Embrapa Semiárido
Sistemas de Produção, 5
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Ago/2010
Sistema de Produção de Melão
Maria Angélica Guimarães Barbosa
Daniel Terao
Diógenes da Cruz Batista

Sumário

Apresentação
Socioeconomia
Clima
Manejo do solo
Adubação
Cultivares
Propagação
Plantio
Irrigação
Tratos culturais
Doenças
Pragas
Agrotóxicos
Colheita
Mercado
Rentabilidade
Referências
Glossário
Expediente

 

Doenças

 

Doenças causadas por fungos
Doenças causadas por bactérias
Doenças causadas por nematoides
Doenças causadas por vírus

Doenças causadas por fungos

Cancro-das-hastes, crestamento-gomoso ou podridão-de-micosferela

É uma das principais doenças do meloeiro e pode ser encontrada em todas as regiões produtoras de cucurbitáceas podendo atacar a planta em todos os seus estádios de desenvolvimento.

O sintoma mais importante dessa doença aparece nas ramas. No entanto, também podem ser visualizadas alterações nas folhas e nos frutos, quando a doença ocorre de forma mais severa. No início da doença é comum observar nas ramas, geralmente próximo ao solo, o aparecimento de pontos de aspecto aquoso e descoloridas. Também podem-se observar gotículas de exsudatos. Posteriormente, esta região torna-se escurecida por causa da presença das estruturas reprodutivas do patógeno que, na maioria das vezes, é acompanhada de exsudado gomoso de coloração marrom avermelhada (Figura 1). Em ataques mais severos pode ocorrer o murchamento das ramas. Os sintomas nos frutos caracterizam-se pela presença de podridões moles na região peduncular, que também pode vir acompanhada das frutificações do patógeno, principalmente na fase de pós-colheita. Nas folhas infectadas podem-se observar manchas circulares de coloração marrom-escura, rodeadas ou não por halo clorótico. Geralmente, a infecção foliar inicia nos bordos e cresce em direção à nervura central.

Foto: Francisco Marto Viana.
Figura 1. Sintomas causados por Didymella bryoniae
em melão misturando as estruturas reprodutivas do
patógeno e exsudado gomoso.
 

O crestamento gomso é causado pelo fungo Didymella brioniae, que tem várias sinonímias, tais como Mycosphaerella citrullina, M. melonis, Phoma cucurbitacearum, Ascochyta citrullina, A. melonis, etc. Este patógeno pode atacar várias cucurbitáceas, no entanto, os danos mais sérios são observados em melão e pepino.

Esse fungo sobrevive nas sementes, no solo e nos restos de cultura e se dissemina por meio de sementes, da água e de implementos agrícolas.

Para o manejo adequado da doença é importante a adoção de medidas culturais para a redução do inóculo e aplicação de fungicidas adequados. Como medidas culturais é importante manter o solo bem drenado e evitar a “amontoa” no colo da planta. Os frutos com sintomas e restos de cultura devem ser queimados. É interessante evitar cultivos sucessivos, realizando-se assim, a rotação de cultura com plantas não hospedeiras para diminuir o inóculo na área, e não utilizar sementes para replantio de cultivos anteriores. Dentre os produtos químicos indicados para o controle da doença estão os triazóis (metconazol, tebuconazol e difenoconazol), os benzimidazóis (tiabendazol e tiofanato metílico), bisditiocarbamatos (principalmente mancozebe), as imidas cíclicas (iprodione e procimidona) e clorotalonil. Para a podridão dos frutos causada por D. bryonae, além do tratamento químico, é recomendado o armazenamento do fruto em temperatura de aproximadamente 10 ºC.

Podridão-do-colo ou cancro-seco

Esta doença ocorre principalmente na zona do colo e partes baixas das ramas do meloeiro. Os sintomas iniciais da podridão-do-colo assemelham-se aos provocados por D. bryoniae, aparecendo lesões aquosas de coloração marrom clara, com presença de gotículas de exsudato translúcido de coloração marrom, que com o passar do tempo tornam-se de coloração mais escura.

Posteriormente, esta área afetada vai secando e adquirindo um aspecto esbranquiçado, com fendas longitudinais, dando a impressão de que a epiderme está se separando do restante da rama. Uma forma fácil de distinguir entre a podridão-do-colo e o cancro-gomoso é friccionando o colo da planta na região afetada. Tratando-se da podridão-do-colo ocorre o desfiamento dos tecidos, sendo o cancro-gomoso, o colo da planta se espedaça. Em uma fase mais desenvolvida da doença podem-se observar numerosos pontos negros, que são estruturas do patógeno (esclerócios) (Figura 2). À medida que o patógeno vai colonizando as ramas, as folhas começam a amarelar e às vezes aparecem manchas necróticas nas margens. As folhas acabam secando e ficam aderidas ao pecíolo. Raramente os sintomas podem ser encontrados nos frutos. No entanto, quando ocorre a penetração pelo pedúnculo, em poucos dias o fungo invade todo o fruto e surgem inúmeras pontuações negras; os esclerócios. As sementes também podem ser afetadas.

