Embrapa Semi-Árido
Sistemas de Produção, 1
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Julho/2004
Cultivo da Videira

Patrícia Coelho de Souza Leão

Início

 

Aspectos Socioeconômicos

Clima

Manejo do Solo

Adubação

Cultivares

Plantio

Irrigação

Tratos Culturais

Substâncias Orgânicas

Doenças

Pragas

Colheita e pós-colheita

Comercialização e Custos

Referências bibliográficas

Glossário

 

Expediente

Autores

Produção de mudas

A estaquia em conjunto com a enxertia é o método mais antigo de multiplicação e o mais usado comercialmente para a obtenção de mudas de videira.

Seleção das estacas para produção de mudas

Propagação do porta-enxert

Propagação da variedade copa por enxertia

 

Seleção das estacas para produção de mudas
Topo da Página

Os ramos são selecionados no período de repouso vegetativo da planta, quando se apresentam bem maduros ou lignificados. Os ramos devem ser sadios, com diâmetro entre 8 a 12 mm, evitando-se retirar as estacas de ramos sombreados e com entrenós muito curtos ou demasiadamente longos, pois estas características podem indicar a existência de problemas fitossanitários ou nutricionais. As estacas devem ser coletadas da porção mediana dos ramos e imediatamente após o preparo dessas, efetuar o plantio ou mantê-las em recipiente com água, o que evita a desidratação do material propagativo, visando a obtenção de bons índices de pegamento e enraizamento.

Propagação do porta-enxerto
Topo da Página

 

Porta-enxerto é a porção da planta que forma o sistema radicular e é comumente utilizado quando as condições de solo são adversas ao desenvolvimento radicular da variedade copa. Essas adversidades podem ser de ordem física, tais como solos de baixa fertilidade, muito úmidos, com alto teor em calcário ativo, ou biológica, tais como fungos e pragas (nematóides, filoxera, pérola-da-terra). Nas condições do Vale do São Francisco, a utilização de porta-enxertos é devido, principalmente, ao ataque de nematóides, que se proliferam nos solos arenosos da região.

 

Na propagação do porta-enxerto, as estacas podem ser plantadas diretamente no local definitivo ou enraizadas em sacolas plásticas no viveiro. A produção de mudas em viveiro tem como vantagem proporcionar uma seleção rigorosa das plantas a serem levadas para o campo

As estacas são cortadas com duas a três gemas (25 a 30 cm), observando-se que o corte da extremidade inferior deve ser efetuado imediatamente abaixo da gema, enquanto o corte da extremidade superior situa-se a, aproximadamente, 3 a 5 cm de altura da gema superior, o que evita que esta se desidrate rapidamente.

Após a preparação das estacas, estas devem ser imediatamente plantadas em sacolas plásticas ou tubetes contendo substrato umedecido ou devem ser plantadas no local definitivo, desde que a área possua o sistema de irrigação instalado. É importante fixar bem o substrato ou o solo em torno das estacas.

 

As variedades IAC 572 e IAC 313 apresentam elevado índice de enraizamento e pegamento de estacas. Um dos principais fatores que influenciam no enraizamento de videira, é a quantidade de substâncias de reserva armazenadas nos ramos, e por este motivo os ramos lignificados apresentam melhores resultados. Entre 60 a 90 dias após o plantio, as mudas podem ser levadas para o campo. A utilização de reguladores de crescimento para indução de enraizamento de estacas de porta-enxerto de videira não é necessária.

 

Propagação da variedade copa por enxertia
Topo da Página

 

Enxertar consiste em unir partes de vegetais oriundas de plantas distintas, resultando em uma só planta. Denomina-se enxerto ou garfo a parte vegetal que dará origem ao sistema aéreo  e porta-enxerto aquela que formará o sistema radicular.

 

Os fatores mais importantes para o êxito da enxertia são: compatibilidade e afinidade entre o porta-enxerto e a variedade copa, condições favoráveis de aeração e temperatura do substrato, contato dos tecidos do porta-enxerto e variedade copa, com a boa formação dos tecidos de soldadura, os quais asseguram a circulação das seivas bruta e elaborada.

 

A videira presta-se, de um modo geral, a todos os processos de enxertia: de garfo, de borbulha e de encosto. Nesta região, o processo de enxertia utilizado, tanto em viveiros como em vinhedos comerciais é o de garfagem no topo de fenda cheia. Este método de enxertia tem apresentado bons resultados, com um índice de pegamento da enxertia acima de 90%, quando se utiliza os porta-enxertos IAC 572 e IAC 313. Outra vantagem deste método é a maior facilidade de execução.

