| Exigências climáticas Radiação solar
 Temperatura e umidade relativa do ar
 Precipitação
 Vento
 Evapotranspiração
 Climatologia do Submédio do Vale do São Francisco para o cultivo da videira
 
              
              
              
               As  informações agrometeorológicas são importantes para o sistema de  produção de uvas de mesa, pois podem ser utilizadas na definição  de locais para implantação do parreiral; na definição do sistema  de irrigação e do manejo da água e na proteção das plantas; além  de estarem diretamente associadas ao manejo do parreiral e à  qualidade da uva. 
  As condições climáticas são  influenciadas por fatores geográficos, como latitude, altitude,  relevo, exposição e continentalidade. No  Submédio do Vale do São  Francisco, onde se cultiva a maior parte das uvas finas de mesa  exportadas pelo Brasil, as latitudes variam de 8 a 9°S. Em relação  à altitude, a videira tem boa adaptação em locais situados de 61 m  abaixo a 2473 m acima do nível do mar. A altitude dos municípios  que constituem o Polo Petrolina,PE e Juazeiro,BA varia de 311 m a 439  m acima do nível médio do mar. Os valores de temperatura do ar são  menores nas áreas mais altas, que também influem sobre a ocorrência  de chuvas condicionadas pela presença de serras ou serrotes com  maiores altitudes, como é o caso das áreas de produção  localizadas nas proximidades da Serra da Santa, em Petrolina, PE.  Trabalhos mostram que para cada aumento de 100 m de altitude, há um  atraso de 1 a 2 dias na brotação e de 1 a 4 dias na maturação dos  cachos, vez que a temperatura do ar reduz-se, em média, 0,6 °C para  cada aumento de 100 m.   Os  principais elementos climáticos que interferem no cultivo da videira  são radiação solar, temperatura, umidade relativa do ar,  precipitação e velocidade do vento. Estes elementos influenciam no  crescimento e no desenvolvimento da planta, na ocorrência de pragas  e doenças, em suas necessidades hídricas e na produtividade e  qualidade da uva. 
              
              A radiação solar é a fonte de  energia para a fotossíntese e a evapotranspiração.  Na  fotossíntese, atua nos processos de fotoenergia (fotossíntese) e de  fotoestímulos (processos de movimento e de formação). A absorção  da radiação solar pela cultura interfere no ciclo vegetativo da  videira e nas fases de desenvolvimento da baga. Uma maior intensidade  desta radiação promove maior teor de açúcares nos frutos. A  radiação solar também é a maior fonte de energia para o processo  de evapotranspiração, cujo valor diário incidente sobre as plantas  varia com a localização do vinhedo e com a época do ano.   Em  regiões semiáridas, como o Submédio do Vale do São Francisco,  tem-se observado que quando a poda ocorre no mês de maio, o período  de diferciação das gemas coincide com dias de menor nebulosidade,  favorecendo o aumento na fertilidade das gemas no ciclo seguinte.  Quando a poda é realizada nos meses de dezembro a fevereiro,  praticamente todo o ciclo produtivo da videira pode ocorrer sob  condições de céu com muita nebulosidade e, consequente, ocorrência  de chuvas, o que reduz a quantidade de radiação solar incidente  durante a fase de floração, quando ocorre a diferenciação das  gemas férteis. Como existe uma correlação entre a quantidade de  radiação solar incidente e a percentagem de gemas férteis, esta  condição pode implicar na redução da fertilidade das gemas no  ciclo seguinte. Por outro lado, quando a poda é realizada no final  do primeiro semestre e início do segundo, tanto a segunda fase de  crescimento da baga quanto a de maturação final ocorrem nos meses  de agosto a novembro, quando, então, a quantidade de radiação  solar incidente torna-se bastante elevada, fator que interfere na  coloração da baga. No caso de cultivares brancas, a coloração  verde de 'Thompson Seedless' e de 'Sugraone', pode se tornar  amarelada, restringindo a sua comercialização para alguns mercados.  No caso de uvas tintas, a coloração avermelhada ou mesmo preta não  alcança os níveis desejados, principalmente quando a produtividade   é elevada.  
              
