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Cultivo da Videira
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Mercado, comercialização, custos e rentabilidade |
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Neste segmento são abordados os aspectos da comercialização da uva de mesa nos mercados interno e externo. Um dos elos da cadeia produtiva mais importante para a obtenção da eficiência econômica das explorações agrícolas é a comercialização, uma vez que, esta atividade está diretamente associada a estabilidade e ao nível de renda dos produtores. Custos de instalação e manutençao
O mercado brasileiro de uvas de mesa é um dos mercados hortifrutícolas que mais crescem no país. O consumo per capita deste produto no Brasil subiu de 0,4 Kg/hab/ano no início da década de 80 para quase 2,7 Kg/hab/ano em 2001. Esta tendência deve se manter nos próximos anos. De acordo com os estudos de mercados realizado por diversas instituições ligadas a fruticultura, a produção nacional de uva destinada ao mercado doméstico é hoje totalmente absorvida. O excesso de oferta em alguns meses do ano, provoca uma significativa redução de preços a nível de consumidor, ampliando a demanda nas camadas da população de menor poder aquisitivo, sem no entanto, levar a perdas ou descarte na produção. Com relação as importações de uvas de mesa, com a implantação do plano real, estas cresceram expressivamente, passando de 8.400 toneladas em 1994 para mais de 25 mil toneladas em 1998, situação que inclusive contribuiu para a queda registrada, neste período, nos preços médios recebidos pelos produtores. Com a desvalorização cambial registrada em 1999, as importações de uva de mesa vindas da Argentina e do Chile, que são nossos principais fornecedores diminuíram, entretanto, com a recente crise da Argentina, que provocou uma drástica desvalorização no peso Argentino, a tendência atual é de incremento das importações de uvas portenhas, situação que pode vir a acarretar uma diminuição no preço do produto no mercado doméstico. Os principais pólos de produção e comercialização de uvas de mesa no Brasil são os seguintes: Alto Uruguai, localizado em áreas dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde se cultiva principalmente as variedades Niágara e Isabel, que são comercializadas entre os meses de dezembro a março; Região Central do Paraná, onde se explora as variedades Niágara, Isabel e Concord, que entram no mercado nos meses de dezembro e janeiro; Região de Marialva, que é o maior pólo de produção de uva do Paraná, e se dedica principalmente ao cultivo de uvas finas, como Rubi e Itália. Esta zona, que é responsável por mais de 70% da produção vitícola paranaense, entra com o produto no mercado em dois períodos do ano, um que vai de dezembro a fevereiro e outra que inicia em maio e termina em julho; Região de Jundiaí (São Paulo), onde predomina o cultivo da variedade Niágara, com as colheitas ocorrendo entre os meses de dezembro a fevereiro; Região de São Miguel Arcanjo (São Paulo) que se dedica a exploração de uvas finas (Itália, Rubi, etc.), com a comercialização ocorrendo entre os meses de dezembro a março; Região de Jales (São Paulo), que também se especializou no cultivo de uvas finas (Itália, Benitaka, etc.) comercializa sua produção entre os meses de agosto e outubro; Região do Vale do São Francisco, assentada em terras de Pernambuco e Bahia, que se dedica ao cultivo de uvas finas (Itália, Benitaka, Red Globe, etc.) sendo sua produção vitícola comercializada ao longo de todo o ano. Todos estes pólos escoam sua produção para o mercado local, regional e extra- regional (nacional), sendo que alguns destes, como é o caso da região do Submédio São Francisco também comercializa seu produto no mercado internacional. O período de maior oferta da uva de mesa no mercado doméstico ocorre entre os meses de novembro a março. Entretanto, é importante comentar, que o mês de dezembro mesmo estando situado no período de oferta abundante, devido as festas natalinas, os preços desta fruta alcança níveis elevados. Já o período de menor oferta de uvas de mesa nos principais centros consumidores do país se verifica entre os meses de abril até junho. A partir de julho até outubro ocorre uma oferta regular de uvas de mesa no mercado doméstico. Neste contexto de distribuição é interessante comentar a situação privilegiada do pólo de produção de uva na região do Submédio São Francisco, que devido ao clima favorável, pode obter colheitas em qualquer época do ano, condição que permite aproveitar as melhores oportunidades de preços, ocupando as janelas deixadas pelas regiões produtoras concorrentes. No tocante ao funcionamento do mercado doméstico de uvas de mesa as figuras dos atacadistas são os principais agentes da distribuição do produto. Eles compram e vendem o produto a granel ou em caixas, e muitas vezes realizam outras funções como, classificação e padronização do produto, financiamento ao produtor, armazenamento, transporte, etc. Existem vários tipos de atacadistas dependendo da área de atuação e das funções de comercialização que assumem. Dentre eles, destacam-se o atacadista nacional, representados principalmente pelos atacadistas de CEASAS, rede de Centrais de distribuição que são a principal intermediadora dos produtos hortifrutícolas do país. Também são elementos relevantes no processo de comercialização de uvas de mesa no mercado interno, os atacadistas regional e local, sendo os primeiros responsáveis pela distribuição da uva nos principais centros de consumo da região geo- política onde está inserido o pólo de produção e os últimos agrupam a produção do pólo onde atuam e repassam para os atacadistas regionais e nacionais. Os principais clientes dos atacadistas são as casas tradicionais de frutas, sacolões, feirantes de mercados municipais e de feiras livres, além de mini mercados de bairros. Outro segmento que vem crescendo em importância na distribuição de uvas de mesa no mercado doméstico são as grandes redes de supermercados. Tais instituições seguindo o exemplo das redes de supermercados européias, que hoje já controlam a distribuição dos produtos hotifrutícolas naquele continente, estão implantando centrais de compras e distribuição, onde recebem o produto diretamente das empresas produtoras e enviam para as demais lojas de sua área de atuação.
