Embrapa Semi-Árido
Sistemas de Produção, 1
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Julho/2004
Cultivo da Videira

Patrícia Coelho de Souza Leão

Início

 

Aspectos Socioeconômicos

Clima

Manejo do Solo

Adubação

Mudas

Plantio

Irrigação

Tratos Culturais

Substâncias Orgânicas

Doenças

Pragas

Colheita e pós-colheita

Comercialização e Custos

Referências bibliográficas

Glossário

 

Expediente

Autores

Cultivares

Principais variedades de uvas de mesa e porta-enxerto

Introdução

Porta-enxertos

Uvas com sementes

Uvas sem sementes

Outras variedades

 

Principais variedades de uvas de mesa e porta-enxerto 
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Introdução
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As uvas finas de mesa englobam variedades da espécie Vitis vinifera L. de origem européia, que são sensíveis às doenças fúngicas e altamente exigentes em tratos culturais. Todas as variedades exportadas estão incluídas nesse grupo ou são híbridas entre elas e alguma outra espécie de Vitis.

As uvas de mesa devem apresentar características apreciadas para o consumo “in natura”. Os cachos devem ser atraentes,  com sabor agradável e apresentar-se resistentes ao transporte e ao manuseio e com boa conservação pós-colheita. A forma ideal do cacho é  cônica, especialmente para o mercado externo, com tamanho médio de 15 a 20 cm e peso superior a 300 gramas, devendo ser os cachos  cheios, mas não compactos. As bagas devem ser grandes e uniformes, com diâmetro igual ou maior a 18 mm para uvas sem sementes e 24 mm naquelas com sementes e possuir boa aderência ao pedicelo. Além disso, as bagas devem ser limpas, sem manchas provocadas por insetos, doenças, danos mecânicos ou defensivos. A polpa deve ser firme, com película e engaço resistentes. A ausência de sementes é uma característica desejada para o consumo “in natura”. A cor das bagas pode ser verde, verde-amarelada ou âmbar, vermelha ou preta, sendo esse um aspecto importante na comercialização. É importante que as bagas apresentem cor intensa, brilhante e uniforme. Apesar desta ser uma característica varietal, é também  influenciada pelo clima e por práticas culturais. O sabor da polpa é determinado pela classe e pela qualidade das substâncias voláteis que estejam presentes e pode ser agrupado em quatro tipos: neutro, especial, foxado e moscatel. As uvas podem ainda ser doces ou ácidas, de acordo com a relação existente entre açúcares e ácidos e podem ser mais ou menos adstringentes, dependendo dos teores de tanino.

Porta-enxertos
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Os principais critérios a serem observados na seleção do porta-enxerto de videira são os seguintes: resistência a filoxera; resistência a nematóides; adaptação aos solos ácidos, calcários ou salinos; adaptação à seca ou à umidade excessiva do solo; resistência a doenças fúngicas da folhagem; tolerância à deficiência nutricional; boa afinidade com a variedade produtora; compatibilidade na enxertia; facilidade de enraizamento e de pegamento na enxertia.

Cada porta-enxerto adapta-se a determinadas condições de solo e clima e se comporta diferentemente segundo a variedade enxertada.

Existem centenas de variedades obtidas para adaptação a diferentes condições ambientais. No Submédio São Francisco, os porta-enxertos que têm apresentado comportamento satisfatório para uvas de mesa, são híbridos obtidos no Instituto Agronômico de Campinas:  IAC 313 ou ‘Tropical’, IAC 572 ou ‘Jales’ e IAC 766 ou ‘Campinas’. Entretanto outros importantes porta-enxertos também estão sendo pesquisados, tais como, Salt Creek, Dog Ridge, Courdec 1613, Harmony, 420-A, Paulsen 1103 e SO4.

Uvas com sementes
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  • Itália ou Piróvano 65

Principal variedade de uva fina de mesa do país. A planta apresenta vigor mediano, maior fertilidade a partir da 4ª gema, adequando-se ao tipo de poda média (7 a 8 gemas), ciclo fenológico por volta de 120 dias, e produtividade média de 30 t/ha/ano, podendo atingir até 50 t/ha/ano em parreirais bem manejados. Apresenta-se bastante sensível às doenças fúngicas. Os cachos são grandes, com peso médio de 450 g, cilíndrico-cônicos, alongados, alados e muito compactos, com boa resistência ao transporte e armazenamento. As bagas são grandes (8 a 12 g), ovaladas, podendo atingir mais de 23 mm de diâmetro. Possuem coloração verde ou verde-amarelada, consistência carnosa, sabor neutro levemente moscatel e boa aderência ao pedicelo (Figura 1A).

