Embrapa Semiárido
Sistemas de Produção, 1 – 2a. edição
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Agosto/2010
Cultivo da Videira
José Eudes de Morais Oliveira
Beatriz Aguiar Jordão Paranhos
Andréa Nunes Moreira

Sumário

Apresentação
Caracterização social e econômica da cultura da videira
Aspectos agrometeorológicos da cultura da videira
Manejo e conservação do solo
Mecanização
Nutrição, calagem e adubação
Cultivares
Produção de mudas de videira
Implantação do vinhedo
Irrigação e fertirrigação
Manejo da parte aérea
Manejo de cachos e reguladores de crescimento
Doenças

Pragas
Normas gerais sobre o uso de agrotóxicos
Colheita e pós-colheita
Comercialização, custos e rentabilidade Referências
Glossário
Expediente

Pragas

 

Ácaros
Ácaro branco
Ácaro rajado
Broca-dos-ramos
Tripes
Retithrips syriacus
Selenothrips rubrocinctus
Frankliniella sp.
Traça-dos-cachos
Cochonilhas
Cochonilha-pérola-da-terra
Mosca-das-frutas

 

No Brasil, oficialmente, são listadas cerca de 40 espécies de artrópodes atacando videiras. No entanto, dependendo da região onde se explora esta cultura, poucas espécies ocasionam danos significativos à produção. Dentre as pragas que atacam a videira no Submédio do Vale do São Francisco, de uma forma geral, as de maior importância são relacionadas a seguir, incluindo a sua descrição, nível de dano e os métodos de controle disponíveis.

Ácaros

Ácaro branco - Polyphagotarsonemus latus (Banks, 1904) (Acari: Tarsonemidae)

O ácaro-branco (Figura 1a), é uma espécie que tem um grande número de hospedeiros. Seus ovos têm cor branca ou pérola, com saliências superficiais e postos isoladamente na face dorsal das folhas novas. As larvas são bastante móveis, possuem cor branca, apresentando uma mancha opaca no dorso.

No Polo Petrolina,PE/Juazeiro,BA, o ácaro-branco pode ocorrer em todas as épocas do ano, chegando a produzir de 95 a 99 gerações em videira, quando as temperaturas mensais médias são favoráveis ao seu desenvolvimento. A sua disseminação pode ser pelo vento, por estruturas vegetais infestadas e transportadas de uma área para outra, de forma natural pelo contato entre as folhagens das plantas.

O ataque desta praga é caracterizado pela coloração verde brilhante e encarquilhamento das folhas, assemelhando-se aos sintomas de virose (Figura 1b), principalmente nas folhas novas, com posterior paralisação do crescimento ou atrofiamento dos ramos.

 
Fotos: a) Andréa Nunes Moreira; b) Francisca Nemaura P. Haji.
A B
 
Figura 1. a) Ácaro branco Polyphagotarsonemus latus; b) sintomas do ataque em folhas de videira.

Nível de ação

  • ≥ 10% de folhas infestadas até a metade do ciclo da cultura;

  • ≥ 20% de folhas infestadas a partir da metade do ciclo da cultura, devendo se prolongar até 30 dias após a colheita e na fase de repouso.

Ácaro rajado - Tetranychus urticae (Koch, 1836) (Acari: Tetranychidae)

Esta espécie de ácaro tece teias na face dorsal da folha, de modo que, uma vez feita a postura, os ovos ficam protegidos. A fêmea apresenta duas manchas verde-escuras uma em cada lado do dorso (Figura 2). A temperatura elevada favorece o desenvolvimento deste ácaro.

Os sintomas do seu ataque são observados na face ventral das folhas da videira e caracterizados por manchas avermelhadas, podendo tornar-se necrosadas e/ou secar totalmente. O ataque pode ocorrer em folhas de qualquer idade, geralmente nas folhas mais velhas.

 
Foto: Janaina dos Reis Miranda.
Figura 2. Ácaro-rajado Tetranychus urticae.

Nível de ação

  • ≥ 30% de folhas infestadas da fase de brotação até o início do amadurecimento das bagas e na fase de repouso.

Controle

Para as duas espécies de ácaros, P. latus e T. urticae, recomenda-se o controle químico que deve ser realizado quando atingir o nível de ação, utilizando-se acaricidas registrados para videira. Todos os produtos químicos devem ser prescritos por um responsável técnico habilitado e a compra do produto deve ser efetuada mediante receituário agronômico. Recomenda-se sempre consultar a lista de produtos registrados e recomendados para cultura da videira (http://agrofit.agricultura.gov.br/primeira_pagina/extranet/AGROFIT.htm). O mesmo procedimento deve ser adotado para as demais pragas.

