Embrapa Semi-Árido
Sistemas de Produção, 4
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Dez/2006
Cultivo de Melancia

Geraldo Milanez de Resende

Rita de Cássia Souza Dias

Sumário

 

Socioeconomia

Botânica

Composição química

Clima

Plantio

Cultivares

Nutrição e adubação

Irrigação

Tratos culturais

Pragas

Doenças

Colheita e pós-colheita

Custos

Referências

Glossário

 

Expediente

Autores

Composição química

Os frutos de cucurbitáceas em geral são ricos em água e em açúcares, importante fator de qualidade no melão, melancia e abobrinha italiana. Destaca-se, também o elevado teor de carotenóides, precursores da vitamina A em algumas cultivares de abobrinha italiana e de melão. A cor vermelha da polpa da melancia é devida ao licopeno, um carotenóide que não é precursor da vitamina A, mas possui importantes propriedades antioxidantes. A melancia se encontra entre as oleráceas mais pobres em proteína e riboflavina, porém é rica em citrulina (precursor do aminoácido arginina).

A melancia é fonte de pro-vitamina A e das vitaminas C e do complexo B, além de sais minerais como cálcio, fósforo e ferro. Por ser muito hidratante (90% de seu volume é água) e diurética, elimina resíduos do aparelho digestivo e funciona como laxante. Nas melancias de polpa vermelha, assumem importância o potássio, o magnésio, o fósforo e o cálcio, estando os demais elementos como sódio, manganês, zinco, cobre e ferro presentes em menor quantidade. Vale a pena ressaltar o baixo valor calórico da melancia, que pode ser especialmente recomendada para dietas de baixo valor energético.

As cucurbitáceas, principalmente a melancia, desempenham um importante papel na alimentação humana, especialmente nas regiões tropicais, onde o consumo é elevado. Ela é consumida quase que exclusivamente "in natura", mas, também, na forma de sucos, geléias, doces, molhos e em saladas. Em alguns países, se preparam picles com a casca dos frutos e na China e em diversas regiões da Ásia e no Oriente Médio se consomem também as sementes. As sementes das cucurbitáceas são consumidas em diversos países (C. pepo no México, melancia na China) e são ricas em gordura, proteína, tiamina, niacina, cálcio, fósforo, ferro e magnésio. Na Índia, faz-se pão de farinha de semente de melancia. Nas regiões áridas da África, são utilizadas como fonte de água desde tempos imemoriais. Na Rússia meridional, uma cerveja tem suco de melancia como ingrediente. Outro uso é fazer doce com a parte branca, preparado da mesma forma que o doce de mamão verde.

A composição físicoquímica das cultivares Pérola, Crimson Sweet e Jubilee é apresentada na Tabela 1.

Tabela 1. Composição nutricional de 100g de polpa das cultivares Pérola, Crimson Sweet e Jubilee de diferentes origens (média ± desvio padrão).
Componente
Crimson Sweet
São Paulo
Pérola
Goiás
Jubilee
São Paulo
Umidade (%)
90,79 ± 0,02
90,55 ± 0,43
92,71 ± 0,03
Frutose (%)
2,86 ± 0,12
2,94 ± 0,11
-
Glucose (%)
1,80 ± 0,03
1,586 ± 0,07
-
Sacarose (%)
2,07 ± 0,04
2,72 ± 0,13
-
Açúcares totais (%)
6,73
7,22
6,25 ± 0,08
Açúcares redutores (%)
4,66
4,50
3,71 ± 0,01
Cinzas (%)
0,30 ± 0,01
0,31 ± 0,02
0,14 ± 0,003
Proteínas (%)*
0,71 ± 0,0
0,43 ± 0,02
-
Lipídeos (%)
0,036 ± 0,004
0,007 ± 0,02
-
Fibra (%)
0,14 ± 0,003
0,12 ± 0,0
-
Pectina (%)**
0,0095 ± 0,0005
0,07 ± 0,004
0,001 ± 0,003
Acidez total ***
14,6 ± 0,08
9,38 ± 1,56
Não dectada
Sólidos solúveis
9,4 ± 0,03
-
8,0
pH
5,35 ± 0,02
-
-
Licopeno (mg)
4,12 ± 0,09
-
5,89
Calorias
30,08
30,66
-
Fonte: Mori (1996)

* % N x 6,25.
** Calculado como pectato de cálcio.
*** ml NaOH 0,1mol/L/100g.
Obs: Total de calorias determinado pela equação: % lipídeos x 9 + % proteína x 4 + % de açúcares totais x 4.

Os valores obtidos foram os seguintes: 90,55 a 92,71% de umidade; 6,73 a 7,22% de açúcares totais (soma de frutose, glicose e sacarose para as cultivares Pérola e Crimson Sweet); 3,71 a 4,66% de açúcares redutores (soma de frutose e glucose para as cultivares Pérola e Crimson Sweet); 2,86 a 2,94% de frutose; 1,56 a 1,80% de glucose; 2,07 a 2,72% de sacarose; 0,14 a 0,31% de cinzas; 0,43 a 0,71% de proteína; 0,0070 a 0,036% de lipídeos; 0,01 a 0,14% de fibras; 0,0074 a 0,0700% de pectina; 8,0 a 9,4 °Brix; 5,35 de pH; 4,12 a 5,89 mg/100g de licopeno, e energia em torno de 30 calorias.

Com respeito à umidade, a "Jubilee" apresentou o maior teor (92,71%) e a "Pérola" e "Crimson Sweet", valores bastante próximos. Quanto à composição de açúcares, a "Crimson Sweet" apresentou teor menos elevado de frutose em relação à Pérola; o mesmo ocorrendo quanto ao teor de sacarose, sendo menor apenas quanto ao teor de glicose. Em termos de açúcares totais, a cv. Pérola também apresentou teores mais elevados em relação às cultivares Crimson Sweet e Jubilee.

