potássio também pode ser usado para conter a emissão de ramos vegetativos, devendo ser utilizado em duas ou três aplicações, em concentrações de 2,0 a 2,5 %.

Com relação à utilização do ethephon no manejo da floração, o objetivo é a liberação de etileno nas plantas, o mesmo que vai participar no processo de maturação das gemas e promover a floração; é um produto que não apresenta bom resultado isolado, mas que tem eficiência quando combinado com o estresse hídrico e/ou PBZ. Deve ser aplicado por meio de pulverizações, em dosagens entre 200 a 300ppm.

O efeito dos nitratos no processo de indução floral deve ser interpretado com cautela, pois eles não induzem a floração, só estimulam iniciação do crescimento (brotação). Os nitratos são aplicados via foliar, por meio de pulverizações. As dosagens comumente usadas variam de 2% a 4% para o nitrato de potássio (KNO3) e de 1,5% a 2% para o nitrato de cálcio, Ca(NO3)2. O número de pulverizações vai depender do índice de brotação que se for obtendo. As pulverizações com nitratos devem ser feitas no início da noite, quando as condições ambientais favorecem a absorção e minimizam os danos à planta.

A resposta às pulverizações com nitrato vai depender do estado de maturação dos ramos (gemas), cujo processo é obtido através do estresse hídrico e/ou uso de reguladores de crescimento. Outros fatores, como baixa temperatura na ocasião das pulverizações com nitratos, melhoram o índice de floração. Em período chuvoso, é recomendável  um intervalo maior entre as pulverizações, em torno de 15 dias ou mais, pois chuvas intensas levam o produto das folhas para o solo próximo ao sistema radicular da planta, podendo provocar uma brotação vegetativa indesejável.

Manejo da indução floral

As condições climáticas  do Semi-Árido no Nordeste brasileiro estão caracterizadas pela ocorrência de temperaturas (noturna inferior a 20ºC e diurna inferior a 30ºC) no período de maio a agosto, onde também tem-se a menor quantidade de precipitação pluviométrica. A floração natural da mangueira, nesta região, ocorre com maior intensidade entre junho e agosto.

O manejo artificial de floração da mangueira deve ser definido de acordo com a época do ano. Quando a indução à floração (quebra de dormência das gemas) for feita no período de maio a agosto, pode-se proceder de duas formas:

Modelo A

- duas a três pulverizações, com sulfato de potássio (2 a 2,5%), com intervalo de 12 dias, quando as plantas estiverem no primeiro ou segundo fluxo de brotação vegetativa, depois da poda pós-colheita;

- uma a duas pulverizações com ethephon (200 a 300 ppm), com intervalo de 12 dias, devendo-se iniciar  após a última do sulfato de potássio;

- redução da lâmina de água, com monitoramento para que não haja amarelecimento e queda das folhas, até a maturação do primeiro fluxo foliar;

- pulverizações com nitrato de potássio (3% a 4%), alternando ou não com o nitrato de cálcio (2%), para estimular a brotação das gemas.

Modelo B

- aplicação de PBZ (~0.5 g ia/ m de diâmetro de copa - 1º ano de aplicação);

- duas a três pulverizações, com sulfato de potássio, no intervalo de 12 dias e a partir dos 30 a 40 dias da aplicação do PBZ;

- redução da lâmina de água, aos setenta dias da aplicação do PBZ;

- pulverizações com nitrato de potássio (3% a 4%), alternando ou não com o nitrato de cálcio (2%).

O manejo da floração de um pomar, quando a indução (quebra de dormência das gemas) está programada para o período mais quente, onde há a ocorrência de temperaturas noturnas e diurnas superiores à 25°C/35°C respectivamente, e que corresponde ao período de outubro a abril, pode ser conduzido da seguinte forma:

Modelo C

- aplicação do PBZ (0.7g ia/ m de diâmetro de copa - 1º ano de aplicação);

- três pulverizações com sulfato de potássio (intervalo de 12 dias), iniciando aos 30 dias da aplicação do PBZ;

- redução da lâmina de água, aos  80 dias após a aplicação do PBZ;

- duas pulverizações com ethephon, com intervalo de 12 dias, iniciando 12 dias após a última pulverização com sulfato de potássio;

- pulverizações com nitrato de potássio (3% a 4%), alternando ou não com o nitrato de cálcio (2%).

A eficiência dos modelos para o manejo da floração da mangueira, vai depender do estado nutricional e fitossanitário do pomar.

 

 

Copyright © 2004, Embrapa