Broca-dos-ramos - Paramadarus complexus (Casey, 1992) (Coleoptera: Curculionidae)

Esta praga é comumente conhecida como broca-dos-ramos da videira. Sua ocorrência na região do Submédio do Vale do São Francisco tem acontecido de forma esporádica e localizada, porém, ocasionando danos elevados nos ramos e no caule da planta. O adulto mede em torno de 5 mm de comprimento, apresenta coloração marrom-escura e manchas claras que cobrem todo o seu corpo (Figura 3a). A larva é de cor branco-amarelada (Figura 3b) e constrói galerias no interior dos ramos (Figura 3c), onde forma sua câmara pupal, provocando o entumescimento dos mesmos, a interrupção do fluxo de seiva e, consequentemente, a morte das partes afetadas.

 
Fotos: A) Francisca Nemaura Pedrosa Haji; B) e C) Vladimir F. C. dos Santos.
A B C
Figura 3. a) Adultos fêmea (esquerda) e macho (direita); b) larva; c) sintomas do ataque da broca dos ramos Paramadarus complexus.

Nível de ação

A simples presença deste inseto (adultos e/ou larvas) e/ou a ocorrência de danos nos ramos da planta já determina o alcance do nível de ação.

Controle

  • Controle cultural: realizar, sistematicamente, a poda dos ramos atacados e a queima imediata, fora da área de cultivo.

  • Controle químico: não há produtos registrados para o controle desta praga em videira.

Tripes - Retithrips syriacus (Mayet., 1890) (Thysanoptera: Thripidae), Selenothrips rubrocinctus (Giard., 1901) (Thysanoptera: Thripidae) Frankliniella sp. (Thysanoptera: Thripidae)

A ocorrência de tripes em videiras tem sido constatada em todos os parreirais instalados no Submédio do Vale do São Francisco, sendo considerada, no momento, uma das pragas que mais comprometem o sucesso da vitivinicultura desta região.

Retithrips syriacus (Mayet., 1890) (Thysanoptera: Thripidae)

O adulto de Retithrips syriacus apresenta coloração preta com listras amareladas em seu dorso (Figura 4a) e mede cerca de 1 mm a 1,2 mm de comprimento. A fêmea introduz os ovos sob a epiderme da folha, cobrindo-os com uma secreção que se torna escura ao secar. As ninfas têm coloração avermelhada e carregam, entre os pelos terminais do abdome, uma pequena bola de excremento líquido (Figura 4b). Esta espécie de tripes ocorre nas duas faces das folhas, de preferência nas proximidades das nervuras (Figura 5a). Em função do ataque, surgem geralmente manchas amarelas cloróticas que evoluem para a cor marrom (Figura 5b). Quando o ataque é intenso, proporciona a “queima” da folha e, consequentemente, a sua queda, podendo provocar um desfolhamento parcial ou total da planta (Figura 6).

 
Fotos: Flávia R. B. Moreira.
A B
Figura 4. Retithrips syriacus: a) adulto; b) ninfas.

 

 
Fotos: José Eudes de M. Oliveira.
Figura 5. Sintomas do ataque de Retithrips syaricus em folha de videira: a) face dorsal ; b) face ventral; c) evolução dos sintomas do ataque em folhas de videira.


Selenothrips rubrocinctus (Giard., 1901) (Thysanoptera: Thripidae)

O adulto mede cerca de 1,4 mm de comprimento, possui coloração geral preta (Figura 6). Seu nome deriva do aspecto das formas jovens, que possuem coloração amarelada, com uma cinta ou faixa vermelha, ocupando, principalmente, o segundo e terceiro segmentos abdominais. As ninfas são ativas, mantendo-se agrupadas, e carregam, entre os pelos terminais do abdome, uma pequena gota de excremento líquido.

As formas jovem e adulta atacam folhas, inflorescências e frutos. Nas folhas, o ataque ocorre principalmente na face dorsal, próximo à nervura central, causando necrose com coloração ferruginosa e, posteriormente, queda de folhas.

 
Foto: Diniz C. Alves.
Figura 6. Inseto adulto; Selenothrips rubrocinctus.

 

Frankliniella sp. (Thysanoptera: Thripidae)

Os adultos e as ninfas de Frankliniella sp. apresentam coloração variando do amarelo-claro (Figura 7a) ao marrom-escuro e medem em torno de 1 mm a 2 mm de comprimento. A fêmea (Figura 7b) põe em torno de 40 a 90 ovos, na face dorsal da folha, nos pedúnculos florais e na ráquis do cacho. No caso da uva de mesa, os níveis populacionais mais elevados e os maiores danos ocasionados, podem ser observados durante a fase de floração da videira. Nos frutos, ocorrem secamento e morte das células no local de postura, apresentando, inicialmente, manchas esbranquiçadas.

