Atualmente
a oferta mundial de manga é de aproximadamente 24 milhões de toneladas,
entretanto sua produção é bastante concentrada, visto que, mais de
50% deste total são produzidos na Índia e cerca de 10% na China,
seguidos do México, Tailândia e Filipinas. O Brasil com uma produção
anual de cerca de 823 mil toneladas, é o nono produtor com uma participação
de 3,4% no volume total ofertado. Com relação a exportação, tem
sido registrados incrementos significativos, passando de 4 mil toneladas,
em 1991, para quase 68 mil toneladas, em 2000, o que garantiu o segundo
lugar entre os maiores exportadores de manga, sendo superado apenas
pelo México.
Efetivamente
a manga vem apresentando as maiores taxas de crescimento entre as frutas
exportadas pelo Brasil, e a perspectiva é de aumento dessa participação.
Entretanto, as mudanças no mercado internacional nos últimos anos,
como o aumento da concorrência e das exigências por parte dos principais
mercados importadores, têm resultado em grandes desafios.
Mercado
interno
Mercado
externo
Características
do mercado
A
manga do Brasil tem o mercado interno como a principal fonte de escoamento
da produção. Mesmo com o grande incremento observado atualmente, as
nossas exportações de manga ainda não alcançaram 10% do volume total
produzido no país. No mercado nacional, a manga é comercializada quase
que exclusivamente na forma in natura, embora também possa ser
encontrada nas formas de suco integral e polpa congelada. A polpa pode
ser empregada na elaboração de doces, geléias, sucos e néctares, além
de poder ser adicionada a sorvetes, misturas de sucos, licores e outros
produtos.
O
principal objetivo dos produtores de manga no mercado interno é a regularidade
na oferta, para tanto, tem-se feito uso da indução floral, principalmente,
e da diversificação das variedades plantadas, entre precoces, de meia
estação e tardias. O uso da indução floral tem como principal objetivo
a comercialização da fruta no período de entressafra do mercado interno, época
em que os preços da fruta são mais elevados. No mercado interno, a
manga alcança as maiores cotações no primeiro semestre, devido a inexistência
de safra na maioria dos pólos de produção do país. No mercado do produtor
de Juazeiro, a maior central de comercialização de frutas do Nordeste,
os preços da manga alcançam a cotação máxima em maio e a mínima em
novembro (Fig. 1).
Com
relação ao volume de manga comercializado no mercado interno, a tendência é de
um aumento, principalmente porque, dos 25 mil hectares plantados na
região do Vale do São Francisco, 18 mil estarão em produção plena nos
próximos dois anos. Essa produção deverá provocar um acréscimo no volume
de manga ofertado no mercado nacional de cerca de 280 mil toneladas/ano.
Tal volume equivale a mais de 2, 8 vezes a quantidade total de manga
comercializada atualmente nas principais centrais de abastecimentos
do país (CEASAS de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro). Essa
produção adicional pode provocar uma queda considerável nos preços
da manga no mercado interno. Para evitar que a exploração da manga
se torne inviável, é necessário que os mangicultores produzam com qualidade
adequada às exigências do mercado nacional e internacional, além de
fazer estudos de mercado, para verificar quais estão cotando melhor
o produto.

Fig.
1. Índice estacional de preços da manga no mercado interno,
no período de 1995 a 2000.
Países
exportadores e fluxo do comércio
Apesar
da pouca expressão da manga no mercado internacional de frutas, as
exportações vem crescendo rapidamente, sendo o México, Brasil e Paquistão
os maiores, que juntos responderam por 52,75% do total exportado em
2000 (Tabela 1). O México é o líder nas exportações de manga, contribuindo
com cerca de 33,83% do total exportado mundialmente. O Brasil aparece
em segundo lugar, embora o volume exportado seja menor do que um terço
do mexicano. A Holanda, embora não seja um país produtor, aparece no
grupo dos grandes exportadores de manga, por possuir os principais
portos receptores do produto na Europa, reexportando-o em seguida para
os demais países do continente.
Tabela
1. Principais países exportadores de manga no mundo em 2000.
Países
|
Exportação
(t.)
|
Participação
(%)
|
Participação
acumulada
(%)
|
|
206.782
|
33,83
|
-
|
Brasil
|
67.172
|
10,99
|
44,82
|
Paquistão
|
48.453
|
7,93
|
52,75
|
Filipinas
|
40.031
|
6,55
|
59,30
|
Índia
|
37.110
|
6,07
|
65,37
|
Holanda
|
34.477
|
5,64
|
71,01
|
Equador
|
25.502
|
4,17
|
75,18
|
Peru
|
21.070
|
3,45
|
78,63
|
Bélgica
|
13.965
|
2,28
|
80,91
|
Guatemala
|
12.948
|
2,12
|
83,03
|
África
do sul
|
12.341
|
2,02
|
85,05
|
Outros
|
91.383
|
14,95
|
100,00
|
Mundo
|
611.234
|
100,00
|
-
|
Fonte: FAO, 2002 (dados básicos).