                
                  | Temperatura e umidade relativa do ar |  |   A  temperatura do ar também interfere na atividade fotossintética e no  processo de evapotranspiração da videira. As reações da  fotossíntese são menos intensas sob temperaturas inferiores a 20  ºC, devido ao fechamento parcial dos estômatos. A máxima atividade  – e então a máxima produtividade - ocorre entre 25 ºC e 30 ºC,  voltando a reduzir quando a temperatura se aproxima de 45 ºC, com os  limites de resistência situando-se entre 38 e 50 ºC.   A  faixa de temperatura média considerada ideal para a produção de  uvas de mesa situa-se entre 20 ºC e 30 ºC. Geralmente,  quando a temperatura do ar mostra-se elevada, o comprimento do ciclo  fenológico das cultivares de videira precoce tende a reduzir-se em,  pelo menos, dez dias, mas depende da relação entre a área foliar e  a produtividade esperada. Tem-se observado a ocorrência de mudança  de coloração ou mesmo de queimaduras nas bagas em cachos não  sombreados em dias de céu claro, com temperaturas entre 35 ºC  e 40 °C ou mais. Verifica-se que os cachos das plantas localizadas  nas bordaduras dos parreirais adquirem uma coloração amarelada mais  intensa do que aqueles situados no interior dos parreirais, fato que  pode limitar sua aceitação em vários mercados. Muitos produtores  utilizam-se de técnicas de proteção do cacho, para assegurar ou  possibilitar, melhor qualidade dos mesmos. O uso de saco de papel  para proteção dos cachos tem proporcionado redução de até 1,5 °C  na temperatura dentro do saco em comparação com o ar externo ao  saco no período diurno; sendo que ocorre o inverso no período  noturno, quando então, os cachos ensacados se apresentam  ligeiramente mais quentes que o do ambiente externo. No que se refere  à umidade relativa do ar, esta tem apresentado valores mais elevados  nos cachos ensacados.   A  umidade relativa do ar ao longo do ciclo da cultura da videira  influencia tanto os aspectos fisiológicos quanto a ocorrência de  doenças fúngicas e bacterianas. Valores mais elevados proporcionam  o desenvolvimento de ramos mais vigorosos, aceleram a emissão das  folhas e favorecem uma maior longevidade. Porém, quando associados  às temperaturas elevadas, a incidência de doenças fúngicas e  bacterianas tornam-se mais intensas.  Fatores climáticos têm sido  associados à rachadura de bagas, principalmente nas cultivares de  uvas sem sementes, mas a própria expansão celular de algumas  cultivares, durante a segunda fase de crescimento dos frutos, pode  implicar na rachadura do exocarpo ou da baga. Na realidade, a causa  exata da rachadura de bagas é desconhecida, mas envolve interações  entre turgor celular, propriedades de elasticidade do exocarpo e  fatores ambientais, como oscilações bruscas de temperatura e de  umidade relativa do ar. Uma alternativa para evitar ou reduzir os  efeitos ambientais na rachadura e no apodrecimento das bagas, é o  uso da cobertura plástica do parreiral, que tem efeito muito  interessante na redução do molhamento foliar e consequentemente na  redução da ocorrência de doenças, tais como míldio e cancro  bacteriano, e na melhoria da eficiência dos tratamentos  fitossanitários. Entretanto, a técnica  proporciona aumento de  temperatura do ambiente e redução da umidade relativa do ar durante  o período diurno, enquanto à noite, ocorre o inverso.   Com relação à  composição química das bagas, não havendo excesso de precipitação  pluvial, quanto mais elevada a temperatura do ar, dentro dos limites  críticos, maior será a concentração de açúcar e menor a de  ácido nos frutos.   A temperatura e  a umidade relativa do ar atuam no processo de evapotranspiração. O  ar aquecido próximo às plantas transfere energia para o parreiral  na forma de fluxo de calor sensível, concorrendo para o aumento das  taxas de transferência de água para a atmosfera. A diferença entre  as pressões do vapor d’água no parreiral e do ar vizinho é um  fator determinante para a remoção do vapor. 	Cultivos bem irrigados  em regiões áridas, como no caso do Submédio do Vale do São  Francisco, consomem grandes quantidades de água, devido à  abundância de energia solar e o elevado déficit de pressão de  vapor.             
              
              O  excesso de chuvas associado à temperaturas elevadas, torna esta  cultura muito suscetível a doenças. A ocorrência de chuvas no  início do ciclo favorece o ataque de fungos, principalmente nas  folhas jovens, durante a floração dificulta a fecundação e causa  o aborto das flores e, no final da maturação, pode proporcionar a  ruptura e a podridão das bagas.  Nas  condições semiáridas do Submédio do Vale do São Francisco, o  cultivo da videira pode ser realizado durante todo ano, no entanto, a  substituição dos parreirais de uvas com sementes por uvas sem  sementes tem proporcionado a realização de poda de produção para  colheita somente no segundo semestre, pois as cultivares de uvas sem  sementes  são muito suscetíveis aos problemas mencionados anteriormente que  são causados pela ocorrência de precipitações contínuas. 
              
