Embrapa Semiárido
Sistemas de Produção, 5
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Ago/2010
Sistema de Produção de Melão
Nivaldo Duarte Costa
Rita de Cássia Souza Dias

Sumário

Apresentação
Socioeconomia
Clima
Manejo do solo
Adubação
Cultivares
Propagação
Plantio
Irrigação
Tratos culturais
Doenças
Pragas
Agrotóxicos
Colheita
Mercado
Rentabilidade
Referências
Glossário
Expediente

 

Tratos culturais

 

Tratos culturais no plantio convencional
Desbaste de plantas
Poda (capação e desbrota)
Polinização
Raleamento de frutos
Controle de plantas daninhas
Calçamento dos frutos
Giro dos frutos ou alternância da posição do fruto
Tratos culturais no cultivo temporariamente protegido com agrotêxtil
Rotação de cultura
Distúrbios fisiológicos
Desordens fisiológicas do fruto

 

A cultura do meloeiro necessita de alguns tratos culturais específicos, que devem ser realizados no momento exato. As práticas culturais como capinas, polinização, raleio e manejo de fruto, proteção da parte aérea da planta e utilização de “mulching” poderão contribuir consideravelmente para elevar a produtividade e qualidade dos frutos.

Por questão didática, os tratos culturais serão divididos para o plantio convencional e cultivo temporariamente protegido.

Tratos culturais no plantio convencional

Desbaste de plantas

Quando as plantas apresentam quatro a cinco folhas definitivas, ou em torno de 12 a 15 dias, deve-se fazer o desbaste, eliminando-se aquelas mais fracas e mantendo-se uma planta por cova. A eliminação das plantas pode ser feita através de corte com facas ou tesouras, ou ainda, através do arranque manual. Neste caso, é preferível fazer a tarefa logo após a irrigação, para não danificar as demais plantas. Quando se coloca apenas uma semente por cova, por ocasião do plantio, por causa do elevado preço das sementes, a operação de desbaste de plantas não é necessária.

Poda (capação e desbrota)

A prática da poda ou condução de ramas é bastante controvertida nas cucurbitáceas. Na cultura do melão, ela tem sido, sistematicamente, usada por pequenos produtores em diversas regiões do Brasil.

A resposta à poda das ramas em melão varia de acordo com as cultivares. Na literatura são enumerados vários tipos de podas no cultivo de melão “Cantalupensis”. Todos eles têm suas vantagens e inconveniências, e em sua adoção, deve-se considerar a variedade; o vigor da planta; a fertilidade do solo; as condições climáticas e a modalidade de produção (campo, túneis semiforçados, protegido, tutoramento, entre outros). A prática da poda na Espanha praticamente não é realizada em decorrência do elevado custo de mão-de-obra. Nesse grupo de melão, nos Estados Unidos, essa prática não tem proporcionado resultados satisfatórios.

No polo de irrigação Mossoró/Açu, onde se concentra a maior produção de melão do Brasil, as empresas que cultivam extensas áreas, não adotam nenhum tipo de poda, sob a alegação de que este trato cultural onera o custo de produção.

Com o surgimento de híbridos altamente produtivos, aliado ao uso de irrigação por gotejamento e da fertirrigação, tem sido possível obter frutos dentro dos padrões comerciais capazes de atender todos os mercados, sem a prática da poda de ramos.

Diante de resultados de pesquisa realizada pela Embrapa Semiárido, não se recomenda fazer a prática da poda, que tem como desvantagens a elevação dos custos de produção, além de facilitar a disseminação de viroses durante a sua realização, não sendo observado aumento da produtividade de frutos.

Polinização

As flores masculinas e femininas se localizam separadamente na mesma planta, sendo que o início da floração acontece de 18 a 25 dias após o plantio. Inicialmente, há o surgimento das flores masculinas e, após 3 a 5 dias, inicia-se o aparecimento simultâneo das flores masculinas e femininas. A antese das flores ocorre com o nascer do sol e cada flor permanece aberta apenas por um dia. A polinização é realizada principalmente por abelhas e as primeiras horas da manhã são o melhor horário para a fecundação.

O bom pegamento de frutos com características comerciais é o resultado da deposição de muitos pólens sobre o estigma da flor feminina ou hermafrodita. Para que isso ocorra são necessárias de 10 a 15 visitas de abelhas em uma mesma flor feminina ou hermafrodita.

