Embrapa Semi-Árido
Sistemas de Produção, 1
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Julho/2004
Cultivo da Videira

Clementino Marcos Batista de Faria

Davi José Silva

Início

 

Aspectos Socioeconômicos

Clima

Manejo do Solo

Cultivares

Mudas

Plantio

Irrigação

Tratos Culturais

Substâncias Orgânicas

Doenças

Pragas

Colheita e pós-colheita

Comercialização e Custos

Referências bibliográficas

Glossário

 

Expediente

Autores

Nutrição, calagem e adubação

Nutrientes essenciais e sintomas de deficiência

Amostragem e análise de solo

Amostragem e análise da planta

Calagem

Adubação

Nutrientes essenciais e sintomas de deficiência

Nitrogênio - Os sintomas de deficiência surgem primeiro nas partes mais velhas da planta. A falta deste elemento se manifesta por um débil desenvolvimento das plantas, folhas pequenas de coloração amarelada, baixo desenvolvimento vegetativo e radicular, encurtamento dos entrenós, brotações contorcidas e avermelhadas, baixo percentual de pegamento dos frutos, cachos pequenos e desuniformes, resultando numa baixa produção. O crescimento, produção, tamanho de bagas e de cachos diminuem, antes mesmo que apareçam os sintomas visuais de deficiências. O excesso de nitrogênio pode resultar em aumento de vigor das plantas, atraso na maturação dos cachos, dessecamento da ráquis e dos sarmentos e predisposição à doenças.

Fósforo - Os sintomas de deficiência ocorrem, inicialmente, nas folhas mais velhas e se caracterizam por uma clorose e uma coloração roxo-violeta, evoluindo para necrose e secamento. A deficiência desse elemento causa redução no desenvolvimento do sistema radicular e retardamento no crescimento.

Potássio - A carência de potássio retarda a maturação e promove a produção de cachos pequenos, frutos duros, verdes e ácidos. Os sintomas de deficiência de potássio manifestam-se, em primeiro lugar, nas folhas mais velhas como um amarelecimento internerval em cultivares de uvas brancas, seguida de necrose da zona periférica do limbo que vai progredindo para o interior do tecido internerval. Em cultivares de uvas roxas, as folhas apresentam, inicialmente, uma coloração arroxeada entre as nervuras, seguindo-se de necrose progressiva dos tecidos do limbo.

Cálcio - A deficiência de cálcio causa a paralisação do crescimento dos ramos e raízes, retardando o desenvolvimento da planta. Afeta, particularmente, os pontos de crescimento da raiz. Nas folhas jovens, a deficiência se manifesta por uma clorose internerval e marginal, seguida de necrose das margens do limbo, podendo ocasionar, ainda, a morte dos ápices vegetativos.

Magnésio - Plantas deficientes em magnésio apresentam clorose internerval nas folhas velhas, sendo que as nervuras permanecem verdes. Em cultivares de uvas brancas, as manchas cloróticas evoluem até a necrose dos tecidos do limbo. Em cultivares de uvas tintas as manchas tomam coloração arroxeada, evoluindo, também, até a necrose do tecido. Sua deficiência poderá provocar redução no desenvolvimento e na produção.

Boro - Os sintomas de deficiência de boro manifestam-se, primeiramente, nas folhas novas, evoluindo para os frutos. A carência desse elemento provoca diminuição dos internódios, morte do ápice vegetativo e envassouramento. Nos cachos florais, ocorre aborto excessivo de flores, raleando os cachos. A caliptra não se solta com facilidade por ocasião da florada, permanecendo sobre a baga em desenvolvimento. Pode ocorrer dessecamento parcial ou total dos cachos, necrose nas bagas, interna e externamente.

Cobre - A carência de cobre não é comum na videira. Em algumas situações pode-se observar danos causados pelo excesso de cobre, tais como: clorose das folhas e dos ramos novos, desenvolvimento reduzido da parte aérea e do sistema radicular, baixa germinação do pólen, resultando em baixa fertilização das flores, com uma queda acentuada de bagas. A toxicidade de cobre ocorre em consequência da aplicação de fungicidas cúpricos.

Zinco - Os sintomas de deficiência de zinco surgem nas folhas novas. Geralmente os internódios ficam curtos, com folhas pequenas e cloróticas, com uma faixa verde ao longo das nervuras principal e secundária. Videiras deficientes em zinco tendem a produzir cachos menores que o normal. As bagas apresentam tamanho variável, de normal a muito pequenas e, geralmente, permanecem duras e verdes e não amadurecem.

Com enxofre, cloro, ferro, manganês e molibdênio não se tem observado problemas no Vale do São Francisco.

Amostragem e análise de solo

A análise química do solo é muito importante ao se fazer uma recomendação de adubação, no entanto, é necessário que se faça uma amostragem de solo criteriosa, de modo que a amostra represente as condições reais do campo.