  • Red Globe

Apresenta vigor de mediano a elevado quando enxertada sobre porta-enxerto IAC 572, exigindo poda mais longa (9 a 15 gemas). Os cachos são grandes, soltos, com excelente aspecto visual. As bagas são arredondadas, muito grandes (12 a 13 g), podendo atingir diâmetros superiores a 25 mm. São de coloração rosada, textura firme, sabor neutro inexpressivo e boa aderência ao pedicelo. O principal fator limitante a utilização desta variedade nos últimos anos, tem sido a elevada suscetibilidade ao cancro bacteriano causado por Xanthomonas campestris pv. viticola, quando as condições de alta umidade relativa e precipitações favorecem o desenvolvimento da doença. Por este motivo, é importante evitar a poda sob essas condições climáticas (Figura 1B).

  • Benitaka

Originada de mutação somática na variedade Itália, foi descoberta numa fazenda, no município de Floraí, Norte do Paraná, lançada em 1991, passou a ser cultivada no Submédio São Francisco, em 1994, aproximadamente. Destaca-se pelo intenso desenvolvimento da coloração rosada escura, mesmo quando ainda imatura, em qualquer época do ano. Os cachos são grandes, com peso médio de aproximadamente 400g e bagas grandes (8 a 12 g). A polpa é crocante, com sabor neutro. Apresenta boa conservação pós-colheita. Estas características conferem à ‘Benitaka’ um lugar de destaque, sendo a uva de cor que mais vem despertando o interesse dos produtores nesta região, nos últimos anos (Figura 1C).

  • Brasil

Originada de mutação somática na variedade Benitaka, surgiu na mesma fazenda onde esta se originou. Apresenta-se muito atrativa ao consumo, pois adquire uma coloração preta mais intensa e uniforme que às suas “irmãs” ‘Benitaka’ e ‘Rubi’, mesmo em condições de clima quente. Outra característica marcante que a diferencia de outras variedades de uvas de mesa é a coloração vermelha escura da polpa. As características da planta e frutos (cachos e bagas) da ‘Brasil’ são semelhantes às de ‘Itália’ e ‘Benitaka’. A ‘Brasil’ pode ser considerada uma variedade emergente no Submédio São Francisco, que se apresenta como uma opção de uva de cor preta, com excelentes características de cacho, especialmente para o mercado interno (Figura 1D).

  • Patrícia

Híbrido IAC de terceira geração. Suas plantas são produtivas (superior a 7,0 kg/planta) e muito vigorosas. Devem ser conduzidas em poda longa com 9 a 12 gemas. Seus cachos são grandes pesando entre 350 a 500 g, cilíndricos, muito compactos, com boa aderência ao pedicelo, engaços fortes, bem desenvolvidos e ramificações abundantes. Apresenta menor sensibilidade às doenças fúngicas e boa conservação pós-colheita. As bagas são pequenas, arredondadas, vermelha escura, textura crocante, sabor neutro levemente herbáceo, casca espessa que assegura grande resistência ao rachamento. Não necessita de raleio de bagas considerando-se como uma vantagem que proporciona a redução dos custos de produção. Sua comercialização está restrita ao mercado interno.

Fotos: Embrapa Semi-Árido

A

B

C

D

Fig. 1 – Variedades com sementes Itália (A), Red Globe (B), Benitaka (C) e Brasil (D)
 
Uvas sem sementes
  • Superior Seedless ou Festival

Apresenta excelentes características comerciais, não obstante sua fertilidade de gemas ser baixa o que conduz a produtividades  reduzidas, que variam entre 5 a 20 t/ha. No Submédio São Francisco, outras características indesejáveis são a irregularidade de produção entre as safras e a sensibilidade ao desgrane de bagas causado pelo rachamento no pedicelo durante a ocorrência de chuvas.