 
Foto: a) José Eudes de M. Oliveira; b) Diniz C. Alves.
Figura 7. Ninfa e adulto de Frankliniella sp: a) ninfa; b) inseto adulto;

Nível de ação

  • ≥ 20% ou mais de folhas estiverem infestadas e/ou ≥ 20% das inflorescências e/ou cachos estiverem com, pelo menos, dois tripes.

Controle

  • Controle cultural: eliminação dos restos da poda seca e erradicação de plantas hospedeiras destas espécies de tripes, como, por exemplo, sabiá ou sansão-do-campo utilizada como quebra-vento;

  • Controle químico: apesar da importância dessa praga, ainda não existe inseticida registrado para o seu controle na cultura da videira.

Traça-dos-cachos – Cryptoblabes gnidiella (Millière, 1864) (Lepidoptera: Pyralidae)

A traça-dos-cachos Cryptoblabes gnidiella é um microlepidóptero que vem provocando sérios danos às cultivares de uva destinada à elaboração de vinhos. Os ovos de C. gnidiella são postos isoladamente, nos pedúnculos dos cachos ou nas folhas. Inicialmente, são brancos, e, posteriormente, tornam-se alaranjados. No início do desenvolvimento, as lagartas apresentam coloração laranja claro, passando para cinza, com duas listras longitudinais pretas (Figura 8a). No último ínstar, a lagarta é envolvida por uma fina teia, e posteriormente transforma-se em pupa (Figura 8b), no próprio cacho. O adulto possui de 14 mm a 16 mm de envergadura e de 6 mm a 7 mm de comprimento (Figura 8c).

As lagartas podem se alojar no interior das inflorescências e/ou dos cachos ainda verdes, causando o murchamento do engaço e, consequentemente, o secamento das bagas. Quando o ataque ocorre próximo à colheita, provocam o rompimento das bagas, resultando no extravasamento do suco sobre o qual proliferam bactérias que provocam a podridão ácida (Figuras 9a e 9b).

 
Fotos: Cristiane G. Manzoni.
Figura 8. a) Lagarta; b) pupa e c) adulto da traça-dos-cachos Cryptoblabes gnidiella.

 

Fotos: a) Cristiane G. Manzoni; b) José Monteiro Soares.

Figura 9. Danos provocados pela traça-dos-cachos Cryptoblabes gnidiella no cacho da uva.

O monitoramento de C. gnidiella pode ser realizado utilizando-se armadilhas tipo delta com feromônio sexual sintético específico (Figuras 10a e 10b), visando à detecção do momento da ocorrência de insetos adultos no parreiral.

 
Fotos: Sivaldo N. Pereira.
Figura 10. Armadilha tipo delta iscada com feromônio sexual específico para a traça-dos-cachos C. gnidiella: a) Armadilha recém colocada; b) Armadilha após uma semana de exposição.

Nível de ação

Por se tratar de uma praga que até pouco tempo era considerada de importância secundária para a cultura da videira, no Submédio do Vale do São Francisco, o seu nível de ação ainda não foi definido. No entanto, nos parreirais destinados à elaboração de vinhos, há registros de perdas de até 40% dos cachos por ocasião da colheita.


Controle

  • Controle biológico: sob baixos níveis de infestação, o controle biológico natural, realizado por parasitoides, pode impedir o aumento da população desta praga.

  • Controle químico: sob altos níveis de infestação, recomenda-se a aplicação de inseticidas registrados para o controle desta praga na cultura da videira, procurando atingir o inseto no interior dos cachos, onde as lagartas ficam abrigadas.

Cochonilhas

As cochonilhas têm como características gerais, tamanho reduzido e hábito de sugar a seiva das plantas. Muitas espécies são recobertas por secreções cerosas produzidas por glândulas epidérmicas existentes tanto nas ninfas quanto nos adultos.

Na região do Submédio do Vale do São Francisco existem algumas espécies de cochonilhas associadas à videira, cujas espécies ainda não foram identificadas e os danos são pouco significativos para a cultura. Estes insetos podem atacar troncos, ramos, folhas e frutos. Quando o ataque é intenso, pode-se observar um enfraquecimento generalizado das plantas. A simples presença de focos desta praga em caules, ramos, folhas e/ou cachos da videira caracteriza o alcance do nível de ação.

