Embrapa Semiárido
Sistemas de Produção, 1 – 2a. edição
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Agosto/2010
Cultivo da Videira
José Barbosa dos Anjos

Sumário

Apresentação
Caracterização social e econômica da cultura da videira
Aspectos agrometeorológicos da cultura da videira
Manejo e conservação do solo
Mecanização
Nutrição, calagem e adubação
Cultivares
Produção de mudas de videira
Implantação do vinhedo
Irrigação e fertirrigação
Manejo da parte aérea
Manejo de cachos e reguladores de crescimento
Doenças

Pragas
Normas gerais sobre o uso de agrotóxicos
Colheita e pós-colheita
Comercialização, custos e rentabilidade Referências
Glossário
Expediente

Mecanização

 

Preparo do solo
Preparo das linhas de plantio
Tráfego de máquinas
Controle de plantas espontâneas

 

Preparo do solo

O preparo do solo visa melhorar as suas características físicas, com o objetivo de favorecer o crescimento das raízes, mediante o aumento da aeração, da infiltração de água e da redução da resistência do solo à expansão das raízes. Para este fim pode-se utilizar grades aradoras, principalmente em áreas recém desmatadas, como também, podem ser trabalhadas com arados de discos ou de aivecas, deixando o solo em condições adequadas para receber os corretivos de acidez e fertilizantes, além de outras práticas como gradagem leve, sulcamento e formação de camalhões para as linhas de plantio, abertura de covas, entre outras. Essas práticas de preparo de solo podem incluir e serem iniciadas com a subsolagem, sempre que for constatada a compactação da camada subsuperficial.

Preparo das linhas de plantio

O preparo das linhas de plantio depende da orientação do seu sentido, que é função da classe e profundidade do solo, topografia do terreno e direção do vento predominante.

Após a definição do sentido da fileira, dá-se início ao preparo das linhas de plantio propriamente dito. O uso de camalhões tem se destacado como uma técnica adotada em solos que possuem pequena profundidade efetiva para o desenvolvimento do sistema radicular e que apresente médio a alto grau de erodibilidade ou, ainda, em condições em que se deseja uma microdrenagem eficiente, após a ocorrência de chuvas intensas e contínuas. No entanto, em áreas bem drenadas não se faz necessário o uso de camalhões, pois constitui em mais despesas na implantação do vinhedo.

No Submédio do Vale do São Francisco, tem-se utilizado o sulcador de asas alongadas para a formação de camalhões elevados. No entanto, este implemento só deve ser empregado quando a área estiver previamente preparada com subsolagem (caso seja necessária), aração, gradagem e distribuição de corretivos e Nutrição e Adubação orgânica (Figura 1).

Fotos: a), b) e c) José Barbosa dos Anjos; d) José Monteiro Soares.

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Figura 1. a) Sulcador com asas alongadas tipo asa de andorinha; b) Distribuição de nutrição e adubação orgânica no fundo do sulco antes da formação do camalhão; c) Sulco com nutrição e adubação orgânica e calcário antes da formação do camalhão; d) Camalhão confeccionado com sulcador tipo asa de andorinha.
 

Outra alternativa é o preparo convencional, que compreende a aração e a gradagem, seguido da demarcação das linhas de plantio, instalação da latada, sistema de irrigação, abertura das covas com enxada rotativa (coveadora), Nutrição e Adubação de fundação (orgânica e mineral), levantamento dos camalhões e abertura das covas. Estas operações são efetuadas com um implemento desenvolvido em Petrolina,PE, que é composto de escarificadores e lâmina enleiradora (Figura 2).

Fotos: José Barbosa dos Anjos.

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Figura 2. a) Área em fase de implantação e abertura das covas; b) detalhe da enxada rotativa coveadora; c) cova aberta; d) implemento escarificador enleirador; e) escarificador enleirador em operação; f) camalhões efetuados com o escarificador enleirador.
 

Quando a aplicação de adubos orgânicos e minerais em fundação forem efetuadas na base do camalhão, não há necessidade da abertura de covas no topo do camalhão, ou seja, basta fazer a abertura de pequenas covas, no topo do camalhão, utilizando-se cavadeiras manuais, apenas por ocasião do transplantio das mudas (Figura 3).

Fotos: José Monteiro Soares.

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Figura 3. Confecção de covas no topo do camalhão para: a) abertura de covas e b) transplantio das mudas de videira.
 

 

Tráfego de máquinas

O tráfego de máquinas agrícolas pode causar compactação e/ou adensamento nas camadas do perfil do solo, por causa da tração aplicada à superfície do terreno, quando do deslocamento do trator, o que produz uma deformação na estrutura do solo e, às vezes, promove o movimento das partículas que o compõem.