O comportamento desta variedade foi avaliado durante dois ciclos de produção nos anos 1999/2000, onde apresentou as seguintes características: ciclo fenológico médio de 94 dias; peso médio de cachos de 280g; comprimento e diâmetro médio de bagas, respectivamente de 22,3 e 19,1 mm; teor de sólidos solúveis totais com média superior a 17º Brix, enquanto a acidez total dos frutos foi baixa, resultando em relação açúcares/acidez satisfatória.

A excelente aceitação de ‘Superior Seedless’ no mercado externo tem consolidado esta como a mais importante variedade de uva sem sementes em produção no Submédio São Francisco (Figura 2A).

  • Crimson Seedless

Destaca-se como a segunda mais importante variedade de uvas sem sementes cultivada na região. Foi introduzida em 1998 e sua expansão em áreas comerciais ocorreu nos últimos dois anos. A Embrapa Semi-Árido realizou durante os anos de 2000-2001 estudos sobre comportamento agronômico e fenológico desta variedade, observando-se as seguintes características:  ciclo fenológico médio de 123 dias; os cachos apresentam coloração rosada intensa, formato predominante cilíndrico e medianamente compacto com peso médio de 367 g,   comprimento de 21 cm e largura de 12 cm; as bagas possuem forma elíptica, isto é, são alongadas, com peso médio de 4,0 g, 22,1 mm de comprimento e 16,9 mm de diâmetro. O tamanho das bagas nesta variedade é pequeno, inferior aqueles exigidos para a exportação, o que exige que sejam realizados trabalhos com reguladores de crescimento que promovam o aumento do tamanho de bagas (Figura 2B). Os frutos apresentam textura da polpa  crocante, sabor neutro e baixa aderência das bagas ao pedicelo, característica que pode causar problemas durante o manuseio e conservação pós-colheita dos frutos.

Foram produzidos 37 cachos por planta, na média dos dois ciclos de produção estudados, correspondendo a uma produção de 13 kg/planta ou 14,4 t/ha.

  • Thompson Seedless

 ‘Thompson Seedless’, também conhecida como Sultanina destaca-se como a mais importante uva de mesa consumida no mundo. No Submédio São Francisco, as primeiras áreas cultivadas com ‘Thompson Seedless’ apresentaram produtividades insignificantes, o que  desestimulou o cultivo desta variedade nesta região.

Em avaliações realizadas pela Embrapa Semi-Árido, durante cinco ciclos de produção (1997 e 1998), apresentou as seguintes características: ciclo fenológico médio de 104 dias; os cachos apresentam coloração âmbar (amarelada), são cônicos e muito compactos e apresentaram tamanho pequeno, com peso médio de apenas 172 g, 14,3 cm de comprimento e 9,4 cm de largura; possui bagas pequenas e elípticas, cujo peso médio foi  de 2,7 g, medindo 20,3 mm de comprimento e 16,0 mm de diâmetro; os teores médios de sólidos solúveis foram de 18,3ºBrix, com relação Brix/acidez de 23,3. Responde muito bem aos tratamentos com reguladores de crescimento, especialmente ácido giberélico, obtendo-se em trabalhos recentes bagas com 27,5 mm de comprimento e 18 mm de diâmetro, com excelente aspecto visual (Figura 2C).

‘Thompson seedless’ apresenta plantas muito vigorosas e crescimento intenso em condições tropicais, o que contribui para sua baixa produtividade. Entretanto, em trabalhos de pesquisa mais recentes tem se conseguido com ajustes no manejo e uso de reguladores de crescimento para aumentar o tamanho de bagas, produtividades médias de 15,5 t/ha.

  • Catalunha

Essa variedade possui cachos muito atraentes, parecidos aos da Thompson Seedless e por este motivo considera-se que seja um clone desta variedade (Figura 2D). O ciclo fenológico em condições tropicais semi-áridas é de aproximadamente   110 dias. Não foi avaliada em trabalhos de coleção de variedades pela Embrapa Semi-Árido, entretanto, Camargo et al. (1997) obtiveram produtividade média de 20,4 t/ha/ano em área experimental nesta região. Apresenta cachos grandes com peso médio em torno de 400 g em poda longa. As bagas são pequenas, uniformes, elípticas, de coloração verde a âmbar. Respondem bem a aplicação de reguladores de crescimento, obtendo-se em trabalhos recentes da Embrapa Semi-Árido bagas com 27 mm de comprimento e 17 mm de diâmetro e produtividade média de 15 t/há.

