Embrapa Semiárido
Sistemas de Produção, 1 – 2a. edição
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Agosto/2010
Cultivo da Videira
Rita Mércia Estigarribia Borges
Patrícia Coelho de Souza Leão

Sumário

Apresentação
Caracterização social e econômica da cultura da videira
Aspectos agrometeorológicos da cultura da videira
Manejo e conservação do solo
Mecanização
Nutrição, calagem e adubação
Cultivares
Produção de mudas de videira
Implantação do vinhedo
Irrigação e fertirrigação
Manejo da parte aérea
Manejo de cachos e reguladores de crescimento
Doenças
Pragas
Normas gerais sobre o uso de agrotóxicos
Colheita e pós-colheita
Comercialização, custos e rentabilidade Referências
Glossário
Expediente

Implantação do vinhedo

 

Escolha da área
Espaçamento
Sistema de condução
Plantio

 

A implantação de um vinhedo destinado à produção de uvas finas de mesa requer grande atenção por parte do produtor ou técnico responsável, uma vez que a escolha da área, o espaçamento e o tipo de condução da planta irão influenciar na produtividade e na qualidade da uva.

Escolha da área

É necessário que se faça um histórico completo da área escolhida de forma a se diagnosticar os problemas e as possíveis correções. Desta forma os seguintes pontos devem ser considerados:

  • Coleta de amostras de raízes de plantas nativas e de solo: deve ser feita com o objetivo de diagnosticar presença de nematoides, fusariose e de pérola-da-terra. É necessário, também, que se faça análise biológica do solo em áreas que apresentem histórico de criação de animais antes do preparo do solo ou durante a fase de implantação, para se obter uma produção mais segura, livre de contaminação com organismos prejudiciais à saúde humana.

  • Declividade do terreno: determinada através do estudo topográfico da área. A declividade do terreno não deve ser superior a 20%, o que dificultaria a conservação do solo e tratos culturais. É necessário que se faça também o mapa planialtimétrico para as futuras instalações dos sistemas de irrigação e drenagem e estabelecimento das linhas de plantio.

  • Clima: é necessário realizar um estudo prévio com base nos dados climáticos locais, de forma a identificar-se o potencial de produção da videira. A videira desenvolve-se bem em condições tropicais, pois o mesmo favorece o desenvolvimento vegetativo das plantas, que produzem durante o ano todo, de forma que não há períodos de dormência e os ciclos vegetativos são contínuos. No Submédio do Vale do São Francisco, pode-se obter até duas safras e meia/ano. No entanto, vem sendo observado que grande parte dos vinhedos destinados à produção de uvas de mesa sem sementes para consumo in natura, vem sendo conduzidos alternando-se poda de formação (primeiro semestre)/poda de frutificação (segundo semestre), em consequencia da concentração de chuvas no primeiro semestre que favorece a alta incidência de míldio, doença causada pelo fungo Plasmopora viticola. Portanto, é importante a observação da época das chuvas para a programação das podas e para que se possa fazer prevenção e controle de doenças.

  • Solo: é importante que se faça um estudo pedológico detalhado, de modo a identificar fatores limitantes, tais como: textura e estrutura do perfil do solo, presença de camadas adensadas, nível do lençol freático e profundidade do solo. Não são indicados solos com alto teor de argila, drenagem deficiente e profundidade inferior a 1 m. É necessário, também, que se faça análise química do solo para se identificar as necessidades de correção e Nutrição e Adubação.

  • Sistema de drenagem: é preciso que se identifique a necessidade de instalação de sistema de drenagem superficial e/ou subterrâneo na área, com o intuito de evitar encharcamento e posterior salinização.

  • Recursos hídricos: a videira é uma planta exigente em água e, para atender suas necessidades hídricas, as áreas destinadas à produção deverão estar localizadas próximas a manancial com água de qualidade, de forma a facilitar tambémos manejos do sistema de irrigação e fitossanitário. A análise da água é essencial e deve incluir os teores de sais e o pH.

Espaçamento

Quando os terrenos são mecanizáveis, as distâncias entre as linhas de plantio devem ter pelo menos 3 m. Para cultivares de uvas de mesa sem sementes, a distância mínima entre linhas de plantio é de 3 m em face da necessidade de se efetuar podas mais longas, o que exige maior espaço para o desenvolvimento das brotações sem que haja excessiva sobreposição de ramos com as plantas vizinhas. O espaçamento mais utilizado para uvas sem sementes é 3 m x 2 m, podendo haver variações para um maior ou menor adensamento por hectare.

Sistema de condução

Como a videira necessita de sustentação, cada região vitícola adota um sistema que melhor se adapte às condições climáticas locais. Além da sustentação, o sistema de condução, principalmente para regiões úmidas, deverá evitar o contato das plantas com o solo com o objetivo de reduzir moléstias fúngicas. A seguir são citados os principais objetivos do sistema de condução:

  • Sustentar as plantas.

  • Permitir a melhor exposição da parte aérea à radiação solar.

  • Facilitar a poda.

  • Favorecer os tratos culturais e tratamentos fitossanitários.

