|   Características dos  solos cultivados com videira no Submédio do Vale do São FranciscoConservação do solo
 Nutrição e Adubação verde
 Aplicação de compostos orgânicos e biofertilizantes
 
              
              
              
                  O manejo, a proteção e uso do solo  devem-se basear, primeiramente, no seu potencial produtivo. Sendo que  para um manejo adequado do solo é necessário considerar suas  propriedades físicas (aeração, retenção de água, compactação,  estruturação), químicas (reação do solo, disponibilidade de  nutrientes, interações entre estes) e biológicas (teor de matéria  orgânica, respiração, biomassa de carbono, biomassa de nitrogênio,  taxa de colonização e espécies de microrganismos).   Um bom manejo do solo é aquele que  propicia boa produtividade no tempo presente e que, também,  possibilita a manutenção de sua fertilidade, garantindo a produção  agrícola no futuro. Entre os fatores a considerar na escolha do  sistema de manejo do solo em um vinhedo estão a conservação ou o  aumento do teor e qualidade da matéria orgânica, a proteção do  solo contra o impacto das gotas de chuva e a economia da água nele  armazenada.  A matéria orgânica ou húmus do  solo, desempenha papel fundamental para as plantas e para o solo:  atua como um cimento que faz a união entre as partículas de solo,  formando os agregados. Estes são importantes porque tornam o solo  mais poroso, melhorando e aumentando a infiltração da água da  chuva e da irrigação no perfil, e consequentemente, reduzindo a  quantidade da água que vai com a enxurrada. Os agregados estáveis  também aumentam a resistência do solo ao impacto das gotas de  chuva. Como resultado, ele estará mais resistente aos processos  erosivos. A matéria orgânica é importante, também, para aumentar  a capacidade de troca catiônica (CTC), que é a capacidade que o  solo tem de armazenar nutrientes para as plantas, tais como: cálcio,  potássio e magnésio. Além disso, a matéria orgânica é capaz de  fornecer nitrogênio, fósforo e enxofre para a nutrição das  plantas. 
              
                
                  | Características dos  solos cultivados com videira no Submédio do Vale do São Francisco |  |  
              Os solos mais cultivados nesta região,  em regime de irrigação, são os Latossolos e os Argissolos, que  apresentam textura arenosa nos horizontes superficiais, com acidez  moderada, baixa  CTC e pobres em fósforo; os Luvissolos, de textura  média, moderadamente ácidos ou neutros, com valores de CTC e de P  médios, e os Vertissolos, de textura argilosa, pH alcalino, com alta  CTC e pobres em fósforo quando sob a vegetação natural (Caatinga).  Com o avanço da tecnologia para a aplicação e uso eficiente de  água e nutrientes, os Neossolos, também, foram incorporados ao  sistema produtivo da videira, porém, todos os solos têm como  característica comum, o baixo teor de matéria orgânica.   Estudos realizados no Submédio do  Vale do São Francisco mostram que houve aumento nos teores de Ca  (25% a 400%), Mg (28% a 114%) e P (1.500% a 4.500%) e nos valores de  pH (17% a 37%) e V (33% a 116%) nas camadas de 0-10cm, 10-20cm e  20-40cm de profundidade solo  em áreas cultivadas com videira em  relação aos do solo sob vegetação nativa, em decorrência das  aplicações de calcário e fertilizantes. Os teores de matéria  orgânica aumentaram, até 40 cm de profundidade, de 16 a 41%  cultivado com a videira orgânica, onde também, ocorreram aumentos  de 14% para CTC e 12% para o teor de K trocável na camada de 0-10 cm  de profundidade. No cultivo convencional da videira, o valor de K  trocável aumentou de 8% a 29% nas três camadas do solo.  Também se  observaram aumentos nos valores da condutividade elétrica (CE) do  estrato de saturação, nas profunidades de 0-10cm e 10-20cm dos  solos cultivados, que são atribuídos ao acúmulo de sais solúveis  provenientes das adubações. Na camada de 0-10cm dos solos  cultivados, também se observa um decréscimo nos valores da  densidade global do solo (Ds), que deve estar associado ao aumento no  teor de matéria orgânica.   
              
            A conservação do solo é uma prática  que não é muito usada no cultivo da videira. A resistência à  adoção de práticas conservacionistas é atribuída às  dificuldades que surgem por ocasião da instalação das latadas e  espaldeiras, acompanhando o contorno do terreno, exigindo o emprego  de práticas como: plantio em nível e terraceamentos. No Submédio  do Vale do São Francisco, devido ao seu relevo plano, estas práticas  não têm sido adotadas.  Porém, a discussão de aspectos do  manejo de solo nesta cultura é maior do que enfatizar as alterações  de ordem química, física ou biológica. É necessário, a partir de  uma visão sistêmica, integrar o sistema produtivo ao ambiente e  verificar as ações e reações, integrando aspectos econômicos,  sociais e ambientais. Neste sentido, práticas conservacionistas como  a utilização de adubos verdes, compostos, biofertilizantes, manejo  adequado dos restos de poda são alternativas que podem viabilizar a  sustentabilidade do sistema de produção da videira.  
              
