Embrapa Semi-Árido
Sistemas de Produção, 2
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Julho/2004
Cultivo da Mangueira

Luís Henrique Bassoi

Antonio Heriberto de Castro Teixeira

José Monteiro Soares

José Maria Pinto

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Irrigação

As informações sobre profundidade de enraizamento, consumo de água e coeficiente de cultura devem ser consideradas em um manejo de irrigação criterioso. No Vale do São Francisco, a cultura da mangueira é manejada com aplicação de reguladores de crescimento e estresse hídrico. O que predispõe as plantas ao florescimento no primeiro semestre e a colheita no segundo semestre de cada ano. Assim, as informações referidas também podem ser úteis para o manejo de irrigação como à indução do florescimento.

Profundidade de enraizamento

Evapotranspiração da cultura e coeficiente de cultura

Manejo da fertirrigação

 

Profundidade de enraizamento

Em Petrolina-PE, a mangueira cv. Tommy Atkins, cultivada em um Latossolo Vermelho Amarelo, textura média (82% areia, 6% de silte e 12% de argila), com espaçamento de 8 x 5 m, aos 6 anos de idade, e irrrigada por gotejamento (duas linhas de emissores espaçados em 1,8 m e vazão de 4,1 L/h), apresentou raízes até a profundidade de 2 m, mas com maior presença entre 0,3 m e 1,4 m de profundidade. As raízes também estiveram presentes ao longo da linha de plantas, o que indica um entrelaçamento das raízes devido ao hábito de crescimento da cultura e à presença de emissores de água em toda a extensão da linha de plantas. As raízes de mangueira atingiram a distância de 2 m da linha de planta (no sentido da entrelinha). Entretanto, houve uma maior presença entre 0,3 e 1,6 m de distância do tronco. Pode-se sugerir que para o monitoramento da água no solo, a instalação de tensiômetros deva ser feita nesse intervalo de profundidade e de distância do caule. No entanto, um manejo mais criterioso deve levar em conta toda a profundidade de 2 m, pois pode haver contribuição de camadas de solo abaixo de 1 m para a quantidade total de água absorvida pelas plantas, principalmente no período de maior necessidade hídrica (maturação dos frutos) e nos meses mais quentes (outubro e novembro).

Evapotranspiração da cultura e coeficiente de cultura

A evapotranspiração da cultura (ETc) refere-se aos processos de transpiração pelas plantas e evaporação direta do solo, que ocorrem simultaneamente. A duração dos períodos considerados durante o ciclo de produção da mangueira e a Etc correspondente são apresentados na Tabela 1. O valor máximo encontrado para a ETc diária foi 7,9 mm (151,7 L/planta), na fase de maturação dos frutos, enquanto que a no período indicado foi de 642,9 mm (12.343,7 L/planta). A produção de frutos para essa safra foi de 48493,0 kg/ha. Como a  área molhada foi de 19 m2, ou seja, 48% do espaçamento da cultura (8 x 5 = 40 m2), a conversão dos valores de consumo de água em milímetros para litros por planta é feita multiplicando-se o valor em mm pela área efetivamente ocupada por uma planta, ou seja, por 8 x 5 x 0,48 = 19,2 m2.

Tabela 1. Evapotranspiração da cultura (ETc) e consumo médio diário da mangueira cv. Tommy Atkins, aos 6 anos de idade, em Petrolina – PE, para os períodos considerados.

Períodos

Duração (dias)

Etc média diária (mm/dia. planta ou L/dia.planta)

Floração (10 a 30/6/99)

20

2,3 ou 44,2

Queda de frutos (01/7 a 09/8/99)

39

3,2 ou 61,4

Desenvolvimento de frutos (10/8 a 30/9/99)

51

4,0 ou 76,8

Maturação (01/10 a 09/11/99)

39

4,6 ou 88,3

Fonte: Silva (2000), Silva et al. (2000)

O coeficiente de cultura (Kc) é obtido pela relação entre a ETc em condições potenciais e a evapotranspiração de referência (ETo). Através desse coeficiente, e conhecendo-se a ETo de um pomar de mangueiras, pode-se estimar a ETc, e assim determinar a lâmina de irrigação a ser irrigada. Em Petrolina, pode-se adotar os valores de Kc de 0,44 para a floração, 0,65 para a queda de frutos, 0,83 para a formação do fruto, e 0,84 para a maturação do fruto (Silva, 2000).