Inicialmente, procede-se a divisão da área da propriedade em subáreas, levando-se em conta a topografia, a vegetação, a cor e a textura do solo e o uso (virgem ou cultivado). Para cada subárea, coletar, ao acaso, vinte amostras simples a uma profundidade de 0 - 20 cm e outras vinte a uma profundidade de 20 - 40 cm, colocando a terra em duas vasilhas limpas. Misturar toda terra coletada de cada profundidade e, da mistura, retirar uma amostra composta com aproximadamente 0,5 kg de solo e colocá-la num saco plástico limpo ou numa caixinha de papelão. Identificar essas duas amostras e enviá-las para um laboratório. Nunca coletar amostra em locais de formigueiro, monturo, coivara ou próximos a currais. Antes da coleta, limpar a superfície do terreno, caso tenha mato ou resto vegetal.

Em pomar já estabelecido, deve-se fazer a amostragem após uma colheita e antes de efetuar a adubação de fundação, nos espaços correspondentes às faixas em que se distribui os fertilizantes, uma na profundidade de 0-20 cm e a outra na profundidade de 20-40 cm. Caso não tenha realizado análise de solo antes da implantação do pomar ou extraviados os resultados dessa análise, é necessário fazer uma amostragem também, no espaço das entrelinhas, onde não recebe adubo, nas profundidades citadas.

Amostragem e análise da planta

A análise mineral de planta é outra informação importante para se fazer a recomendação de adubação, mas para isso, tem que se fazer uma amostragem bem feita.

A época adequada para amostragem é no final do período de florescimento; o solo da área a ser amostrada, deve ser o mais homogêneo possível; coletar amostras da mesma variedade, com a mesma idade e que representem a média da plantação. O horário de amostragem de áreas diferentes deve ser padronizado; não coletar amostras quando, nos dias anteriores, se fez uso de adubação no solo ou foliar, aplicaram-se defensivos, ou após períodos intensivos de chuvas; escolher para a coleta apenas as folhas inteiras e sadias.

Coletar as folhas, juntamente com o pecíolo, na posição oposta ao primeiro cacho, a partir da base do ramo (Figura 1). No caso de se fazer análise de pecíolo, separar os pecíolos do limbo foliar no momento da coleta. Coletar uma folha por planta, num total de 50 a 100 folhas/ha para formar uma amostra e colocar em saco de papel; identificar as amostras e enviá-las, imediatamente, para um laboratório. Não sendo possível a remessa imediata para o laboratório, colocá-las ao ar livre para perder  o máximo de água. A Tabela 1 contem os teores de nutrientes na planta considerados adequados.

 

 Fig. 1 - Posição da folha no ramo da videira que deve ser coletada.

Tabela 1 – Teores de nutrientes considerados adequados em tecidos da folha da videira1.
Nutriente
Limbo
Pecíolo
Folha completa
N (g/kg)
24 - 26
25 -27
32
P (g/kg)
2 - 2,4
2 - 3
2,7
K (g/kg)
12 - 14
15 - 20
18
Ca (g/kg)
25 - 35
30 - 40
16
Mg (g/kg)
2,3 - 2,7
3 - 4
5
S (g/kg)
4 - 5
2 - 3
3,5
Fe (mg/Kg)
100 - 250
-
100
B (mg/kg)
25 - 40
30 - 40
50
Mn (mg/Kg)
30 - 200
40 - 100
70
Zn (mg/Kg)
30 - 150
25 - 40
32
1De autores diferentes, conforme a parte constituinte da folha.

 

Calagem

A calagem tem a finalidade de corrigir a acidez do solo, elevando o pH e neutralizando os efeitos tóxicos do alumínio e manganês, concorrendo assim, para que haja um melhor aproveitamento dos nutrientes pelas culturas. Além da correção da acidez, a calagem eleva os teores de cálcio e magnésio do solo, porque o calcário, que é o corretivo normalmente usado, contém teores altos desses nutrientes.

O calcário deve ser aplicado a lanço e incorporado ao solo por meio de gradagem antes da abertura das covas  para as mudas da videira. Depois de abertas as covas, deve-se aplicar mais uma pequena quantidade de calcário, de 100 a 200 g/cova, dependendo da análise química do solo e do volume de terra da cova, no momento em que se vai fazer a adubação de plantio. Em pomares já estabelecidos, o calcário deve ser aplicado a lanço, sobre faixas entre as fileiras de plantas e depois incorporado ao solo. Neste caso, deve-se levar em consideração a área das faixas e não a área total do terreno para se calcular a quantidade do corretivo.

O gesso agrícola também é utilizado como corretivo de solo em algumas situações: (1) em solos com excesso de sódio. Neste caso, a aplicação de gesso deve ser seguida de irrigação abundante e drenagem eficiente; (2) em solos que apresentem alumínio na camada subsuperficial; (3) em solos com uma relação baixa  de cálcio/magnésio.

A quantidade dos corretivos deve ser determinada com base nos resultados da análise de solo, de modo que eleve a saturação de bases (V) a 80% e/ou o teor Ca2+ para 2 cmolc/dm3 e o de Mg2+ para 0,8 cmolc/dm3.