              O vento forte apresenta-se como um  grande problema para o cultivo de uvas de mesa, pois provocam danos  físicos em parreirais em formação, causando a quebra dos ramos  novos, no abortamento de  flores, na abertura/fechamento dos estômatos e, consequentemente, na  produtividade e na qualidade de frutos para consumo in natura e para  processamento.  Neste processo,  o ar acima da cultura vai se tornando gradativamente saturado com  vapor d’água, cuja remoção  depende, em grande parte, da  turbulência do ar. Assim, quando a velocidade do vento é igual a  zero ou muito baixa, a remoção da camada de ar saturado  também é  lenta, o que promove o decréscimo da evapotranspiração da cultura.  O uso de quebra-ventos com tela  sintética tipo sombrite ou com plantas vivas para reduzir a  velocidade do vento nos “túneis” formados abaixo da latada,  entre as fileiras, principalmente nas extremidades das latadas  situadas à barlavento têm sido muito utilizados no Submédio do  Vale do São Francisco.             
              
              O processo físico no qual a água é  transferida do dossel de um parreiral para a atmosfera denomina-se  evapotranspiração da cultura (ETc).  Este fluxo ocorre por meio dos estômatos como transpiração (T) e  diretamente da superfície do solo como evaporação (E). Parâmetros  agrometeorológicos, características dos parreirais, manejo e  aspectos ambientais são fatores que afetam ET, além da cobertura do  solo, da densidade dos plantios, da arquitetura das árvores, do  microclima e da umidade do solo. Além das práticas culturais, os  sistemas de condução e de irrigação, também podem alterar o  microclima nos parreirais, afetando as proporções de T e E. O  efeito da umidade do solo se manifesta principalmente pelo déficit  hídrico e tipo de solo. Por outro lado, água em excesso pode  danificar as raízes e limitar o fluxo hídrico pela inibição da  respiração.   A evapotranspiração potencial da  cultura (ETP) pode ser estimada multiplicando-se a evapotranspiração  de referência (ETo)  pelo coeficiente de cultivo (Kc).  A ETo  é geralmente calculada pelo método de Penman-Monteith-FAO com  valores das resistências característicos para a superfície de  referência. Os valores da ETc   podem desviar dos valores da ETP, devido à ocorrência de pragas e  doenças, salinidade do solo, baixa fertilidade do solo, deficiência  ou excesso de água no solo. Os desvios das condições ótimas  afetam tanto a produtividade quanto a qualidade das uvas. Os  comportamentos estacionais do Kc  das videiras 'Itália' e 'Sugraone' foram obtidos para as condições  de clima e manejo do Submédio do Vale do São Francisco e seu uso  deve ser incentivado nos cálculos da quantidade de água a ser  aplicada via sistema de irrigação.  O coeficiente de cultura médio para a  cultivar Itália foi de 0,81 enquanto para a cultivar Sugraone foi de  0,92. Considerando-se a Figura 1 e um ciclo de 4 meses para a  primeira cultivar e os valores médios de ETo  de junho a setembro mais apropriado para o cultivo comercial tem-se  um consumo hídrico médio de 430 mm, em Petrolina-PE e de 419 mm, em  Juazeiro-BA. No caso de cultivar de uva sem sementes com um ciclo  médio de 3 meses com cultivos comerciais mais promissores,  geralmente, de julho a setembro, gera um consumo hídrico médio de  393 mm e 379 mm para Petrolina,PE e Juazeiro,BA, respectivamente.   Valores médios do coeficiente de  cultura para os estádios fenológicos das cultivares Itália e  Sugraone, respectivamente, foram relacionadas com os graus-dia  (temperatura basal: Tb  = 10 oC)  e são apresentados na Figura 1, incorporando assim, os efeitos da  temperatura do ar nos diferentes estádios do ciclo fenológico. Esta  relação torna-se importante na estimativa do consumo hídrico  visando o manejo racional da irrigação, visto que os efeitos do  aquecimento térmico decorrentes das mudanças climáticas podem  alterar o comportamento das fases fenológicas desta cultura no  Submédio do Vale do São Francisco. Alguns  estudos sobre os impactos das mudanças climáticas no semiárido,  segundo os cenários do Relatório  do Painel Intergovernamental em Mudanças Climáticas (IPCC, 2007)  indicam que a temperatura pode  aumentar de 2 ºC a 5 ºC no Nordeste, até o final do século 21.  Reduções de 10-15% nas  precipitações, também, estão previstas para as próximas décadas. 
              