A presença de abelhas durante a fase de florescimento é fundamental para haver a frutificação e, consequentemente, tem relação direta com a produtividade. O número reduzido de abelhas, além de afetar negativamente o rendimento, aumenta o número de frutos defeituosos. Recomenda-se evitar pulverizações com inseticidas durante a fase de florescimento, principalmente pela manhã, e instalar cinco colméias/ha em torno de 23 a 25 dias após a germinação do melão, permanecendo por 3 a 4 semanas na área, quando houver poucas abelhas no local.

Raleamento de frutos

A operação de raleio, desbaste ou raleamento de frutos é uma prática efetuada com a finalidade de melhorar o tamanho e a qualidade dos frutos produzidos. Recomenda-se a eliminação somente dos frutos mal formados o mais cedo possível (o tamanho máximo é quando o fruto está do tamanho de uma bola de tênis). Estresses hídricos e problemas de polinização são as principais causas de frutos mal formados. Outras causas são decorrentes de pragas, doenças, formato ou cicatriz estilar grande.

Um fator que tem limitado o uso mais frequente dessa prática é o custo da mão-de-obra. No entanto, estima-se que o custo da eliminação de frutos mal formados é em torno de US$ 20,00/ha e os benefícios entre 5 t a 8 t adicionais de frutos comerciais de melhor qualidade, o que seguramente viabiliza essa prática.

Controle de plantas daninhas

O controle de plantas daninhas pode ser feito através de trator ou a tração animal entrelinhas e manualmente (enxada) entre as plantas, tantas vezes quantas forem necessárias para manter a cultura sem a competição das plantas daninhas. Com o desenvolvimento da planta, as capinas devem ser manuais (enxada) e localizadas, para evitar o manuseio das ramas. Mais recentemente, tem aumentado a utilização de “mulch” no controle de plantas daninhas.

A utilização de herbicidas somente deve ocorrer com produtos que tenham registro para o cultivo do meloeiro, como complemento aos métodos culturais de controle, mediante receituário agronômico.

Calçamento dos frutos

O calçamento dos frutos consiste em calçar os frutos com materiais vegetais (bambu, fitilho, palha ou capim seco) ou inorgânicos (isopor, polietileno, etc.), evitando-se o contato direto dos frutos com o solo. Essa prática reduz o apodrecimento dos mesmos, principalmente na época chuvosa, na fase próxima à colheita, em decorrência de pragas como broca das cucurbitáceas (Diaphania spp.) e também a mancha de encosto.

O calçamento dos frutos seria ideal, porém, onera os custos, o que poderá ser feito no Semiárido nordestino na época de chuva utilizando-se pedaço de isopor, fitilho ou capim seco, a fim de impedir o contato direto dos frutos com o solo úmido. É uma prática comum no interior de São Paulo.


Giro dos frutos ou alternância da posição do fruto

Na ausência do calçamento dos frutos, para evitar a depreciação dos mesmos com o surgimento da mancha de encosto (aquela que se forma na parte inferior do fruto que está em contato com o solo), recomenda-se a prática do giro ou alternância da posição do fruto. Consiste em mudar a posição do fruto em 30º, colocando-se a parte de baixo para um lado, tendo-se o cuidado de não girar a parte inferior do fruto para cima, pois esta é, inicialmente, muito sensível aos raios solares, que poderão provocar queimaduras no fruto.

Tratos culturais no cultivo temporariamente protegido com agrotêxtil

O cultivo de melão temporariamente protegido, associado às coberturas mortas de origem vegetal ou sintética, é uma boa alternativa ao sistema de cultivo tradicional de melão no Submédio do Vale do São Francisco. Esse sistema de cultivo engloba os princípios da produção integrada do melão, é efetivo no controle das principais pragas (Lyriomiza sativae, Bemisia tabacia biotipo B, Aphis gossipii) e do amarelão do meloeiro, como também, determina ganhos com a diminuição de aplicação de inseticidas, de água, de capinas e com a produção de frutos de melão com melhor qualidade físico-química e ambiental. No entanto, a sustentabilidade do cultivo de melão temporariamente protegido depende de outros aspectos importantes no sistema de produção integrada:

a) Eliminação de restos culturais.

b) Eliminação de plantas daninhas e hospedeiras.

c) Utilização de plantas-iscas ao redor da área cultivada.

d) Pousio: mantém a área sem cultivo durante um período predeterminado.

e) Adequada distribuição espacial dos cultivos: os plantios novos devem ser feitos contra a direção dos ventos predominantes.

f) Cercas vivas: barreira vegetal para evitar que os insetos em dispersão pelo vento alcancem uma nova área.

g) Manejo nutricional da planta.

h) Manejo adequado da água.

i) Instalação de armadilhas adesivas amarelas - os adultos da mosca-branca são atraídos pela cor amarela.