O grau de compactação do solo depende do tipo de rodado (pneus ou esteiras) da máquina utilizada. O uso de pneus de maior largura e tratores com tração nas quatro rodas promove uma menor compactação do solo, entretanto, outros fatores podem influenciar no processo de compactação, tais como: classe de solo, teor de umidade no momento de trafegar com as máquinas, sistema e freqüência de irrigação, e massa (peso) das máquinas, entre outros.

Os Latossolos, juntamente com os Argissolos, constituem uma das classes mais importantes dos solos dos tabuleiros sertanejos ou chapadas baixas, da zona semiárida, em face às suas boas propriedades físicas e à sua representatividade geográfica. Entretanto, podem apresentar como principais restrições, aspectos relacionados às suas propriedades químicas, por causa da presença de acidez e baixa capacidade de troca de cátions e de soma de bases trocáveis, resultando em uma baixa fertilidade natural. Estas características desfavoráveis, contudo, apesar de onerarem o custo de produção, são facilmente corrigíveis com o uso de tecnologias disponíveis. O monitoramento da água em profundidade poderá contribuir para o ajuste dos teores de umidade, reduzindo desperdícios de água e perdas de nutrientes por lixiviação, além de outros danos.

Os Luvissolos (Bruno Não Cálcicos), são solos que possuem ótimas condições químicas, com boa fertilidade natural, têm pequena expressão geográfica na região do Submédio do Vale do São Francisco e estão associados às superfícies de pediplanos. Há possibilidade de serem cultivados com videira, entretanto, devem-se tomar precauções quanto ao manejo do solo e da água, de forma a evitar encharcamentos, formação de crostas na superfície, erosão hídrica e salinização.

Os Cambissolos na região do Submédio São Francisco, destacam-se, como solos irrigáveis, desenvolvidos de calcário e de material sedimentar sobre rochas calcárias, em superfícies cársticas aplanadas. Em geral, apresentam boas propriedades físicas e elevada fertilidade natural, embora, em vários locais, possam ter limitação quanto à profundidade.

Os Vertissolos, quando convenientemente manejados, oferecem boa potencialidade agrícola, principalmente em função da sua boa fertilidade natural. As maiores dificuldades de uso destes solos recaem em suas condições físicas, vez que, quando úmidos, possuem elevada plasticidade e pegajosidade e baixas condutividade hidráulica e aeração. Nestas condições, dificultam o deslocamento dos tratores, por outro lado, quando secos, são extremamente duros e oferecem forte resistência à penetração dos implementos agrícolas, tais como: arados, grades, cultivadores, etc., dificultando a sua mecanização agrícola.

O cultivo da videira irrigada nos Vertissolos requer um cuidadoso manejo da irrigação, mantendo-se o conteúdo de água no solo ligeiramente inferior à capacidade de campo (CC). Teores de umidade acima resultam em escoamento superficial da água, dificultando o deslocamento de máquinas e de implementos agrícolas, e a realização dos tratos culturais. Por outro lado, teores de umidade inferiores a 50% do nível de água disponível resultam no fendilhamento do solo e rompimento das raízes das culturas. Há ainda que se considerar o risco de saturação de sódio, que, em vários casos, é um elemento já naturalmente presente na massa deste solo.

O tráfego de tratores acoplados com equipamentos de pulverização é mais preocupante no período chuvoso, devido ao excesso de umidade no solo, pois contribuem para o processo de compactação, devido à maior frequência da ocorrência de patinagem dos pneus. Nestas situações, a cobertura vegetal do solo é essencial por condicionar o aumento do teor de matéria orgânica, com consequente melhoria da sua estruturação, diminuição da densidade global do solo e aumento na porosidade total, reduzindo-se assim, os efeitos de adensamento e compactação. Já no período de estiagem, as operações mecanizadas no parreiral são efetuadas com mais facilidade, inclusive as pulverizações (Figura 4).

A diminuição da largura entre as linhas de plantio dificulta a locomoção de tratores e implementos a ele acoplados, que passam a trafegar muito próximo do sistema radicular da videira, podendo constituir-se em um fator de compactação de solo (Figura 5a). Já a compactação provocada pelo carrinho de apoio à poda de “netos” é mínima, visto que esta operação é realizada em solo seco e o peso do equipamento mais o do operador é pequena em relação ao do trator, além da sua tração ser manual (Figura 5b).