                
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                    Figura 1. Variação do coeficiente de cultura da videira (Kc) para as cultivares Italia e Sugraone, como uma função dos graus-dia (GD; temperatura base de 10 oC) na região semiárida do Submédio do Vale do São Francisco.Fonte: Dados da Embrapa Semiárido.  |  
                  |  |   Observa-se  um consumo hídrico diário maior na cv. Sugraone, entretanto, como a  duração do ciclo produtivo da cv. Italia é maior, o consumo total,  também, é mais elevado, o que deve ser levado em consideração nas  possíveis condições de restrição de água no futuro, em que se  almeja uma melhoria na produtividade regional da água.  
              
                
                  | Climatologia do Submédio do Vale do São Francisco para o cultivo da videira |  |  
              
              
              
              
                Na Figura 2 são apresentados os  comportamentos médios da radiação solar global (RG); da  temperatura do ar (Ta); da umidade relativa do ar (UR); e da  velocidade do vento (V) em Petrolina,PE e Juazeiro,BA. 
              
                
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                  | Fonte: Dados da Embrapa Semiárido. |  
                  |  Figura 2. Variações médias mensais: A) radiação solar global (RG); B) temperatura do ar (Ta); C) umidade relativa do ar (UR); D) velocidade do vento (V) no Polo de Petrolina,PE e Juazeiro,BA no período de 1965 a 2008. |  
              
              
              
               Com  relação a temperatura do ar (Ta), as normais mensais em  Petrolina,PE variam de 23,8 ºC a 27,8 ºC,  enquanto em Juazeiro,BA  de 24,3 ºC a 28,5 ºC. Constata-se uma pequena variabilidade ao  longo do ano, devido à proximidade da região em relação ao  equador terrestre, sendo julho o mês mais frio e novembro o  mais  quente. Os meses mais úmidos correspondem àqueles da estação  chuvosa, mostrando-se, também, valores diferentes para ambos  municípios, variando em termos médios de 68% a 73%, em Petrolina,PE  e entre 64% e 67% em Juazeiro,BA.  Os menores valores ocorrem nos  meses de setembro a novembro (trimestre mais quente do ano), com  médias de 58% em Petrolina,PE e 56%, em Juazeiro,BA. O mês de abril  destaca-se como o mais úmido, correspondendo ao fim do período  chuvoso, enquanto os mais secos são outubro e novembro,  correspondendo ao final do período seco. Os valores mais elevados da  velocidade do vento (V) ocorrem  entre os meses de agosto a outubro,  em torno de 3,0 m.s-1,  em Petrolina,PE e de 3,2 m.s-1,  em Juazeiro,BA. Os menores valores de V ocorrem no período chuvoso  (janeiro a abril), apresentando médias de 1,7 m.s-1  e 1,9 m.s-1,  respectivamente, em Petrolina,PE e Juazeiro,BA. Os  elementos representativos do balanço hídrico climático neste Polo  produtor de uva  são apresentados na Figura 3. Estes parâmetros são  muito importantes para definição da época de cultivo, para a  estimativa do requerimento hídrico e para o dimensionamento dos  sistemas de irrigação quanto para o manejo da água de irrigação.  
              
                
                  | Fonte: Dados da Embrapa Semiárido. |  
                  | Figura 3. Médias mensais de precipitação (P) e médias diárias de evapotranspiração de referência (ET0) nos municípios de Petrolina,PE e Juazeiro,BA no período de 1965 a 2008.. |  A  precipitação pluvial é o parâmetro meteorológico de maior  variabilidade espacial e temporal na região semiárida do Submédio  do Vale do São Francisco. Nos últimos 40 anos, em Petrolina,PE, o  total anual médio é da ordem de 550 mm, enquanto que em  Juazeiro,BA, é de 540 mm. O período chuvoso concentra-se entre os  meses de novembro e abril, com 90% do total anual. A quadra chuvosa,  de janeiro a abril, contribui com 68% deste total, destacando-se os  meses de março e  de agosto como o mais e o menos chuvoso, com  totais médios da ordem de 128 mm e 4 mm, em Petrolina,PE e de 133 mm  e 2 mm em Juazeiro,BA, respectivamente.  A  ETo  apresenta valores totais anuais médios de 1660 mm e 1640 mm para  Petrolina,PE e Juazeiro,BA, respectivamente, sendo a variação ao  longo do ano similar ao da radiação solar global. Os meses de maior  demanda atmosférica coincidem com aqueles mais secos em ambos os  municípios. Percebe-se na Figura 3 que o melhor período  para o  cultivo da videira nesta região está entre maio a outubro, pelo  favorecimento de maior atividade fotossintética e uma menor  ocorrência de problemas fitossanitários, tendo em vista que as  necessidades hídricas podem ser satisfeitas pela irrigação.
                
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