Foto: Rui Sales Júnior.
Figura 2. Sintomas de Macrophomina phaseolina no colo
do meloeiro.
 

A podridão-do-colo é causada pelo fungo Macrophomina phaseolina, que é polífago, tem pouca especificidade e é típico de regiões secas. A principal forma de infecção da planta é por meio dos esclerócios que ficam no solo e em restos de cultura, e sementes infectadas. A penetração acontece nas raízes terciárias e secundárias e vai progredindo até a raiz principal ou, mais raramente, pelo pedúnculo do fruto.

Para o manejo da doença devem-se utilizar sementes sadias e evitar o plantio em áreas onde anteriormente havia cultivo de feijão ou milho e manter o balanço hídrico adequado.

Murcha-de-fusário ou fusariose

A doença pode ocorrer sozinha ou juntamente com o cancro-gomoso. Neste caso, os danos às plantas serão bem mais sérios.

A fusariose se caracteriza com murcha e necrose nas folhas (Figura 3) que, inicialmente, afetam a planta unilateralmente e mais tarde atinge toda a planta. Outro sintoma característico é a redução no desenvolvimento e o escurecimento vascular quando cortes transversais são feitos nas ramas. Quando a infecção ocorre em plantas jovens pode ocasionar a morte das mesmas.

Foto: Francisco Marto Viana.
Figura 3. Murcha do meloeiro causada por Fusarium
oxysporum
f.sp. melonis.
 

A doença é causada pelo fungo Fusarium oxysporum f.sp. melonis. As estruturas deste patógeno podem sobreviver durante vários anos no solo e penetra pelas raízes. Os restos de plantas infectadas contém inúmeras estruturas do patógeno que podem dar origem a novas infecções. A disseminação de F. oxysporum f.sp. melonis ocorre através de partículas de solo transportadas por implementos e práticas agrícolas, ou por sementes infectadas.

A fusariose é de difícil manejo devendo-se, portanto, adotar medidas preventivas, tais como a utilização de sementes certificadas, eliminar as plantas com sintomas de murcha, adubação equilibrada, evitar irrigações por sulco e manter os níveis de cálcio altos. Não há fungicidas registrados para controle deste patógeno em meloeiro.

Míldio

O míldio é uma das principais doenças do meloeiro no Submédio do Vale do Submédio São Francisco, assim como nas demais regiões produtoras do mundo, pode atacar diversas espécies de cucurbitáceas. Os maiores danos ocorrem quando em condições de temperaturas mais amenas e umidade elevada, condições essas, que ocorrem no primeiro semestre do ano no Vale do Submédio São Francisco.

O sintoma inicial da doença é o aparecimento de manchas amareladas com aspecto oleoso no limbo foliar, que progridem para manchas necróticas irregulares, de tamanho variável, circundadas por halo clorótico (Figura 4). A folha torna-se completamente seca, porém continua aderida à planta. Muito raramente ocorrem sintomas nos cotilédones e as folhas verdadeiras, enquanto jovens, apresentam resistência ao patógeno. Raramente há infecção na flor e os frutos não são infectados pelo fungo.

Foto: Francisco Marto Viana.
Figura 4. Manchas necróticas causadas por míldio.

O míldio é causado pelo fungo Pseudoperonospora cubensis, um parasita obrigatório que necessita de água livre para alcançar os estômatos e iniciar o processo infeccioso. Os esporos formados sobre as folhas podem ser facilmente levados pelo vento e/ou respingos de chuva, e a sobrevivência ocorre, muito possivelmente, na forma de micélio em cucurbitáceas silvestres, restos de cultura e plantios vizinhos, podendo ser levado a longas distâncias por correntes de ar.

Deve-se evitar o plantio de melão em áreas encharcadas ou com drenagem deficiente e em cultivos adensados. Eliminar os restos de cultura e nos casos em que ocorreram ataques severos de míldio nos plantios anteriores e as condições climáticas são favoráveis, deve-se realizar o controle preventivo, utilizando principalmente cúpricos, clorotalonil, mancozeb, etc. No entanto, estes produtos não são eficientes quando a doença já está estabelecida, devendo-se então, utilizar produtos sistêmicos associados aos preventivos.