Manejo da fertirrigação

Fertirrigação é uma técnica de aplicação simultânea de fertilizantes e água, através de um sistema de irrigação. É uma das maneiras mais eficientes e econômicas de aplicar fertilizante às plantas, principalmente em regiões de climas árido e semi-árido, pois aplicando-se os fertilizantes em menor quantidade por vez, mas com maior freqüência, é possível manter um teor uniforme de nutrientes no solo durante o ciclo da cultura, o que aumentará a eficiência do uso de nutrientes pelas plantas e, conseqüentemente, a sua produtividade.

Quando se prepara uma solução de fertilizantes envolvendo mais de um tipo de fontes de nutrientes, deve-se verificar se são compatíveis (Tabela 2), para evitar problemas de entupimentos das tubulações, e emissores. O cálcio, por exemplo, não pode ser injetado com um fertilizante que contém sulfato. Esses cuidados devem ser ainda maiores, quando a água usada na irrigação tem pH neutro, ou seja, quando as concentrações de Ca + Mg e de bicarbonatos são maiores que 50 e 150 ppm, respectivamente. O ácido fosfórico não pode ser  injetado via água de irrigação que contenha mais que 50 ppm de cálcio e nitrato de cálcio e em água que contenha mais de 5,0 meq.L-1 de HCO3, pois poderá formar precipitados de fosfato de cálcio.

O procedimentos adequados para aplicação de fertilizantes via água de irrigação compreendem três etapas distintas. Durante a primeira etapa, deve-se funcionar o sistema de irrigação durante um quarto do tempo de irrigação, para equilibrar hidraulicamente as unidades de rega como um todo. Na segunda etapa, faz-se a injeção dos fertilizantes no sistema de irrigação, através de equipamentos apropriados. Na terceira etapa, o sistema deverá continuar funcionando, visando complementar o tempo total de irrigação, lavar completamente o sistema de irrigação e carrear os fertilizantes da superfície para camadas mais profundas do solo.

Tabela 2. Compatibilidade entre os fertilizantes empregados na fertirrigação.

Fertilizante1

UR

NA

SA

NC

NK

CK

SK

FA

MS

MQ

SM

AF

AS

AN

Uréia (UR)

 

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

Nitrato de Amônio (NA)

   

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

Sulfato de Amônio (SA)

     

I

C

C

SR

C

C

C

C

C

C

C

Nitrato de Cálcio (NC)

       

C

C

I

I

I

SR

I

I

I

C

Nitrato de Potássio (NK)

         

C

C

C

C

C

C

C

C

C

Cloreto de Potássio (CK)

           

SR

C

C

C

C

C

C

C

Sulfato de Potássio (SK)

             

C

SR

C

SR

C

SR

C

Fosfatos de Amônio MAP e DAP(FA)

               

I

SR

I

C

C

C

Fe,Zn,Cu Mn Sulfato (MS)

                 

C

C

I

C

C

Fe,Zn,Cu Mn Quelato (MQ)

                   

C

SR

C

I

Sulfato de Magnésio (SM)

                     

C

C

C

Ácido fosfórico (AF)

                       

C

C

Ácido sulfúrico (AS)

                         

C

Ácido nítrico (AN)

                           
1C = compatível; SR = solubilidade reduzida; I = incompatível
Fonte: Villas Bôas et al., 1999.

A fertirrigação depende da taxa de injeção de fertilizantes, do tempo de irrigação por unidade de rega e dos tipos e doses de fertilizantes por unidade de rega. Deve-se considerar também as variedades utilizadas e suas respectivas fases fenológicas.

Como regra geral, dependendo da complexidade do desenho do sistema de irrigação com relação à fertirrigação, recomenda-se iniciar o processo com fertilizante potássico, seguido dos nitrogenados, administrando-se as quantidades aplicadas por unidade de rega, com base no tempo de irrigação. As propriedades que utilizam o ácido fosfórico como fonte de fósforo, devem aplicá-lo no final da fertirrigação, pois pode, também proporcionar a limpeza dos sistema de irrigação. Caso os fertilizantes sejam aplicados na forma de mistura, as soluções devem ser preparadas em separado, e misturadas na proporção desejada, de acordo com as necessidades nutricionais das plantas.

Uma alternativa mais recente, no sentido de amenizar a complexidade da injeção de fertilizantes, via água de irrigação, é a utilização de adutoras secundárias, paralelas às adutoras das unidades de rega, cuja finalidade é transportar a solução ou mistura concentrada até a entrada da unidade de rega específica. Porém, é necessário que em cada unidade de rega, a injeção da solução seja feita nos dois quartos intermediários do tempo de irrigação, pois a permanência do nitrogênio na tubulação, após a fertirrigação, pode favorecer o desenvolvimento de microorganismos que causam a obstrução dos emissores.

 

 

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