Embrapa Semiárido
Sistemas de Produção, 5
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Ago/2010
Sistema de Produção de Melão
Vanderlise Giongo
Tony Jarbas F. Cunha

Sumário

Apresentação
Socioeconomia
Clima
Manejo do solo
Adubação
Cultivares

Propagação
Plantio
Irrigação
Tratos culturais
Doenças
Pragas
Agrotóxicos
Colheita
Mercado
Rentabilidade
Referências
Glossário
Expediente

 

Manejo do solo

 

Solo
Preparo do solo
Cultivo em nível
Adubos verdes e coquetéis vegetais
Adubos orgânicos

O uso e manejo do solo, sem uma avaliação prévia das suas potencialidades e limitações, tem sido um dos motivos da degradação dos recursos naturais fundamentais para a sobrevivência do homem. A degradação, os altos índices de salinidade ou manejo equivocado, por meio do excesso de água, adubações, tráfego de máquinas e falta de um planejamento incluindo sistemas de culturas e sistemas de preparo do solo estão ameaçando as oportunidades e flexibilidades de aumentar os serviços prestados pela natureza e, consequentemente, leva ao aumento de demanda em investimentos para a conservação de solos e recuperação de áreas degradadas. A exploração agrícola com o cultivo de melão em sistemas irrigados, nos solos do Semiárido Tropical brasileiro, pode causar degradação dos solos e consequentemente ameaçar a qualidade e a sustentabilidade do agronegócio da região. O solo degradado não exerce suas funções e com isso compõe sistemas não sustentáveis de produção agrícola.

A principal função ou A única função do solo, no início do desenvolvimento da ciência do solo, era servir de meio para o crescimento das plantas. A partir da década de 1990, outras funções do solo passaram a ser reconhecidas, entre elas destacam-se a capacidade de regular e compartimentalizar o fluxo de água no ambiente, estocar e promover a ciclagem de elementos importantes para o desenvolvimento das plantas e animais e atuar como um tampão ambiental, ou seja, ter a capacidade de não deixar elementos ou substâncias tóxicas entrarem na cadeia alimentar. Portanto, o solo para ter qualidade deve ser capaz de fornecer condições adequadas para o crescimento e desenvolvimento das plantas, fracionar e regular os fluxos da água, promover a ciclagem de elementos importantes como Carbono (C), Nitrogênio (N), Fósforo (P), e Potássio (K), entre outros; e de uma abordagem ampla, promover a saúde e o bem estar de plantas e animais. A perda de qualidade do solo das áreas está associada aos problemas que vêm ocorrendo com o uso inadequado dos recursos naturais, de insumos e práticas agrícolas. A utilização de práticas de manejo e conservação do solo adequadas, considerando-se os parâmetros de qualidade e análise dos principais problemas físicos, químicos e biológicos devem ser abordados de forma sistêmica para contribuir para a sustentabilidade dos solos cultivados com melão.

Solo

O solo é um recurso fundamental para a agricultura e o ambiente. Este é constituído pelas fases sólida, líquida e gasosa. A fase sólida é forma da por material mineral e orgânico, sendo a proporção de cada um desses componentes variável de solo para solo. Um solo ideal para o desenvolvimento das plantas seria aquele que apresentasse: profundidade adequada ao armazenamento de água e ao crescimento das raízes; ser composto por 45% de parte mineral, 5% de parte orgânica, 25% de parte gasosa e 25% de parte líquida; ter suprimento adequado de nutrientes, sem excesso de elementos tóxicos; textura média, boa estrutura para fácil movimento de ar, água e raízes, e boa atividade biológica; friabilidade e boa drenagem. Com isso, pode-se verificar que análise do solo adequado para o cultivo do melão é complexa, não pode ser avaliado somente por meio de uma análise química, por exemplo.