Novas variedades mais adaptadas às condições semi-áridas estão sendo obtidas por programas de melhoramento genético, introduzidas e avaliadas em coleções na Embrapa Semi-Árido.

Outras variedades
  • Vênus

Foi obtida pela Universidade do Arkansas, Estados Unidos e introduzida no Brasil pela Embrapa Uva e Vinho em 1984, passando a ser cultivada comercialmente a partir de 1991. Nas condições do Submédio São Francisco apresenta características interessantes, destacando-se: precocidade, tamanho de bagas, boa fertilidade de gemas quando comparada a outras variedades sem sementes e produtividade média estimada de 24 t/ha/ano (Souza Leão, 1999). Os seus cachos apresentam formato cônico e são muito compactos (Figura 2F). As bagas são esféricas, com consistência de polpa mucilaginosa e baixa aderência ao pedicelo. Sua coloração é preta uniforme e o sabor é muito típico, lembrando o gosto foxado das uvas americanas. Alguns aspectos como a baixa resistência ao transporte e baixa conservação pós-colheita, desgrane elevado de bagas e por ser um híbrido que mantém características de espécies americanas não apresentando aceitação comercial para exportação, podem limitar a utilização desta variedade no Submédio São Francisco. Entretanto, pode se constituir uma boa opção para outras zonas vitícolas, especialmente em climas mais amenos e úmidos e para comercialização no mercado interno.

  •  Marroo Seedless

Obtida em 1977 pelo cruzamento Carolina Blackrose x Ruby Seedless, ‘Marroo Seedless’, é originária da Austrália. Apresenta cachos medianos, cônicos e medianamente compactos. As bagas são grandes, elípticas e de coloração vermelho intenso. Essa variedade apresentou tamanho de bagas, fertilidade de gemas e produtividade média estimada em 20t/ha/ano  (Souza Leão, 1999) que permitem considerá-la como  uma alternativa de uva sem sementes para a região do Submédio São Francisco.

Apesar das características desejáveis, esta variedade apresentou alguns aspectos indesejáveis, tais como, cachos pequenos e irregularidade nas produções, que, no entanto, podem ser solucionados com a realização de pesquisas quanto as técnicas de manejo e para melhorar as características do cacho nesta variedade.

  • Perlette

Obtida pelo cruzamento de Scolokertek hiralynoje ou Regina dei Vigneti x Sultanina marble,  pelo Dr. H.P. Olmo na Califórnia em 1936, foi introduzida comercialmente nos Estados Unidos em 1946. Foi a primeira variedade de uva sem sementes cultivada comercialmente no Submédio São Francisco (Figura 2E).

As plantas são vigorosas e respondem bem a podas longas (16 gemas), pois a fertilidade das gemas é crescente da base para o ápice. A  ‘Perlette’  apresenta  uma  produtividade  média  de  aproximadamente  20 t/ha/ano.

Seus cachos são cônicos, tamanho de mediano a grande, com peso médio que pode variar segundo o tipo de poda utilizada. Os cachos apresentam um peso médio entre 400 e 500 gramas. As bagas são esféricas e pequenas, entretanto, podem atingir  diâmetro superior a 18 mm quando tratadas com reguladores de crescimento  (Souza Leão et al., 1999). Possuem coloração amarelada uniforme e sabor levemente moscatel adocicado. A aderência ao pedicelo é boa. Como seus cachos são excessivamente compactos, exigem a utilização de intenso trabalho de raleio, o que aumenta os custos de produção, sendo esta uma das desvantagens da ‘Perlette’ em relaçãoa outras variedades de uvas sem sementes. Outro problema desta variedade é a sua baixa conservação pós-colheita, que tem desestimulado o seu cultivo para exportação.

Fotos: Embrapa Semi-Árido

A

B

C

 

Fotos: Embrapa Semi-Árido

D

E

F

Fig. 2 - Variedades de uvas sem sementes Superior Seedless (Festival) (A), Crimson Seedless (B), Thompson Seedless (C), Catalunha (D), Perlette (E) e Vênus (F).

 

 

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