Oídio

É a principal doença do meloeiro no Nordeste brasileiro e uma das mais importantes em todo o mundo. No Submédio do Vale do São Francisco, as condições são favoráveis ao patógeno durante todo o ano.

O sintoma característico dessa doença é o aparecimento de manchas pulverulentas de cor branca na superfície das folhas. Esta pulverulência pode recobrir toda a folha (Figura 5), assim como pecíolos e ramas. Posteriormente, o tecido afetado torna-se amarelado e seca. Quando o ataque é muito severo até mesmo o fruto pode ser afetado.

Foto: Francisco Marto Viana.
Figura 5. Ataque de oídio em folhas de meloeiro.

O agente causal da doença são os fungos parasitas obrigatórios Erysiphe cichoracearum e Sphaerotheca fuliginea. A disseminação do patógeno ocorre principalmente pelo vento, pela água e pelos insetos.

É recomendada a utilização de enxofre para controle da doença, assim como de fungicidas sistêmicos (triazóis e estrobilurinas). Como manejo cultural para minimizar os danos causados pelo patógeno, recomenda-se a destruição dos restos culturais, assim como de outras cucurbitáceas presentes na área e em caso de alta incidência da doença em plantios sucessivos, realizar rotação de cultura.

Antracnose

A doença pode afetar toda a parte aérea da planta e no Submédio do Vale do São Francisco ocorre principalmente no primeiro semestre do ano. Caracteriza-se pelo aparecimento de manchas aquosas, que posteriormente vão se tornando necróticas. As folhas podem ficar encarquilhadas ou apresentar perfurações nos locais das lesões. Estas lesões são circulares, pardacentas, com o centro mais claro (Figura 6). Nas hastes e nos pecíolos, as lesões são elípticas, enquanto nos frutos são elípticas ou circulares, deprimidas, podendo apresentar uma massa rósea no centro das lesões, que constituem nas estruturas do patógeno.

A antracnose (Figura 6) é causada pelo fungo Colletotrichum orbiculare (C. lagenaria) e recomendam-se como medidas de manejo o uso de sementes sadias, destruição de restos de cultura e de outras cucurbitáceas, pulverização com fungicidas cúpricos.

Doenças causadas por bactérias

Mancha-aquosa do melão

Esta doença ocorre principalmente no primeiro semestre do ano, na época chuvosa.

Os sintomas dessa doença podem ser observados nas folhas de plantas em diversas fases de desenvolvimento e nos frutos. Em plântulas infectadas, manchas encharcadas podem ser observadas nas folhas cotiledonares que podem tornar-se necróticas. Nas folhas, os sintomas iniciam-se na forma de pequenas manchas escuras e angulosas (Figura 6A). Os sintomas da mancha-aquosa são mais visíveis nos frutos surgindo, inicialmente, em pequenas manchas de aparência encharcada ou oleosa, com ou sem a presença de halo, que se expandem rapidamente e podem tornar-se necróticas (Figura 6B). As lesões também podem se estendem até a polpa do fruto e atingir as sementes.

Fotos: Francisco Martos Viana.
Figura 6. Folhas (A) e fruto (B) de meloeiro
exibindo sintomas típicos de mancha-aquosa.

A mancha-aquosa (Figura 6) é causada pela bactéria Acidovorax avenae subsp. citrulli (=Pseudomonas pseudoalcaligenes subsp. citrulli). A bactéria geralmente é introduzida na área de plantio por meio de sementes contaminadas que resultarão em plântulas infectadas. A disseminação da bactéria para outras plantas, se dá por meio de respingos de chuva e água de irrigação ocorrendo a penetração através de ferimentos ou estômatos. Após a colheita, a sobrevivência do patógeno ocorre em restos de cultura, hospedeiros alternativos e plantas voluntárias.

Por ser uma doença que é transmitida por semente, a medida de controle fundamental a ser adotadas é a utilização apenas de sementes certificadas no plantio. Evitar plantio em áreas com histórico de ocorrência da doença em plantios anteriores, procedendo-se sempre a rotação de culturas, com espécies não hospedeiras. Evitar o plantio em períodos chuvosos e com elevada umidade relativa do ar, condições altamente favoráveis ao aparecimento da doença. Não existe controle químico eficaz para o controle desta enfermidade.

Barriga d´água ou fermentação interna dos frutos

Até a época da colheita, os frutos parecem firmes e sadios. No entanto, após a colheita, esses frutos dão a impressão de estarem cheios de água ao serem balançados. Quando os frutos são cortados, verifica-se a presença de grande quantidade de líquido resultante da decomposição do tecido causado pela bactéria Xanthomonas campestris pv. Melonis, podendo, algumas vezes, estar associada à Pectobcterium carotovorum subsp. Carotovorum (Erwinia carotovora subsp. carotovora), quando então, os frutos exalam mau cheiro característico.