A cultura do melão se adapta a diferentes tipos de solos, como Argissolos e Latossolos, mas não se desenvolve bem naqueles de baixadas úmidas, com má drenagem como, por exemplo, os Gleissolos e nos tipos muito arenosos e rasos como os Neossolos Quartzarênicos, Regossolos e Neossolos Litólicos. Os solos arenosos causam mais desgaste aos implementos de preparo, são mais propensos à compactação e muito sensíveis à erosão após preparados.

O sistema radicular do meloeiro é, normalmente, superficial, concentrando-se a 30 cm de profundidade, porém, em solos profundos e bem arejados (Argissolos e Latossolos de textura média), atinge profundidades acima de 1 m. Por isso, deve-se dar preferência a terrenos com boa exposição ao sol, escolhendo-se os solos férteis, com 80 cm ou mais de profundidade, de textura média (franco-arenoso ou areno-argiloso), com boa porosidade e que possibilitem o maior desenvolvimento do sistema radicular, a melhor infiltração da água, drenagem mais fácil e apresentem teores de matéria orgânica adequados. Os solos argilosos, como os Vertissolos, por serem pegajosos quando úmidos e duros quando seco, são difíceis de preparar e, nestes casos, recomenda-se o plantio em camalhões para proporcionar melhor drenagem e aeração. Em solos mais rasos deve-se dar preferência ao cultivo fertirrigado, pois neste sistema a aplicação de água e fertilizantes se dá dentro de 30 cm a 50 cm da superfície do solo.

O meloeiro é exigente quanto à fertilidade do solo. No que diz respeito à reação do solo, capacidade de troca de cátions e saturação por bases, comporta-se melhor em solos que apresentem faixa de pH entre 6 e 7,5, boa capacidade de troca de cátions e saturação por bases de 60% a 70%, sendo esta a faixa mais favorável para assegurar o melhor desenvolvimento e produtividade da cultura. Solos com alta capacidade de retenção de umidade também são interessantes para a cultura do melão.

Quando cultivados em solos salinos e sálicos a produção pode diminuir 25% quando a condutividade elétrica for igual a 4 dS/m e de 50% , quando igual a 6 dS/m. É necessário avaliar, antes do plantio, a adequação das condições de aptidão edafoclimáticas do local para o cultivo do meloeiro.


Preparo do solo

As operações de preparo do solo devem ser realizadas com base em critérios conservacionistas, considerando-se a textura do solo e a declividade do terreno.

Em áreas não cultivadas anteriormente, o preparo inicial do solo inclui a limpeza da área por desmatamento, aração e gradagem. Em áreas já cultivadas, a aração pode ser precedida de uma passada de roçadeira ou grade de discos. Em áreas que apresentam camadas compactadas e/ou adensadas, recomenda-se realizar uma subsolagem. Para complementar a aração, costuma-se gradear a área, facilitando as operações subsequentes e a implantação da cultura. Em geral, a profundidade de aração é de 30 cm enquanto a da gradagem é de cerca de 20 cm. . Nessas operações é comum a incorporação do calcário.

Durante a gradagem deve-se evitar o destorroamento excessivo do solo, deixando-se os torrões que servem para fixação das gavinhas e, ainda, reduzem a área de contato do fruto com a superfície do solo, diminuindo, portanto, a formação da "mancha de encosto". Esta mancha, quando acentuada, deprecia a qualidade comercial do melão. O sulcamento para aplicação do adubo orgânico e dos demais fertilizantes de fundação deve ser feito, no sentido perpendicular à direção dos ventos dominantes, para evitar que a planta seja contorcida pelos ventos. Os adubos recomendados pelo resultado da análise do solo são, em seguida, misturados ao solo com o auxílio de um cultivador ou enxada. Para plantios em pequenas áreas, pode ser usado o sistema de covas, que devem ser abertas com enxada, podendo obedecer ao seguinte espaçamento 2 m x 0,40 m ou 2 x 0,50 m (uma planta por cova) e 2 x 1 m (duas plantas por cova)., Em certas condições, cultivo no período chuvoso ou solo com baixa drenagem é recomendável o fazer canteiros com largura de 1 m a 1,5 m e altura de 15 cm a 25 cm, seguido do sulcamento com a finalidade já especificada.

