Embrapa Semiárido
Sistemas de Produção, 5
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Ago/2010
Sistema de Produção de Melão
José lincoln Pinheiro Araújo
Rebert Coelho Correia

Sumário

Apresentação
Socioeconomia
Clima
Manejo do solo
Adubação
Cultivares
Propagação
Plantio
Irrigação
Tratos culturais
Doenças
Pragas
Agrotóxicos
Colheita
Mercado
Rentabilidade
Referências
Glossário
Expediente

 

Mercado

Um dos elos da cadeia produtiva mais importante para a obtenção da eficiência econômica das explorações agrícolas é a comercialização, uma vez que essa atividade está diretamente associada à estabilidade e à renda dos produtores.

No mercado interno - o melão é comercializado nos mercados local de produção, regional e nacional.

O mercado local é constituído pelas cidades que estão situadas próximas aos polos de produção, sendo os frutos comercializados a granel e apresentando qualidade inferior.

O mercado regional corresponde à região geopolítica onde o polo de produção está assentado. Os polos de Mossoró e Açu, do Baixo Jaguaribe e do Submédio São Francisco são os principais produtores de melão do País e seus mercados regionais correspondem às capitais e às principais cidades da região Nordeste. Neste mercado, os frutos também são comercializados a granel e com qualidade inferior, embora existam na região nichos de mercado que exigem um produto de maior qualidade e encaixado.

O mercado nacional é representado, principalmente, pelos grandes centros consumidores da região Centro-Sul do País (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, DF). Tais centros de consumo estão se organizando cada vez mais nos moldes dos grandes mercados internacionais de produtos hortifrutícolas, que exigem frutos encaixados e de alta qualidade.

No tocante à distribuição do melão no mercado doméstico, os atacadistas são os principais agentes do processo. Compram e vendem o produto a granel ou em caixas e, muitas vezes, realizam outras funções, como a de classificação, padronização e embalagem.

Existem vários tipos de atacadistas, dependendo da área de atuação e das funções de comercialização que assumem. Dentre eles, destacam-se os atacadistas nacionais, representados, principalmente, pelos atacadistas das Centrais Estaduais de Abastecimento S.A (CEASAs), principais intermediadores dos produtos hortifrutícolas do País.

Também são elementos relevantes no processo de comercialização de melão, no mercado interno, os atacadistas regionais e locais, os primeiros sendo responsáveis pela distribuição do melão nos principais centros de consumo da região geopolítica onde está inserido o polo de produção, e os últimos, agrupando a produção do polo onde atuam e a repassando para os atacadistas regionais e nacionais.

Os principais clientes dos atacadistas são as casas tradicionais de frutas, "sacolões", feirantes de mercados municipais e de feiras livres, além de minimercados de bairros.

Outro segmento que amplia sua participação na distribuição do melão e dos demais produtos hortifrutícolas no mercado doméstico são as grandes redes de supermercados. Tais instituições – seguindo o exemplo das redes de supermercados europeias - que hoje já controlam a distribuição dos produtos hortifrutícolas na Europa, estão implantando centrais de compras e distribuição, responsáveis pela recepção do produto diretamente da empresa produtora, que é distribuído para as demais lojas de sua área de atuação.

O período de maior concentração da oferta de melão no mercado doméstico ocorre entre os meses de outubro e fevereiro, período em que os polos de produção de Mossoró e Açu, no Rio Grande do Norte e do Baixo Jaguaribe no Ceará, responsáveis, respectivamente, por 46,57% e 35% do melão produzido no País e escoam boa parte de suas produções.

Nos principais mercados consumidores do País, a época do ano de baixa oferta do melão, acontece entre os meses de março e julho, quando a oferta de melão potiguar e cearense no mercado é baixa.

Esse fenômeno é explicado pela dificuldade de se produzir melão naquelas zonas de produção durante a estação das chuvas (janeiro até maio) e permite que os produtores de melão do Submédio São Francisco alcancem com mais fluidez os grandes mercados consumidores, já que o clima da região permite que se cultive o melão praticamente durante todos os meses do ano.