Em termos de teor de cinzas, as cultivares Crimson Sweet e Pérola se equivaleram, sendo que a "Jubilee" apresentou o mais baixo conteúdo (0,45%). Os teores de proteína, fibras e lipídios são bastante baixos nas melancias. Os teores de pectina foram maiores na cultivar Pérola (0,07%) em relação às demais. Quanto à acidez total, esta foi mais elevada na cv. Crimson Sweet (14,6). Os valores de pH se situaram na faixa de 5,30 a 5,40 para a cv. Crimson Sweet, sendo todas de baixo valor calórico.

Verificou-se que o suco de melancia integral (polpa) apresentou teor de umidade em torno de 91% e pH de 5,3; o que caracteriza um produto de baixa acidez. Os teores de açúcares encontrados no suco constituem 77% da matéria seca. Dos açúcares presentes, 4,05% correspondem aos açúcares redutores, dos quais 2,64% são constituídos de frutose e 1,41% de glicose. Os teores médios de licopeno, pigmento responsável pela cor vermelha do suco, foram de 3,66 mg/100g no suco integral e de 16,7 mg/100g no concentrado.

A melancia é uma das frutas mais ricas em vitaminas vendidas no Brasil, com altos teores de pró-vitamina A e de vitaminas C, B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B6, B12, niacina, ácido fólico e biotina. A pigmentação vermelha da polpa é dada pelo licopeno, um carotenóide com atividade antioxidante. Nas cultivares de polpa amarela, a cor é em função dos carotenóides, do ß-caroteno (pró-vitamina A) e das xantofilas. Na Tabela 2, é apresentada a composição química da melancia por diferentes autores.

Tabela 2. Composição química (100g ou ml de polpa) de melancia.
Componente
PUC (2000)
Mori (1996)*
Andrade JR. et al. (2004)
FAO
(2007)
Água (%)
92,00
91,14
92,6
94,0
Carboidratos (g)
7,20
-
6,40
5,00
Proteína (g)
0,60
0,64
0,50
0,50
Lipídios (g)
0,40
0,04
-
0,10
Cálcio (mg)
8,10
6,46
7,0
8,00
Fósforo (mg)
8,90
7,77
10,0
-
Potássio (mg)
116,00
90,03
100,0
-
Magnésio (mg)
-
10,81
-
-
Manganês (mg)
-
0,062
-
-
Zinco (mg)
-
0,083
-
-
Cobre
-
0,065
-
-
Ferro (mg)
0,20
0,28
0,50
0,30
Sódio (mg)
2,00
1,40
1,00
-
Vitamina A (UI)
365,10
-
590,0
315,0
Tiamina (mg) (B1)
0,08
-
0,03
0,04
Riboflavina (mg) (B2)
0,04
-
0,03
0,05
Niacina (mg) (B5)
0,20
-
0,2
0,10
Ácido ascórbico (mg) (C)
9,50
-
7,0
8,0
Valor energético (cal)
32,10
30,0
26,0
22,0
* Cultivar Crimon Sweet

Estudos realizados com o objetivo de quantificar os principais carotenóides da melancia, variedade Crimson Sweet, produzida nos estados de São Paulo e Goiás, em amostras colhidas na Central de Abastecimento (CEASA) de Campinas, demonstraram que a melancia contém quase exclusivamente licopeno, com uma pequena quantidade de ß-caroteno. Os teores (mg/g) de licopeno e de ß-caroteno foram, respectivamente, de 36 ± 5 e 4,7 ± 2,4 para as frutas produzidas em São Paulo e de 35 ± 2,0 e 2,6 ± 1,7 para as produzidas em Goiás. As concentrações destes dois carotenóides são semelhantes às encontradas em tomate cultivar Carmen (35 ± 10 mg/g para licopeno e 3,2 ± 0,6 mg/g para ß-caroteno), evidenciando a melancia como uma importante fonte de licopeno.

Como uso medicinal, o consumo habitual ou periódico da melancia é muito importante para a saúde, em vários aspectos:

  • Seu suco, feito da polpa, ajuda a eliminar o ácido úrico, substância química que se acumula no organismo e que causa a gota, mais conhecida como reumatismo gotoso, responsável pela formação de cálculos renais (calcificação em forma de pedras nos rins). Atua, também, na limpeza do estômago e dos intestinos; é benéfico no controle da pressão alta. O uso do chá das sementes da melancia, secas e trituradas, também auxilia no tratamento da pressão alta;
  • É eficaz nos tratamentos de acidez estomacal (mais conhecida como queima ou azia); da inflamação das vias urinárias; dos gases e dores intestinais e da bronquite crônica;
  • É recomendada no tratamento da erisipela (inflamação aguda da pele), quando o suco da casca e da polpa da melancia for aplicado sobre a parte afetada, em forma de cataplasma;
  • A melancia possui atividade antioxidante e anticancerígena (protege contra câncer de útero, próstata, seio, cólon, reto e pulmão).

A melancia, além de saciar a sede e hidratar, é pobre em calorias e pode auxiliar no emagrecimento. Segundo os naturopatas, deve ser consumida isoladamente. Para saciar a sede, é melhor do que qualquer refrigerante ou refresco. As suas fibras agem na regulação do trânsito intestinal, além de auxiliar o organismo a eliminar toxinas (desintoxicante), colaborando para a redução do colesterol. Os minerais P, Fe, K, Ca, além das vitaminas B1, B5 e C, presentes em sua composição, têm efeitos benéficos nas células, evitando o cansaço e o estresse e ajudando a aumentar os glóbulos vermelhos.

 

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