O controle deve ser realizado de forma preventiva, evitando-se que a colheita coincida com o período chuvoso, evitar excesso de nitrogênio (N) e manter a adubação com cálcio (Ca) equilibrada.

Doenças causadas por nematoides

Meloidoginose

Doença bastante comum nas áreas produtoras de melão na região Nordeste brasileira, onde causa prejuízos significativos, podendo ocasionar perdas de até 100% da produção.

Nas áreas com ocorrência de nematoides os sintomas aparecem em reboleira, com as plantas apresentando crescimento irregular. As plantas infectadas são muito sensíveis às murchas, respondem mal à adubação, crescem lentamente e podem apresentar clorose. Estes sintomas acentuam-se na fase de frutificação. As plantas infectadas apresentam sistema radicular pouco desenvolvido e numerosas raízes laterais localizadas superficialmente. O único sintoma característico do ataque de nematoides são as galhas nas raízes (Figura 7), os demais sintomas são semelhantes aos de outras doenças causadas por patógenos radiculares.

Foto: Francisco Martos Viana.
Figura 7. Galhas em raízes de meloeiro causadas
por Meloidogyne incognita.
.

 

No Submédio do Vale do São Francisco, a espécie mais comum é Meloidogyne incognita. Os demais gêneros e espécies não provocam galhas nas raízes e os prejuízos são menores.

A melhor medida de controle é utilizar plantas formadas em viveiros livres de contaminação. A destruição das raízes logo após a colheita e o revolvimento do solo são importantes para evitar a sobrevivência do patógeno, assim como a eliminação das ervas daninhas que podem servir de reservatório do patógeno. Existe apenas um nematicida registrado para o controle deste nematoide em meloeiro, sendo fenamifós do grupo dos organofosforados.

Doenças causadas por vírus

Mosaico-da-melancia (“Papaya ringspot vírus” – PRSV-W)

Este vírus infecta várias cucurbitáceas e sua principal forma de disseminação é a transmissão por pulgões. No entanto, não há evidências de que seja transmitido via sementes. Sua sobrevivência se dá em cucurbitáceas selvagens, na ausência das espécies cultivadas.

Os sintomas característicos nas folhas são de amarelecimento entre as nervuras seguido de mosaico severo e malformação. As folhas apicais têm o limbo foliar reduzido e aparecem apenas nas nervuras principais. Os frutos apresentam-se menores, deformados e com alteração na coloração.

Mosaico-da-melancia II (“Watermelon mosaic vírus-II” – WMV II)

A ocorrência desta virose em plantios de cucurbitáceas no País tem sido relativamente baixa. Os sintomas são de mosaico, embolhamento, anéis cloróticos e malformação em folhas. Ocorre redução da qualidade e quantidade de frutos.

Mosaico-do-pepino (“Cucumber mosaic vírus” – CMV)

Apesar de infectar várias culturas de Socioeconomia, apresenta baixa ocorrência nas regiões produtoras do País. Este vírus causa severo enfezamento nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta. As folhas tornam-se menores, mosqueadas, com mosaico, enroladas e malformadas. As plantas ficam em forma de roseta em decorrência do encurtamento dos internódios. As flores podem apresentar pétalas esverdeadas e os frutos podem ser deformados e de tamanho reduzido.

Para o manejo dessas viroses é importante que se tomem medidas preventivas, tais como: utilização de inseticidas para controle de pulgões-vetores, aplicação de óleo mineral que, possivelmente, interfere na retenção das partículas virais pelos pulgões, evitar o estabelecimento de novos plantios próximos a campos já infectados pelo vírus, eliminação de plantas daninhas e evitar cultivos na direção do vento.

Amarelão ("Melon yellowing associated vírus"MyaV)

Esta doença foi relatada pela primeira vez em 1997. No entanto, se disseminou rapidamente e é frequentemente encontrada em plantios de melão na região Nordeste. No início, os sintomas aparecem em reboleira na área cultivada, com a planta apresentando clareamento entre as nervuras das folhas e, posteriormente, as folhas tornam-se completamente amarelas (Figura 8). O amarelecimento tem início na folhas mais velhas quando as plantas têm mais de 30 dias. Este vírus é transmitido pela mosca-branca.

Foto: Mirtes Freitas Lima.
Figura 8. Plantação de melão apresentando
sintomas de amarelão.
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