Cultivo em nível

Uma prática que deve ser observada, quando o terreno apresentar declividade, no manejo da cultura do melão é o plantio em nível. As linhas de plantio ou os canteiros devem ser feitos seguindo as “curvas de nível”. O plantio em nível diminui o arraste de partículas de solo por enxurradas, provenientes das chuvas de alta intensidade concentradas em curto período. Deve-se analisar esta prática no conjunto das tomodas de decisão pois implica em alterações no dimencionamento do sistema de irrigação quando este for feito por gotejamento. Outras práticas culturais, como a utilização de adubos verdes e coquetéis vegetais podem trazer os measmos benefíos para a cultura.

Adubos verdes e coquetéis vegetais

Tanto a utilização de adubos verdes, plantas solteiras, ou a utilização de coquetéis vegetais, mistura de leguminosas, oleaginosas e gramíneas associados ao não revolvimento do solo pode ser uma estratégia de manejo viável para os solos do Semiárido Tropical brasileiro, para o cultivo do melão. Nestes sistemas, as espécies vegetais podem ser semeadas após a colheita do melão ou antecedendo o plantio do mesmo.Quando atingem o estádio de pleno florescimento são cortadas ou dessecadas e depositadas sobre o solo. Este manejo permite a movimentação dos nutrientes das camadas mais profundas do solo, extraídos por meio do sistema radicular, para a sua superfície, após o corte da fitomassa dos adubos verdes e sua decomposição pela ação do ambiente. Além disso, serve como cobertura morta, reduzindo a perda de água do sistema e é fonte de matéria orgânica para o solo.

Porém, a liberação de nutrientes desses coquetéis vegetais depende das características dos mesmos (interação entre as espécies utilizadas, do manejo da fitomassa, da época de semeadura e de corte, da composição química do resíduo vegetal e sua relação C/N) e das condições edafoclimáticas (pluviosidade, aeração, temperatura, atividade macro e microbiológica do solo, e do tipo de solo).

Tanto os adubos verdes como os coquetéis vegetais podem promover melhorias no sistema solo, dentre elas destacam-se:

a) Protegem o solo das chuvas de elevada intensidade que ocorrem no Semiárido em períodos muito concentrados, evitando a desagregação do solo e o selamento superficial.

b) Facilitam a infiltração da água no solo pela redução da velocidade de escoamento da enxurrada e a formação de canalículos após a decomposição das raízes.

c) Permitem a manutenção e elevação do teor de matéria orgânica do solo pelo aporte contínuo de material vegetal.

d) Reduzem as oscilações de temperatura da camada superficial do solo, com reflexo em menor evaporação e maior disponibilidade de água às plantas.

e) Rompem as camadas adensadas de solo, por meio do sistema radicular agressivo de algumas espécies, funcionando como uma subsolagem biológica.

f) Melhoram a estrutura do solo em função da massa de raízes produzidas e das substâncias orgânicas por elas liberadas, resultando num processo de cimentação, aumentando o tamanho dos agregados do solo.

g) Aportam nitrogênio a partir do uso de leguminosas, possibilitando a redução do uso deste nutriente na cultura em sucessão.

h) Reciclam nutrientes através do sistema radicular profundo de algumas espécies.

i) Reduzem a lixiviação de nutrientes, em especial do nitrato ( NO-3).

j) Diminuem a população de plantas espontâneas através de efeito alelopático e/ou supressor.

k) Fornecem substrato para os microorganismos do solo, considerados como os principais agentes na formação e estabilização dos agregados.