 
Foto: José Barbosa dos Anjos.
Figura 4. Uso de pulverizador com cortina de ar montado em reboque sobre rodado de pneus na cultura da videira.

 


Fotos: a) José Monteiro Soares; b) José Barbosa dos Anjos.

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Figura 5. a) Tráfego de tratores/equipamentos muito próximo do sistema radicular da videira; b) poda de ramos de “netos” sobre a latada.

Na literatura brasileira, os tratos culturais mecânicos na videira são pouco mencionados. No entanto, é uma operação utilizada com frequência no Submédio do Vale do São Francisco.

Algumas dessas práticas não foram, ainda, estudadas com o objetivo de comprovar sua eficácia. Uma delas é a subsolagem entre as linhas de cultivo da videira, a qual não deve ser efetuada com teores de umidade acima do ideal para esta operação, o que, na maioria das vezes, chega a ser prejudicial, devido ao polimento que se forma nas paredes internas da camada de solo por onde passa o órgão ativo (ferramenta) do subsolador, impedindo, assim, o fluxo de água, nutrientes e, provavelmente, interferindo no desenvolvimento radicular.

As condições ótimas para a prática da subsolagem estão próximas ao ponto de murcha, o qual seria de alto risco para esta cultura. No caso de se recomendar a subsolagem entre as linhas de plantio, ela deve ser realizada no período de repouso vegetativo da cultura, de preferência nos meses mais secos do ano.

A gradagem (grade leve) é outra prática utilizada que tem o objetivo de eliminar as ervas daninhas ou incorporar restos de material de poda e cobertura vegetal. No entanto, o uso contínuo dessa operação pode contribuir para a formação de camadas adensadas (pé de grade) que surgem abaixo da zona em que o disco da grade não consegue alcançar. A formação desta camada decorre do deslocamento (arrasto) do implemento sobre o solo.

O recomendável para os tratos culturais nas entre linhas dos parreirais é a alternância entre ciclos (safras) consecutivos, mudando os métodos de mobilização, tais como gradagem, escarificação e subsolagem. Por não se recomendar, atualmente, a manutenção do solo descoberto, utiliza-se o cultivo de plantas espontâneas, Nutrição e Adubação verde, com a realização do corte após a produção de sementes e a utilização do manejo mínimo do solo que permanece a maior parte do tempo com cobertura vegetal.

Controle de plantas espontâneas

O controle de plantas espontâneas, vulgarmente conhecidas como plantas indesejáveis ou ervas daninhas, pode ser feito por meios mecânicos, tais como: capinas manuais (enxadas), gradagem (a tração animal ou a trator), e roçagem, a qual é mais recomendável, vez que reduz a mobilização do solo, além de conservar a diversidade biológica na área do parreiral. O roço pode ser efetuado com ferramentas manuais (estrovengas) (Figura 6a), utilizando-se equipamentos motorizados de pequeno porte ou roçadeira portátil motorizada (Figura 6b), de tração mecânica ou trator (Figura 6c) e a capina química, por meio da pulverização com herbicidas (Figura 6d), mas neste caso, deve-se obedecer às normas regidas pelos sistemas de certificação adotados pela fazenda. O ideal seria o desenvolvimento ou a adaptação de ceifadeiras para fazer o corte na base da vegetação, seja de plantas nativas ou intencionalmente cultivadas nas entrelinhas da videira, destinada à Nutrição e Adubação verde, ou para formar um manto para o tráfego de máquinas, principalmente nos períodos chuvosos, para amenizar a compactação do solo.

Fotos: José Barbosa dos Anjos.
Figura 6. Eliminação de ervas no parreiral: a) roçagem manual; b) roçadeira portátil motorizada; c) roçadeira à tração mecânica; d) aplicação de herbicida na linha de plantio.

O controle de plantas espontâneas em parreirais, também, pode ser efetuado com o emprego de animais, e é uma prática eficiente (Figura 7), mas não é permitida pelas normas da PIF (Produção Integrada de Frutas), de certificação “GLOBALGAP” e “USAGAP”, pois é considerada de alto risco para a cultura da videira, pois apresenta riscos de contaminação por microorganismos hospedeiros dos ovinos/caprinos e constituem um risco de contaminação dos frutos de uva. Além disto, o pisoteio destes animais podem condicionar a um processo de compactação excessiva da camada superficial do solo. Outros certificadores têm procedimentos diferentes como restrições aos produtos químicos como uso de herbicidas e o tráfego de máquinas.

 
Foto: José Monteiro Soares.
Figura 7. Controle de plantas daninhas no parreiral utilizando o pastejo de ovinos.
 

 

 

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