Em
2000, o valor das exportações mundiais de manga foi de aproximadamente
US$ 381 milhões, referentes a 611,2 mil toneladas da fruta, comercializadas
na forma in natura, sendo pouco representativo o comércio da
polpa e do suco. Esse valor é pequeno, se compararmos com a produção
mundial de 23,5 milhões de toneladas. É interessante ressaltar que
grande parte da produção mundial de manga é oriunda de variedades pouco
conhecidas no mercado internacional. Outro fator que pode estar influenciando
negativamente as exportações é o pouco conhecimento da fruta pela maioria
da população dos principais mercados importadores.
Apesar
de existirem fatores limitantes ao comércio da manga, o Brasil vem
apresentando uma taxa de crescimento médio anual de 27,06% nas exportações,
estando acima da média mundial de 13,45%.
Podemos
dividir o mercado importador em dois principais grandes blocos: o americano,
representado pelos Estados Unidos da América, e o europeu. Internacionalmente,
três fluxos de comércio se destacam no mercado de manga: a América
do Sul e Central que abastecem o mercado Norte Americano, Europa e
Japão; a Ásia, que preferencialmente, exporta para países dentro de
sua própria região e para o Oriente Médio; a África, que comercializa
a maior parte de sua produção no mercado europeu. Em relação à união
européia, os países americanos tendem a exportar basicamente para a
Holanda, enquanto Costa do Marfim, Mali e Israel exportam para a França,
e o Paquistão exporta preferencialmente para o Reino Unido, devido à grande
parte de sua população de imigrantes preferirem variedades indianas.
Na
Europa, a produção é pequena, concentrando-se principalmente no sul
da Espanha, onde se cultivam as variedades Tommy Atkins e Keitt, e
na região da Sicília, Itália. Entretanto, a quantidade produzida é insuficiente
para suprir a demanda do mercado. O México, Brasil, Peru, Equador e
Haiti, foram os principais exportadores em 2000, respondendo por 95%
da manga importada pela União Européia; por importar manga de países
com diferentes épocas de produção, o mercado europeu se mantém abastecido
praticamente durante o ano todo. A participação do Brasil nesse mercado é,
principalmente, em novembro e dezembro, entretanto são registradas
exportações brasileiras para a Europa até o final de março. Os principais
países importadores são Holanda, França e Reino Unido. Dentro da União
Européia, a Holanda e a Bélgica têm um papel importante como intermediários,
visto que mais de 90% das importações entram através dos portos de
Roterdã, Antwerp e Zeebrugge.
Com
relação ao mercado americano, o México é o principal fornecedor, abastecendo
o mercado entre os meses de fevereiro e agosto. O Haiti e a Guatemala
também exportam manga para os Estados Unidos nesse mesmo período. O
Brasil coloca a manga no mercado americano, entre agosto e novembro,
junto com o Equador e o Peru. Estes dois últimos países estendem a
exportação para os Estados unidos até os primeiros meses do ano.
Características
do mercado |
|
a) Preferência do
consumidor
O
mercado internacional de manga não é uniforme, devido às variações
de preferências e exigências dos consumidores. Portanto, para obter
o sucesso na produção e exportação é preciso conhecer o mercado antecipadamente,
para delinear as estratégias que considerem essas variações.
A
manga para ser exportada deve apresentar coloração vermelha e brilhante,
com fibras curtas e peso entre 250 e 600 gramas por fruto, para o mercado
dos EUA. Na Europa, a preferência é por frutos entre 300 a 450 gramas,
o que, em uma caixa de 4 quilos líquidos, representa de 9 a 14 frutos.
Em geral, a Tommy Atkins é a variedade que possui a maior participação
no volume mundialmente comercializado, devido principalmente a coloração
intensa, bom rendimento e resistência ao transporte a longas distâncias,
razões pelas quais é a mais produzida atualmente. A fruta deve ser
colorida, porque o consumidor associa a cor verde com maturação insuficiente.
Mangas de coloração verde são mais consumidas por grupos étnicos de
origem asiática. Entretanto, com o acirramento da competitividade no
mercado internacional é importante que os países exportadores, como é o
caso do Brasil, diversifiquem as variedades exportadas, a fim de se
precaver de eventuais mudanças nas preferências dos consumidores. Como
exemplo, podemos citar o caso do Reino Unido, onde o mercado atacadista,
geralmente, vende mangas de pequeno tamanho (12, 14 e 16 por caixa)
para pequenas quitandas e restaurantes, que preferem variedades bastante
coloridas, como a Tommy Atkins e a Haden. Enquanto nos supermercados,
freqüentemente, são comercializadas frutos maiores, de variedades como
a Kent ou Keitt, como também os da Tommy Atkins.
b) Modalidade de pagamento
A
manga é uma fruta que, na maioria das vezes, é vendida por consignação,
com o preço de mercado sendo determinado no destino. Esta é uma importante
variável, que deve ser melhor discutida pelo produtor, pois pode-se
estabelecer estratégias, que visam manter a competitividade e a viabilidade
econômica. A qualidade do produto e os custos do transporte afetam
os preços, que são negociados entre o importador e os supermercados.