Adubação

O manejo de adubação da videira envolve três fases: 1) adubação de plantio; 2) adubação de crescimento e 3) adubação de produção.

Adubação de plantio - Depende, essencialmente, da análise do solo (Tabela 1). Os fertilizantes minerais e orgânicos são colocados na cova e misturados com a terra da própria cova, antes de se fazer o transplantio das mudas. A quantidade de matéria orgânica situa-se em torno de 20 litros/cova de esterco de curral curtido ou de outro produto similar.

Adubação de crescimento - Constitui-se das aplicações de nitrogênio, fósforo e potássio através de fertilizantes minerais (Tabela 1). A dose de N deve ser parcelada em aplicações quinzenais, iniciando com 5g de N até 90 dias, 8g até 180 dias, 12g até a poda de formação e a partir daí, 15g até antes da 1° poda de produção que deve ocorrer entre o 18° e o 20° mês do plantio ou enxertia no campo. O potássio, também, deve ser parcelado em aplicações quinzenais. Em relação ao fósforo, aplicar 40% da dose recomenda aos seis meses após a adubação de  plantio, e o restante, seis meses depois dessa última aplicação. Junto com as aplicações do fósforo, aplicar de 10 a 20 litros de esterco de curral por planta.

Tabela 2 - Adubação de plantio e de crescimento da videira com base na análise de solo.   
Fase N P no solo, mg dm-3 K no solo, cmolc dm-3
<11 11-20 21-40 >40 <0,16 0,16-0,30 0,31-0,45 >0,45
g/planta ----- g/planta de P2O5 ------ ---------- g/planta de K2O ------------
Plantio
-
160
120
80
40
-
-
-
-
Cresc. - muda

enxertada

260
-
-
-
-
160
120
80
40

Cresc. - muda

porta-enxerto

130
-
-
-
-
160
120
80
40

Adubação de produção - Após a primeira poda de frutificação, deve-se adubar o vinhedo a cada ciclo vegetativo, utilizando-se esterco, fósforo, potássio e nitrogênio, de forma equilibrada, sempre respeitando as necessidades da cultura. Até o quarto ciclo de produção da videira, a análise de solo que foi feita antes do plantio, associada às análises foliares, ainda pode ser úteis para determinação das doses de fósforo e potássio (Tabela 2). Posteriormente, as análises foliares assumem maior importância nos critérios das recomendações de adubação.

Tabela  3 - Adubação de produção da videira, em função da produtividade e análise de solo.   
Produtividade esperada  
N
kg/ha de N
K no solo, cmolc dm-³
<11 11-20 21-40 >40 <0,16 0,16-0,30 0,31-0,45 >0,45
t/ha   kg/ha de N ------ kg/ha de P2O5 -------- ------------- kg/ha de K20 --------------
< 15
120
100
80
60
40
120
100
80
60
15-25
160
120
110
80
50
200
160
140
100
26-35
200
160
140
100
60
300
240
200
130
> 35
240
200
160
120
80
400
320
240
160

O uso de matéria orgânica é imprescindível para o cultivo da videira na região. Os benefícios advindos do seu uso referem-se ao controle da temperatura do solo, aumento da atividade microbiológica, maior retenção de água e nutrientes no solo e liberação de nutrientes após a oxidação. As fontes de matéria orgânica mais empregadas são os estercos bovino e caprino e, em menor escala, “húmus” de minhoca, composto e outros adubos orgânicos. O esterco de curral pode ser usado em quantidades elevadas, como 40 litros/planta/ciclo, dependendo de sua disponibilidade.

O esterco e o fósforo são aplicados após cada colheita, em sulcos abertos, alternadamente, em cada lado da linha das plantas. Nos ciclos do primeiro ano de produção, os sulcos localizam-se a 50 cm de distância das plantas, no segundo ano, a 80 cm e no terceiro em diante, a 100 cm. Essas distâncias estarão relacionadas com o crescimento do sistema radicular, que deve ser efetivo a partir do momento em que a muda começa a expandir as raízes até o total estabelecimento da planta, quando as raízes deverão ocupar o máximo da área do solo a elas destinada.

As adubações com nitrogênio e potássio são realizadas em cobertura no local onde existir maior umidade e proximidade do sistema radicular, fazendo-se, a seguir, uma pequena incorporação dos adubos. As doses de N devem ser parceladas em aplicações da seguinte forma: 30%  no período da poda a brotação, 30% no período de desbrota a pré-floração, e 40% no período de pós-floração (tamanho chumbinho até o crescimento da baga). Parte do nitrogênio aplicado no período de pré-floração (30%) poderá ser aplicado aos 15-20 dias antes da poda. Para  potássio, as doses devem ser parceladas em 30% na fundação (15 a 20 dias antes da poda) ou parcelada em aplicações no período de brotação até o florescimento, 15% no período de pós-floração, 15% durante o crescimento da baga e 40% no período de amolecimento da baga.

 

 

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