Em relação aos principais estresses bióticos, que afetam o cultivo de melão nas condições do Semiárido nordestino, merecem destaque a ação de insetos, que ocorrem praticamente em todas as fases fenológicas da cultura, especialmente, a mosca-branca (Bemisia tabaci biótipo B) e a mosca minadora (Liriomyza sativae (Blanchard)). Este fato faz com que sejam utilizadas grandes quantidades de defensivos agrícolas para o seu controle. Infelizmente, esta prática elimina os inimigos naturais e contribui no desenvolvimento da resistência aos inseticidas por parte das pragas. Considerando-se também que os frutos são consumidos in natura, estes podem apresentar altos índices de resíduos de agroquímicos, colocando em risco a saúde do consumidor, contaminando o ambiente e dificultando, ou até mesmo impedindo, a exportação de frutos. O cultivo temporariamente protegido é uma alternativa para minimizar os danos diretos e indiretos (transmissão de viroses) causados por estas pragas. A utilização da cobertura temporária da parte aérea com agrotêxtil Tecido Não Tecido -TNT (manta agrotêxtil de gramatura variando de 15 g/m2 a 18 g/m2, cor branca), pode ser uma boa estratégia do manejo integrado de pragas do meloeiro. Porém, com o uso da manta, faz-se necessário cobrir o solo com mulching para evitar o desenvolvimento de plantas espontâneas. O material usado pode ser natural ou sintético (plástico de polietileno ou TNT de 20 g/m2) que se usados podem reduz as perdas de água em torno de 20%.

As coberturas do solo devem ser colocadas antes do transplantio após a confecção das bancadas e distribuição das mangueiras de irrigação. Os tipos de coberturas do solo utilizadas podem ser: filme de polietileno prateado; com bagaço de coco; bagaço de cana-de-açúcar; com palha de capim, palha de arroz ou outro material vegetal e seco disponível na região.

O preparo do solo consta de uma aração de 30 cm de profundidade, seguida por duas gradagens. Confeccionam-se as bancadas com o sulcador canavieiro, no espaçamento de 2 m. Posteriormente, as laterais e superfícies das bancadas são niveladas manualmente com auxílio de enxada. As mangueiras de polietileno, com gotejadores são distribuídas no centro das bancadas (Figura 1).

 

Foto: Rita de Cássia Souza Dias.

Figura 1. Visão geral do preparo do solo,
formação das bancadas mangueiras de
polietileno com gotejadores no centro
das bancadas, Embrapa Semiárido,
Petrolina, PE.
 
 

É importante salientar que o uso do filme de polietileno prateado como “mulch” tem trazido controvérsias entre produtores e o setor da pesquisa. Para o setor produtivo o uso desta cobertura do solo tem resultado em melhoria da qualidade dos frutos produzidos, economia de água e capinas. Para os fitopatologistas o uso de “mulch” tem aumentado a incidência da severidade das doenças radiculares. Sendo recomendado apenas para o período de temperaturas mais amenas, que no Submédio do Vale São Francisco é o período de março a abril. No entanto, no segundo semestre, por causa das altas temperaturas, essa cobertura do solo pode influenciar negativamente na atividade microbiana no solo e favorecer a seleção de patógenos do melão oriundos do solo e que resistem às altas temperaturas. Portanto, para o cultivo do segundo semestre, recomenda-se cobertura de solo com materiais de origem vegetal. A vantagem desta é que poderá ser utilizado o ano todo. Entretanto, deve-se ter a garantia de que o material utilizado não seja reservatório de ninfas de insetos.

O cultivo deve ser protegido com agrotêxtil (gramatura de 15 g/m2) até 30 dias após o plantio (DAP). O agrotêxtil deve ser colocado após o transplantio sobre arcos de ferro, de 5/8 de diâmetro, com altura de 50 cm, distanciados a cada 7 m a 10 m (Figura 2). As plantas devem permanecer protegidas de 27 a 28 dias após a germinação, quando serão retiradas para a realização da a polinização pelas abelhas. Durante o período em que as plantas estão protegidas pelo TNT não é utilizado nenhum inseticida, mas a aplicação de fungicidas registrados para a cultura do melão, quando necessária, poderá ser feita sobre a manta de TNT, que é permeável .