A nível de mercado internacional o pólo de produção de uva de mesa que merece destaque é o do Submédio São Francisco, visto que, esta zona de produção, que possui atualmente cerca de 5000 ha implantados com uvas finas de mesa, é responsável por aproximadamente 80% das exportações brasileiras deste produto. Entretanto é interessante comentar que ainda é muito pequena a participação brasileira no comércio internacional de uva, visto que, somente exportamos cerca de 0,50% da produção nacional, enquanto o Chile envia para o mercado externo 40% de sua produção. O mercado externo para uva de mesa brasileira é um mercado de contra –estação voltado para o consumo “Winter fruit” dos países importadores do hemisfério Norte, onde se destacam dois importantes mercados: a União Européia e os Estados Unidos. Existem durante o ano duas janelas bem claras para a exportação da uva brasileira, uma que vai de abril a junho, quando se comercializa um terço das exportações e outra que inicia em outubro e finaliza em dezembro, quando se embarca os dois terços restantes do total das exportações nacionais. A nível mundial foram exportadas em 2000, de acordo com dados da Faostat, 2,7 milhões de toneladas de uva de mesa, estando o Chile e a Itália, com exportações de 676 mil toneladas e 624 mil toneladas respectivamente, liderando o mercado em termos de volume exportado. A esse respeito merece destaque o comportamento do Chile que decuplicou o volume exportado de uvas frescas entre 1980 e 2000. Outros países que se destacam na exportação de uva são: Estados Unidos, África do Sul, México e Espanha. Em termos do movimento de destino das vendas por bloco econômico, a União Européia com aproximadamente 45% das importações e o NAFTA com cerca de 25% são os principais mercados importadores de uva. Com relação a mercados nacionais, os Estados Unidos é o maior importador de uvas com 16,73% das importações totais (383.672 ton. em 2000), seguida bem de perto pela Alemanha com 16,24% do total mundial das importações (349.411 ton. em 2000), são ainda importantes países importadores de uvas de mesa França, Canadá e Reino Unido (Tabela 2). As importações mundiais de uvas de mesa vêm crescendo a taxas razoáveis, visto que, registram um crescimento de 2,9% ao longo prazo, com taxas de 4,1% na década de 80 e 2,8% na década de 90. Entretanto, como se trata de um produto de mercado bem conhecido e já consolidado, este aumento das exportações, não é resultado de aumento do consumo mundial de uva e sim de uma suplementação da produção doméstica de regiões tradicionalmente produtoras e consumidoras, que nos últimos anos estão reduzindo suas áreas plantadas como é o caso da União Européia (maior produtora e maior consumidora de uvas do mundo). Com relação a forma de organização e funcionamento dos principais mercados internacionais que absorvem a uva de mesa do Brasil, que são o mercado Europeu e o Norte Americano, constata-se que existe uma forte tendência de concentração da demanda nas mãos das grandes redes de supermercados. Tais organizações que procuram oferecer ao consumidor uma qualidade contrastada, cada dia aumenta a pressão sobre as empresas exportadoras tanto no tocante ao desempenho do produto como do serviço que acompanha o mesmo. Esta situação exige que as empresas produtoras e exportadoras de uvas de mesa do Brasil procurem reformular suas estratégias produtivas, e comerciais se quiserem manter e inclusive ampliarem sua participação nestes mercados. No tocante a parte de produção a principal alternativa é implementar nos vinhedos destinados a exportação o sistema de produção integrada, enquanto na parte comercial é importante a consolidação de uma marca e a diversificação da oferta, com a introdução de uvas sem sementes no rol das variedades exportadas, visto que a tendência atual nos grandes mercados internacionais é de um aumento vertiginoso no consumo desse tipo de uva.