                
                  | Nutrição e adubação verde |  |  
              
              
              
              
                A utilização de plantas  intercalares, como adubos verdes, na cultura da videira, possibilita  a obtenção de altas quantidades de resíduos orgânicos, o que  permite o aumento do teor de carbono do solo e da CTC, bem como a  redução da lixiviação de cátions e água. Por outro lado, a  produção de material vegetal "in situ" e a sua utilização  como cobertura morta, diminui a evaporação da água aplicada,  minimizando os riscos de salinização das áreas cultivadas.  Em regra, qualquer espécie vegetal  pode ser utilizada como adubo verde. Porém, considerando as  características desejadas, algumas espécies devem ser prioritárias  para integrar um sistema de produção que inclua a Nutrição e Adubação verde,  destacando-se as seguintes características : 
               Ter sistema radicular profundo para  	facilitar a reciclagem dos nutrientes.
                 Ter elevada produção de massa seca,  	tanto da parte aérea quanto da radicular.
                 Ter alta velocidade de crescimento e  	de cobertura do solo.
                 Ser agressiva e rústica.
                 Possuir baixo custo de sementes.
                 Apresentar facilidade na produção  	de sementes.
                 Possuir, preferencialmente, efeitos  	alelopáticos e/ou supressores em relação às plantas não  	cultivadas.
 Além da quantidade de matéria seca,  avalia-se também, a qualidade desta, ou seja, sua capacidade em  permanecer protegendo o solo e suprindo de nutrientes a cultura  principal (videira). 
              
                
                  | Foto: Vanderlise Giongo Petrere.  |  
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                  | Figura 1. Manejo de plantas na entrelinha da videira. |  Uma alternativa compreende o uso de  adubos verdes na forma de coquetéis vegetais. O coquetel vegetal  consiste no plantio de uma mistura de sementes de várias espécies e  famílias, incluindo, leguminosas, gramíneas, oleaginosas, entre  outras, com o objetivo de promover melhorias nas características  químicas, físicas e biológicas do solo. As seguintes espécies, em  diferentes proporções foram testadas e apresentaram um bom  desenvolvimento no Submédio do Vale do São Francisco: leguminosas:  Calopogônio (Calopogonium  mucunoide), Crotalaria  juncea, Crotalaria  spectabilis, feijão de  porco (Canavalia  ensiformes), guandu  (Cajanus cajan L.), lab-lab (Dolichos  lablab L.), mucuna preta  (Mucuna aterrina),  mucuna cinza (Mucuna  conchinchinensis);  não-leguminosas: gergelim (Sesamum  indicum L.), girassol  (Chrysantemum peruviamum),  mamona (Ricinus communis L.), milheto (Penissetum  americanum L.) e sorgo  (Sorghum vulgare Pers.). O fato das espécies fornecedoras de material orgânico serem  plantadas em coquetel proporciona, ainda, uma melhor exploração do  solo, reciclando os nutrientes de forma mais eficiente que o  monocultivo, favorecendo, assim, à diversificação de espécies no  sistema de produção (incluindo o aumento e diversificação da  população microbiana presente na rizosfera) e, fornecendo material  orgânico com composição de nutrientes mais diversificada. 
              
                
                  | Aplicação de compostos orgânicos e biofertilizantes |  |  
              
              
              
              
              
                Outra alternativa que pode ser  utilizada no cultivo de videira é a aplicação de composto orgânico  (Figura 2). A compostagem é um processo biológico de transformação  do material orgânico, biodegradável, em matéria orgânica  humificada ou estabilizada. É uma técnica idealizada para se obter  mais rapidamente, e em melhores condições, a desejada estabilização  da matéria orgânica. A compostagem é um processo de digestão  aeróbica do material orgânico por microrganismos em condições  favoráveis de temperatura, umidade, aeração e pH. A eficiência do  processo baseia-se na perfeita interação desses fatores. Há uma  oportunidade de utilizar os restos da poda  da videira para aumentar  a taxa de retorno de nutrientes e aumentar o seu teor de matéria  orgânica. O processo de compostagem, também, pode garantir a  eliminação das fontes de inócuos e de patógenos.  
              
                
                  | Foto: Carlos Abílio |  
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                  | Figura 2. Elaboração da pilha de composto. |  
              
              
              
                No processo de compostagem a relação  Carbono/Nitrogênio (C/N) inicial ideal é de 25-35:1 e pode ser  atingida por meio do uso aproximado de 75% de restos vegetais  variados e 25% de esterco. Esses resíduos, vegetais e animais, são  dispostos em camadas alternadas, formando uma leira ou monte de  dimensões e formatos variados. O composto orgânico altera as  propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, fornecendo  nutrientes e carbono mais estabilizado. Como o composto pode ser  feito com diferentes matérias primas, após estabilizado, deve-se  fazer uma análise química, utilizando como extratores água e  ácido, e assim determinar as concentrações de nutrientes  prontamente e potencialmente disponíveis.  O emprego de biofertilizantes em  substituição aos agroquímicos vem crescendo em todo o País e tem  contribuído para o aumento da produtividade com a diminuição de  custo e controle de pragas e doenças das plantas. Na literatura já  se encontram alguns resultados positivos da aplicação de  biofertilizantes no semiárido tropical brasileiro para diferentes  culturas, bem como no controle de pragas e doenças, na decomposição  de matéria orgânica com elevada relação C/N, na melhoria das  características físicas, químicas e biológicas do solo e no baixo  custo de seu uso. Em síntese, os biofertilizantes recomendados são  adubos orgânicos líquidos,  produzidos a partir da fermentação de  esterco fresco, sem a presença de ar, ou pode ser um produto da  fermentação aeróbica de substratos orgânicos.  As técnicas de manejo devem ser  incorporadas ao sistema de produção da videira de acordo com o  nível tecnológico empregado, considerando os aspectos relacionados  aos genótipos, as características edafoambientais, econômicas e os  sistemas de certificação da qualidade como  produção integrada, global gap, etc. |