Cabe então vigilância constante e cuidados desde a decisão da época
de colheita até a classificação, resfriamento e distribuição. Através
dessa forma de pagamento, quando o preço de mercado no momento da
entrega do produto não é suficiente para cobrir os custos, os prejuízos
são inevitavelmente repassados aos produtores. Para equilibrar esta
situação , a maneira de minimizar os riscos, tem sido os contratos
de vendas, estabelecendo intervalos de preço (máximo e mínimo) a serem
pagos.
É importante
comentar que os preços pagos pela manga no mercado internacional, na última
década, tem decrescido, já que passou de US$ 1,77 por quilo, em 1991,
para US$ 1,15, em 2000. A principal explicação para a redução no preço
da manga é o ingresso de novos fornecedores no mercado (maior oferta).
c)
Estrutura de mercado
Nos
grandes mercado importadores de manga, a comercialização está centrada
principalmente em grandes redes de supermercados, que são exigentes
quanto à regularidade na oferta e ao volume embarcado. Nos Estados
Unidos, cerca de 95% dos produtos agrícolas passam diretamente dos
produtores e das casas de embalagens para os supermercados, sem intermediários.
Na Europa, principalmente nos mercados como: Reino Unido, Alemanha,
Holanda e França, 70% a 80% da distribuição da fruta está sob a responsabilidade
das grandes redes de supermercados. A única exceção, dentro do mercado
Europeu, é na Espanha, onde as centrais de abastecimento ainda controlam
a maioria da distribuição das frutas. A conseqüência principal dessa
concentração na distribuição é a exigência cada vez maior na qualidade
do produto.
d) Sazonalidade da
oferta e demanda
O
mercado internacional de manga é abastecido durante todo o ano (Fig.
2), mas concentra a sua oferta durante o período de abril a setembro;
nessa época do ano, os preços de mercado se mantém baixos. É exatamente
nesse período que o México exporta sua produção, para os Estados Unidos
(80%) e a Europa (20%). Também é nesse período que ocorre a comercialização
no mercado externo de outros grandes exportadores como a Índia, o Paquistão
e Filipinas. Durante os meses de outubro a dezembro e entre o mês
de janeiro até março, a oferta diminui, refletindo em preços mais satisfatórios.
Os países que cobrem estes períodos de demanda são relativamente poucos,
sendo o Brasil o exportador mais representativo, seguido do Equador
e Peru (Fig. 2).
O
Brasil, mais precisamente o Vale do São Francisco, por possuir condições
climáticas favoráveis e por dispor de tecnologia para manejar a floração
da mangueira, pode exportar durante todo o período em que há uma menor
concentração na oferta de manga no mercado internacional. Entretanto,
para obter uma melhor cotação de preço, os exportadores brasileiros
concentram suas exportações no mercado norte americano, entre os meses
de agosto até meados de novembro e, para o mercado europeu, de meados
de novembro até o final de dezembro. Com relação ao mercado norte americano,
os produtores brasileiros, nestes dois últimos anos, tem ampliado
o período de exportação, já que antes só começava a partir do mês de
setembro, para não coincidir com o final da safra mexicana. De janeiro
até março, o Brasil exporta um volume relativamente pequeno de manga,
que é basicamente destinada ao mercado europeu; nesta época, os preços
no mercado interno alcançam maiores cotações.
O
desenvolvimento de novas tecnologias no cultivo da mangueira tem ampliado,
significativamente, as exportações, como é o caso do Equador e do Peru,
que no momento são os principais concorrentes da manga brasileira.
A tendência é uma redução da sazonalidade e conseqüente ampliação
de concorrência. Nesse contexto, a regularidade no fornecimento e a
qualidade, a preços competitivos, são requisitos essenciais para manter
as exportações. Um fato favorável ao produto nacional, com relação
aos nossos principais concorrentes, principalmente o sul americanos,
são as condições climáticas das zonas de cultivo. Isto porque o excesso
de chuva e a alta umidade, nas regiões onde são exploradas a mangueira
no Equador, Peru e Venezuela, reduz o grau de coloração da fruta e
favorece a incidência de antracnose. Já no Vale do São Francisco, onde é cultivada
praticamente toda manga brasileira direcionada para o mercado internacional,
registra baixa precipitação e umidade relativa e um elevado grau de
luminosidade, fatores que concorrem efetivamente para uma adequada
qualidade mercadológica, no aspecto de coloração como de sanidade vegetal.
Países |
Jan.
|
Fev.
|
Mar.
|
Abr.
|
Mai.
|
Jun.
|
Jul.
|
Ago.
|
Set.
|
Out.
|
Nov.
|
Dez.
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Brasil
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Equador
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Honduras
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Venezuela
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Peru
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Guatemala
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Costa
Rica
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
África Sul
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Israel
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Índia
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Paquistão
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Filipinas
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Fig. 2. Períodos
de oferta de manga no mercado mundial.
Nota: Verde = Concentração das exportações
brasileiras de manga para o mercado norte americano.
Vermelho = Concentração das exportações brasileiras
de manga para o mercado europeu.
Azul = Exportações pontuais da manga brasileira principalmente
para o mercado europeu
|