As mudanças porque passam as economias induzidas pelo processo de globalização tem exigido do setor agrícola cada vez mais eficiência técnica e econômica na condução das explorações. Neste contexto de busca de competitividade, o conhecimento dos custos de produção e rentabilidade das culturas é cada vez mais importante no processo de tomada de decisão do produtor sobre o que plantar. A exploração racional de um vinhedo depende de uma série de fatores que afetam o seu desempenho produtivo e a sua viabilidade econômica. Tais como, a variedade plantada, o espaçamento, o clima, o solo, o grau de incidência de pragas e doenças, o rendimento dos cultivos, os preços dos fatores de produção, o preço do produto, conhecimento, atendimento e manutenção do mercado consumidor seja interno o externo. Na Tabela 3 são apresentados os custos de instalação no 1º ano e de manutenção nos 2º e 3º anos de um hectare de uva de mesa variedade Itália, irrigado através de um sistema de microaspersão, com o espaçamento de 3,50m x 3,00m. No primeiro ano, os gastos na compra dos insumos e na implantação do vinhedo correspondem a 84,61% dos custos totais do período, sendo o sistema de irrigação, as estacas, os mourões e as mudas os ítens mais onerosos. Já os serviços que neste ano de implantação correspondem a apenas 15,39% dos custos, têm na confecção de latada o ítem mais representativo dos custos neste segmento. No segundo ano, a participação percentual nos custos de produção é assim distribuída serviços 33,54% e insumos 66,46%, sendo as pulverizações manuais e a adubação de cobertura os ítens mais caros dos serviços, enquanto o esterco e a caixaria figuram como os ítens que mais encarecem o segmento dos insumos. No terceiro ano, quando a planta já alcançou a fase de produção estável se observa uma mudança significativa na composição dos custos da uva de mesa na região do Submédio São Francisco com os serviços passando a responder por 44,29% dos custos totais ficando os insumos com uma participação de 55,71%. Os ítens que mais oneram o segmento serviços são a pulverização mecanizada, raleio dos frutos, colheita/embalagem e adubação de cobertura, enquanto na parte dos insumos o ítem que exige maior desembolso dos produtores passa a ser caixas para embalagem dos frutos (Tabela 3).
Segundo dados levantados pela Embrapa Semi-Árido, a produtividade média anual de um vinhedo em produção estável, situação que ocorre a partir do 3º ano e se prolonga ate o 15º, é de 40 toneladas por hectare/ano. É importante comentar que nesta zona de produção ocorrem duas safras anual. Considerando que o valor médio anual de comercialização da uva, do pólo de produção em análise, é de R$ 0,80/kg, pode-se considerar que o valor bruto médio da produção em um hectare em plena produção é de R$ 34.000,00. Para se ter uma idéia mais aproximada da rentabilidade econômica da exploração da uva de mesa no Submédio São Francisco pode-se adicionar ao total dos custos de insumos e serviços de um ano em plena produção (3º ano da Tabela 4), um custo de administração que corresponderia a 5% do total dos custos operacionais, para cobrir os custos de mão-de-obra de administração, assistência técnica e contábil, depreciação dos equipamentos, impostos e outras taxas. Com a incorporação deste novo ítem o custo total aproximado de um hectare de uvas de mesa com sementes nesta região fica ao redor de R $ 17.993,28. Considerando o valor bruto médio da produção da região (receita bruta total) e os custos totais de manutenção em um ano de plena produção, se constata que a exploração da uva de mesa na região do Submédio São Francisco apresenta resultados economicamente satisfatórios em diversos índices de eficiência econômica (Tabela 4). A taxa de retorno é de 0,88%, situação que indica que para cada R$ 1,00 utilizado no custo total de manutenção de um hectare de uva houve um retorno de R$ 1,88. O ponto de nivelamento também confirma o razoável desempenho econômico da cultura analisada, pois será necessário uma produtividade de apenas 21.168,56 kg/ha para a receita se igualar aos custos. Este mesmo desempenho pode ser observado no resultado da margem de segurança que corresponde a - 0,47, condição que revela, que para a receita se igualar à despesa a quantidade produzida ou o preço de venda do produto pode cair em 47%. Tabela 3 - Custo de Implantação e manutenção de um hectare de uva de mesa, na região do Submédio São Francisco.
Tabela 4 - Avaliação econômica do cultivo de um hectare de uva de mesa na região do Vale do São Francisco
Notas: (A) Produtividade media anual de um hectare de uva de mesa com sementes em produção plena (esse valor corresponde a duas safras) (B) Valor bruto da produção é o Preço médio x Quantidade produzida (C) Custos totais efetuados para a obtenção da produção (P) Preço médio anual da uva de mesa no mercado interno R$/kg (R$/kg 0,80) No tocante a uva sem sementes é interessante comentar que esse tipo de uva registra produtividade média anual em plena produção em torno de 20 toneladas. Como o custo de produção das uvas sem sementes é cerca de 20% superior ao custo da uva com sementes, devido principalmente ao processo de cobertura dos cachos e desponta de ramos e considerando que o preço médio anual do produto no mercado doméstico está em torno de R$ 1,10, fica evidenciado que a nível de mercado interno está exploração não apresenta ganhos significativos visto que os da produção quase fica igual a receita. Sem embargo no âmbito internacional onde esse produto está em franca ascensão o preço médio de um kg de uva sem semente é de U$ 2,5, enquanto a uva com semente está em torno de U$ 1,0. Esse comportamento de preço indica que no mercado internacional as uvas apirênicas apresentam um melhor resultado econômico que os cultivos tradicionais. Além disso, com a exportação de uvas sem sementes os exportadores brasileiros estão consolidando suas posições nesse competitivo mercado, visto que, estão atendendo adequadamente a demanda atual.
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