Foto: Rita de Cássia Souza Dias.
Figura 2. Visão geral do cultivo de melão temporariamente protegido por manta agrotextil, Embrapa Semiárido, Petrolina-PE.

 

Rotação de cultura

Depois da colheita do melão, deve-se plantar outra cultura de espécie e família diferente, principalmente, de plantas que não sejam hospedeiras naturais das pragas do meloeiro. Não sendo correto o plantio de melancia, abóbora, maxixe ou pepino na mesma área onde foi colhido a melão. Pode-se plantar cebola, milho, sorgo, entre outros.

O plantio sucessivo de plantas da mesma família na mesma área diminui a produção e favorece o ataque de pragas e doenças.

Distúrbios fisiológicos

Distúrbios ou desordens fisiológicas são manifestações fisiológicas adversas, em geral de causa desconhecida, que ocorrem no meloeiro provocando queda de produtividade e qualidade de frutos inferior aos padrões de comercialização.

“Amarelão” do Meloeiro A ocorrência desse distúrbio foi frequente na região do Médio São Francisco na década de 1970 e está associada à deficiência de molibdênio, principalmente em solos ácidos, solos de zonas semiáridas com baixo teor de matéria orgânica e solos de drenagem deficiente. A presença do íon sulfato no solo, em geral resultante da aplicação do fertilizante sulfato de amônio, pode intensificar o “amarelão”, bem como induzir o seu aparecimento em locais onde ainda não tenha ocorrido, uma vez que o íon sulfato interfere com a absorção do íon molibdato pelas plantas. Os sintomas do distúrbio surgem com um amarelecimento das folhas de plantas jovens que evolui causando o secamento das bordas e, consequentemente, afetando o desenvolvimento da planta. O controle é feito, pulverizando com molibdato de amônio ou molibdato de sódio 0,05 % (10 g produto/20 litros de água) via foliar, quando do aparecimento dos primeiros sintomas. Atualmente, existe uma virose transmitida pela mosca branca, conhecida também como “amarelão”.

Desordens fisiológicas do fruto

As desordens fisiológicas que resultam na má formação e deformação de frutos são, na maioria das vezes, causadas por desequilíbrio hídrico, distúrbios nutricionais e polinização deficiente. Outras, no entanto, têm causas desconhecidas.

Crescimento irregular do ovário – Ocorre pela deposição deficiente ou de pólen inativo nos lóbulos estigmáticos promovendo o crescimento irregular do ovário e ocasionando má formação de frutos que, em consequência, não atingem a classificação comercial. Como medida de controle, deve-se espalhar cinco colméias/ha, a fim de tornar a polinização mais eficiente e mais eficaz. Esses frutos devem ser eliminados no início do seu desenvolvimento.

Frutos cabacinhas – Este distúrbio fisiológico ocorre na fase inicial de crescimento do fruto, ocasionando um afinamento na região próxima ao pedúnculo, conhecido vulgarmente como fruto “cabacinha”, causado pelo desequilíbrio hídrico ou deficiência na polinização dos frutos. No Nordeste do Brasil, a ocorrência de frutos “cabacinhas” é comum em plantios irrigados pelo sistema de sulco. Tais frutos devem ser eliminados no início do seu desenvolvimento.

Deterioração precoce de frutos - Liberação precoce das sementes, sua manifestação é atribuída à ocorrência de queda temporária de temperatura na fase final de maturação. A deterioração precoce é comum em regiões onde ocasionalmente ocorre o fenômeno da queda temporária da temperatura se esta coincide com período em que plantas têm frutos em fase de maturação. Dessa forma, frutos fisiologicamente maduros não apresentam a coloração característica, mascarando o ponto de colheita. A ocorrência desse distúrbio pode estar associada aos desequilíbrios nutricionais, como excesso de ureia na fase de maturação.

Rachadura dos frutos – Está relacionada com o excesso de umidade disponível à planta e temperatura elevada (acima de 35 °C), principalmente na fase de maturação.

Frutos deformados e queda de frutos - Estão relacionados com deficiência de polinização. Recomenda-se a instalação de colmeias e evitar as aplicações de defensivos, principalmente de inseticidas, no período da manhã quando ocorre maior intensidade de trabalho das abelhas, evitando-se a fuga ou morte dos agentes polinizadores do melão.




 

 
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