Adubos orgânicos

Além da adubação convencional, a utilização de adubos orgânicos pode ser uma estratégia adotada para o cultivo de melão. Adubos orgânicos são resíduos utilizados na agricultura e que contêm elevados teores de componentes orgânicos, como lignina, celulose, lipídios, graxas, carboidratos óleos e, principalmente, nutrientes. O carbono é o elemento principal existente nestes compostos, mas, destaca-se, também, a presença de N, P, K, Ca, Mg e micronutrientes. A adubação orgânica pode ser definida como a deposição de resíduos orgânicos de diferentes origens sobre o solo com o objetivo de melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do mesmo. Em termos gerais, os adubos orgânicos podem ser agrupados em:

a) Origem animal (esterco de caprinos, ovinos, bovinos e outros animais).

b) Origem vegetal (adubos verdes e coberturas mortas).

c) Resíduo urbano (lixo sólido e lodo de esgoto).

d) Resíduos industriais (cinzas e outros).

e) Compostos orgânicos (vermicomposto).

f) Biofertilizantes (enriquecidos ou não).

g) Adubos orgânicos comerciais.

A adubação orgânica apresenta importantes vantagens: a) aumenta a matéria orgânica do solo, b) melhora a estrutura do solo, c) aumenta a capacidade de retenção de água para as plantas, d) aumenta a infiltração da água da chuva, e) aumenta a CTC, f) complexa ou solubiliza alguns elementos químicos tóxicos ou essenciais às plantas (Fe, Zn, Mn, Cu, Co, Mo), g) diminui os efeitos tóxicos do Al ,. h) aumenta a atividade microbiana do solo.

Os resíduos orgânicos geralmente contêm uma pequena fração mineral (solúvel em água, ácidos diluídos ou soluções salinas), enquanto a maior parte é constituída de compostos orgânicos, os quais devem ser transformados enzimaticamente, para tornar os nutrientes disponíveis às plantas. Este processo é denominado de mineralização, sendo influenciado de acordo com o suprimento de oxigênio, com as características do material orgânico e com as condições ambientais. Considerando que a relação C/N da microbiota decompositora de resíduos no solo apresenta valor aproximado de 10:1, e que sejam liberadas duas moléculas de CO2 para cada carbono incorporado à biomassa microbiana, a mineralização de N pode ocorrer com a adição de resíduos com relação C/N menor que 30:1. Esta relação de C volatilizado e C incorporado à biomassa pode, entretanto, ser muito variável, dependendo principalmente da temperatura, do suprimento de oxigênio e da umidade.

A composição físico-química dos estercos tem grande variação. A quantidade de nutrientes, especialmente de N, P2O5 e K2O, está diretamente relacionada com o teor de massa seca dos estercos. O esterco é considerado sólido se a matéria seca for maior que 20%, pastoso se for de 8% a 20% e líquido se for menor de 8%. O teor de nitrogênio, fósforo e potássio está diretamente relacionado com alimentação e tamanho dos animais, e com parâmetros fisiológicos. O N é a característica principal que é usada na recomendação de adubação, em função de ser o nutriente que as plantas mais necessitam. O aproveitamento da urina nos estábulos ou pocilgas é fundamental porque, em média, 50% do N existente nos dejetos animais é proveniente da mesma.

A distribuição do esterco no solo merece alguns cuidados, os quais estão relacionados com os horários de aplicação no solo e sua incorporação ou não. Os horários para a aplicação devem ser até 10h da manhã, principalmente em dias quentes ou à tardinha. O esterco não incorporado ao solo pode perder, em média, 30% do nitrogênio.

As fontes de matéria orgânica podem apresentar teores bastante diferenciados de N, P2O5 e K2O. No cálculo da quantidade de nutrientes contidos em uma tonelada de esterco sólido, ou 1.000 L de esterco líquido, deve-se considerar a concentração de nutrientes na matéria seca e o índice de eficiência de liberação do nutriente, da forma orgânica para a mineral, no primeiro e segundo ano.

Vale salientar que os adubos orgânicos constituem uma excelente fonte para o aporte de microelementos, via de regra, não contemplados nas formulações químicas convencionais que se limitam aos macroelementos.


 
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