O controle cultural é o mais indicado, com a eliminação e retirada dos ramos, folhas e frutos infestados. Caso seja necessário a realização de controle químico, deve-se utilizar produtos registrados para estes insetos em videira.

Cochonilha-pérola-da-terra Eurhizococcus brasiliensis (Hempel, 1922) (Hemiptera: Margarodidae)

E. brasiliensis é uma cochonilha subterrânea, somente prejudica plantas quando o inseto encontra-se na fase de ninfa, pois, os adultos são desprovidos de aparelho bucal. A sucção da seiva nas raízes provoca o definhamento progressivo, redução da produtividade e, até mesmo, a morte das plantas. O declínio das plantas é resultado da injeção de toxinas pela cochonilha. Em parreirais adultos, as folhas apresentam-se amareladas entre as nervuras (de maneira semelhante à deficiência de magnésio), os bordos das folhas ficam encarquilhados, podendo ocorrer, em alguns casos, queimaduras nas bordas. As plantas atacadas, geralmente, apresentam-se pouco vigorosas, com entrenós curtos, posteriormente entram em declínio e morrem. No caso de novos plantios, as plantas desenvolvem-se normalmente no primeiro ano, contudo, a partir do segundo ano, a brotação torna-se fraca e desuniforme, culminando com a morte da planta, geralmente, no terceiro ano.

A dispersão da cochonilha pérola-da-terra pode se dar por meio de: mudas, não apenas de videira, mas, também, de qualquer outra espécie frutífera e/ou de plantas ornamentais; água de enxurrada, principalmente a que provoca erosão; implementos agrícolas, como grades, arados, enxadas, etc; locomoção da larva primária no solo, sendo esta uma forma de disseminação muito lenta, e formigas, que transportam larvas para novos pontos.

Controle

Devido ao hábito subterrâneo e ao desenvolvimento em forma de cisto, essa praga não responde aos métodos convencionais de controle. Medidas de prevenção devem ser utilizadas, como: não utilizar solo da área infestada para a produção de mudas; não plantar em áreas com histórico de ocorrência da praga; fazer o revolvimento do solo, expondo os insetos aos raios solares; realizar calagem profunda e Nutrição e Adubação equilibrada; em focos, isolar áreas infestadas, para evitar disseminação do inseto por implementos agrícolas; controlar as plantas invasoras hospedeiras desta praga; uso de porta-enxertos resistentes e/ou tolerantes.

Mosca-das-frutas - Ceratitis capitata (Wield., 1824) (Diptera: Tephritidae)

As fêmeas das moscas-das-frutas Ceratitis capitata (Figuras 11a e 1ab), depositam seus ovos nos frutos e as larvas desenvolvem-se no interior dos mesmos, alimentando-se da polpa. Após completarem seu desenvolvimento, as larvas (Figura 11c) saem do fruto, caem e se enterram no solo, onde se transformam em pupas (Figura 11d), quando, então, ocorre a emergência dos adultos, reiniciando um novo ciclo.

 
Fotos: a), b) e c) Rodrigo Viana; d) Maylen Gómez Pacheco.
Figura 11. Mosca-das-frutas Ceratitis capitata: a) macho; b) fêmea; c) larva; d) pupa.

O monitoramento dos adultos é realizado por meio de armadilhas do tipo Jackson, com paraferomônio atrativo (Figuras 12a e 12b), instaladas na periferia do parreiral em uma densidade de uma armadilha para cada 5 ha. As inspeções devem ser realizadas quinzenalmente, quantificando-se o número de moscas capturadas.

Nível de ação

O controle deve ser adotado quando o índice MAD (Mosca/Armadilha/Dia) for maior ou igual a 1, que é obtido pela fórmula descrita a seguir:

MAD = N/A x D

Sendo, N número de moscas capturadas; A número de armadilhas utilizadas e D número de dias de exposição da armadilha no parreiral.

 
Fotos: Keliane Carvalho da Silva.
 
Figura 12. Armadilha Jackson instalada em um parreiral: a) armadilha iscada recém colocada; b) armadilha iscada após coleta da Moscamed.

Controle

Medidas de controle que devem ser utilizadas: eliminar plantas hospedeiras alternativas; colher frutos maduros; catar e enterrar os frutos caídos na superfície do solo; realizar pulverizações com isca tóxica (atrativo alimentício + inseticida registrado para a praga e cultura + água); uso de barreiras fitossanitárias; tratamento a frio após a colheita das uvas antes da exportação para os Estados Unidos; controle biológico com o parasitoide Diachasmimorpha longicaudata; técnica do inseto estéril.

 

 
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