O sistema de condução é definido previamente e de acordo com a finalidade à que se destina o vinhedo. Na região do Semiárido brasileiro, o sistema de condução mais utilizado para a produção de uvas de mesa é a latada (Figura 1) que apresenta os seguintes componentes: mourões, estacas internas e aramado (Figura 2). Os mourões e estacas devem ser de madeira resistente, preferencialmente tratada, de modo a proporcionar uma vida útil longa ao vinhedo. O uso de eucalipto tratado obtido de áreas de reflorestamento, tem-se destacado como uma excelente opção, representando uma fonte renovável sem implicar em prejuízos ao meio ambiente.

Foto: Marcelino L. Ribeiro
 
Figura 1. Sistema de condução de videiras do tipo latada.
 

A construção da latada deverá obedecer aos seguintes passos:

  • Distribuir as cantoneiras ou os mourões mais reforçados nos cantos da latada, bem como os mourões externos, obedecendo a distância entre as linhas de plantio nas outras duas laterais da latada, mantendo uma distância que pode variar entre 4 a 6 m (de acordo com o espaçamento adotado entre plantas). Os mourões externos são de madeira com 3 m de altura e 1 cm8 a 20 cm de diâmetro, sendo que nas cantoneiras devem-se usar mourões mais reforçados.

  • Enterrar os mourões externos a uma profundidade mínima de 0,70 cm, mantendo inclinação para o lado externo de 60º em relação ao nível do solo.

  • Amarrar os mourões externos e cantoneiras aos rabichos formados com três fios de arame galvanizado nº 8 ou cordoalha e chumbados a um bloco de concreto que é enterrado no solo a uma profundidade de 0,8 m a 1,0 m.

  • Distribuir os postes internos nas linhas de plantio, cuja distância entre eles deve coincidir com o espaçamento entre plantas. Se o espaçamento entre as plantas for inferior a 3m, então a distância entre as estacas é superior à distância entre plantas. As estacas devem ser enterradas a uma profundidade de 0,70 cm. As estacas internas devem apresentar 2,70 cm de altura e 10 cm à 12 cm de diâmetro.

  • Distribuir o aramado, iniciando pela cordoalha externa, fixada aos mourões e cantoneiras externas.

  • Esticar os arames galvanizado nº 12, no sentido perpendicular às linhas de plantio, passando sobre as estacas, onde serão fixados.

  • Esticar os arames primários, constituídos por fios de arame galvanizado n° 10, passando sobre as estacas no mesmo sentido das linhas de plantio, fixando-os aos mourões externos e depois os arames secundários que constituem a malha da latada, formada por fios simples n° 14, que são colocados a uma distância de aproximadamente 50 cm e fixados à cordoalha externa. O esticamento dos diversos componentes do aramado e dos rabichos poderá ser facilitado pelo uso de esticadores e conectores ou emendadores de arame.

Ilustração: José Clétis Bezerra.
 
Figura 2. Vista geral de uma latada, com aramado, postes internos e externos.
 

 

Plantio

Após o preparo da área e implantação do sistema de condução, procede-se a abertura das covas, com dimensões de 60 cm x 60 cm x 60 cm, procurando-se separar o solo mais superficial daquele de camadas mais profundas. No momento do enchimento da cova, coloca-se no fundo, o solo da camada mais superficial e o restante do solo, misturado com os adubos e a matéria orgânica, na parte de cima da cova. As covas podem ser substituídas pela abertura de sulcos, com uma profundidade de 40 cm no mesmo sentido das linhas de plantio, antes da instalação do sistema de irrigação e condução.

O plantio pode ser realizado em qualquer época do ano, sob condições irrigadas. Entretanto, o plantio no período mais seco reduz a ocorrência de doenças e a necessidade de tratamentos fitossanitários. As mudas utilizada no plantio, quer sejam elas de porta-enxerto ou já enxertadas, devem ser adquiridas mediante o fornecimento do Certificado Fitossanitário de Origem (CFO), conforme legislação vigente, não devendo apresentar quaisquer sintomas de doenças ou outras anormalidades e com desenvolvimento vigoroso e uniforme. Em geral, as mudas podem ser levadas para o campo 2 meses após a realização da enxertia ou o plantio das estacas do porta-enxerto.

Durante o período de crescimento e formação da planta jovem, é necessária atenção permanente, realizando os seguintes tratos culturais: controle de formigas e fitossanitário, das ervas daninhas por meio de capinas (o uso de herbicidas nesta fase não é recomendado, devendo-se recorrer à capina manual nas linhas de plantio ou em torno das plantas, complementando-se com o roço manual ou mecanizado nas entrelinhas de plantio); realização de Nutrição e Adubação de cobertura por meio de fertirrigação ou diretamente no solo e irrigação.

Quando se realiza o plantio de mudas enraizadas de porta-enxerto, três brotações são mantidas, eliminando-se as demais por meio de desbrotas. As brotações são conduzidas de forma ereta amarrada a um tutor. Como tutor, pode ser utilizada a própria estaca do sistema de condução, barbante, vara de madeira ou bambu (Figura 3).

Fotos: a) Patrícia Coelho de Souza Leão e b) Teresinha C. S. de Albuquerque.
 
Figura 3. Fase de crescimento: a) planta jovem após a realização de enxertia de mesa; b) fase de formação da parte aérea.


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