Mercado externo - O melão ampliou bastante sua participação nas exportações brasileiras de frutas, tanto que em 2004 foi exportado 142.587 toneladas, passando para 211.789 toneladas em 2008 (Secex, 2009).

Outra característica importante do melão, em relação ao mercado externo, é que se trata da fruta brasileira mais típica de exportação, pelo fato de destinar maior percentual de sua produção ao mercado externo chegando, em algumas safras, a ultrapassar os 40% do volume comercializado, ao passo que a maioria das outras frutas não ultrapassa os 5%. Praticamente, todo o melão exportado pelo Brasil sai dos polos de produção de Mossoró e Açu e do Baixo Jaguaribe alcançando o mercado internacional, principalmente a União Europeia, mercado que absorve cerca de 90% das exportações brasileiras de melão, entre os meses de setembro e março, época que corresponde às estações de outono e inverno na Europa.

No ano de 2008, a Holanda, que atua como mercado reexportador distribuindo o produto para os demais países do continente, importou 76 mil t, seguida pelo Reino Unido com 68 mil t; em seguida, vem a Espanha (46 mil t). Outros países que também se destacam como importantes centros importadores do melão brasileiro são: Alemanha, Itália e Portugal (Secex, 2009).

Em nível mundial, a tendência do melão é de excepcional crescimento de mercado. Na década de 1970, o crescimento mundial do consumo de melão, foi de 3%; na de 1980, de 4,1 %, na de 1990 de 4,8% e na metade da primeira década de 2000, já registra um crescimento de 4,3%. Esse crescimento acelerado indica que os mercados não estão ainda consolidados e recebem novos consumidores. A União Europeia, principal mercado importador do Brasil, mostra aumento em suas importações de melão desde a década de 1980, quando cresceu anualmente a uma taxa de 8,2%. Esse crescimento acelerou para 10,7% ao ano na década de 1990. É importante afirmar que a principal causa do aumento do consumo do melão na União Europeia é o fato de este produto nesse mercado estar passando da fase de produto de consumo de temporada para um produto de consumo contínuo, visto que esse crescimento está ocorrendo, principalmente, no outono e no inverno quando, tradicionalmente, é de pouco consumo.

Com relação à forma de organização do mercado internacional de melão, principalmente do mercado europeu, que absorve cerca de 90% das importações brasileiras, constata-se que nesse macromercado a distribuição está concentrada nas mãos das grandes redes de supermercados que passam a exigir, com intensidade crescente, maior nível de qualidade no tocante às características intrínsecas do produto (consistência, uniformidade de forma, tamanho e cor, teor de açúcar, etc.).

No tocante às preferências dos consumidores europeus em relação ao melão, constata-se, atualmente, que na maioria dos países que compõem o macromercado da União Europeia, a preferência é por frutos de tamanho pequeno (média de 1 kg) e forma arredondada. A única exceção ocorre no mercado espanhol, que prefere melões grandes e de forma elíptica ou ovolada.

Neste contexto, as empresas brasileiras produtoras e exportadoras de melão estão vivendo uma excelente oportunidade de ampliação de exportações, em virtude do aumento do consumo do fruto, na Europa, nos períodos de outono e inverno, época em que acontecem as exportações brasileiras para aquele mercado. Entretanto, como os tipos de melão exportados pelo Brasil (Amarelo e Pele-de-sapo) apresentam tamanho e formas diferentes do que prefere a maioria dos consumidores europeus (tamanho médio a grande e formas elípticas ou ovaladas) e a qualidade do fruto ainda não está dentro dos padrões exigidos pelos grandes operadores internacionais, o setor brasileiro exportador de melão vive, também, uma forte ameaça de perda de cota de mercado para outros países que entram no mercado europeu na mesma época das exportações do Brasil, com frutos de melhor qualidade e dimensões mais adequadas ao gosto dos europeus, como é o caso da Costa Rica. Tal situação exige que os produtores e exportadores brasileiros reformulem suas estratégias produtivas e comerciais, para manter suas participações nesse mercado.

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