 

No momento da seleção dos garfos é importante observar que o diâmetro dos ramos da variedade copa seja compatível com o diâmetro do porta-enxerto. Para a preparação dos garfos, os bacelos devem ser cortados com duas gemas, efetuando-se o corte na extremidade superior a uma distância de cerca de 2 cm da gema apical em ângulo reto; na extremidade inferior, efetua-se o corte em forma de cunha iniciando-se cerca de 0,5 cm abaixo da gema, devendo apresentar o mesmo comprimento da fenda do porta-enxerto, cerca de 2 a 3 cm. O corte da cunha no garfo deve ser efetuado com movimentos rápidos e firmes, de maneira a ficarem bem lisos (Figura 1A).

 

O garfo é introduzido imediatamente na fenda do porta-enxerto, certificando-se da existência de um perfeito contato entre os tecidos do câmbio do enxerto e do porta-enxerto (Figura 1B). Em seguida, o enxerto deve ser enrolado com fita plástica, a partir da região da enxertia até a extremidade, deixando-se apenas as gemas descobertas. A extremidade superior deve ser protegida com a fita para evitar o dessecamento do enxerto.

 

A produção de mudas enxertadas pode ser feita por meio das enxertias de mesa ou no campo. Na enxertia de mesa, o processo de enxertia e enraizamento são realizados no viveiro, partindo-se de porta-enxertos ainda não enraizados. As estacas enxertadas, conforme descrito acima, deverão ser plantadas logo após a enxertia, em sacolas plásticas ou tubetes (Figuras  2A e 2B), contendo substrato úmido.

 

As mudas enxertadas no viveiro podem ser levadas ao campo cerca de 60 dias após a enxertia. A principal vantagem é a aquisição, pelo produtor, de mudas enxertadas e selecionadas prontas para o plantio. Por outro lado, como desvantagem, essas mudas apresentam desenvolvimento vegetativo mais lento durante a fase de crescimento, o que pode reduzir o vigor vegetativo da copa, podendo levar à necessidade de realizar podas de formação durante dois ou mais ciclos consecutivos.

 

Na enxertia no campo, os porta-enxertos (estacas ou mudas enraizadas) são plantados no local definitivo, onde permanecem por aproximadamente 6 meses, até apresentarem diâmetro e maturação adequados para serem enxertadas. As principais vantagens deste processo são o desenvolvimento rápido e uniforme das brotações após a enxertia, devido ao maior vigor vegetativo resultante da presença do sistema radicular já desenvolvido. Em conseqüência, é possível obter-se plantas com melhor desenvolvimento e ramos mais uniformes. As principais desvantagens são o tempo necessário para tornar o porta-enxerto apto para a enxertia de campo, maior risco de perdas de plantas ou falhas na enxertia, provocando a obtenção de vinhedo desuniforme, como também a emissão de ramos ladrões no porta-enxerto.

 

Quando o processo de enxertia é realizado no campo, são selecionados dois ramos para receberem os garfos, dos quais eliminam-se todas as folhas abaixo do corte. Os ramos restantes do porta-enxerto são eliminados, com exceção de um ou dois que permanecem para distribuir o excesso de seiva e evitar o afogamento dos enxertos, até o completo pegamento de pelo menos um deles. Nos ramos selecionados, escolhe-se uma porção lisa e reta, a uma altura de 30 a 50 cm do solo, onde efetua-se o corte horizontal para eliminação da copa, abrindo-se com o auxílio do canivete de enxertia uma fenda de aproximadamente 2 a 4 cm de profundidade para introdução do garfo que se deseja enxertar (Figura 1C). Quando ocorre o pegamento dos dois enxertos, seleciona-se aquele que apresenta brotação mais vigorosa, eliminando-se o outro.

 

A enxertia verde ou herbácea é aquela realizada quando os ramos do porta-enxerto e do garfo não se encontram ainda lignificados, entretanto estes devem estar no mesmo estádio de maturação e apresentar o mesmo diâmetro. Geralmente é utilizada para a reposição de falhas da enxertia.

 

O viveiro para produção de mudas deve ser protegido de ventos fortes, estar próximo a uma fonte de água constante e de boa qualidade, em solo bem drenado e com boas estradas de acesso.

 

São utilizados na construção do viveiro mourões de madeira resistente ou de cimento armado, responsáveis por sua sustentação, apresentando 3,00 m de altura, enterrados 70 cm no solo e distanciados 3 m entre si. O viveiro deve ser coberto para evitar o ressecamento das mudas, utilizando-se tela sombrite, com densidade de 50%. O sombrite permite uma distribuição uniforme da luz no interior do viveiro, evitando o desenvolvimento irregular das mudas.

 

Os sacos para mudas de videira devem ter dimensões de 14 cm x 22 cm, com furos na base para permitir o escoamento do excesso de água, organizados em canteiros de 1 m de largura, com comprimento variável. Os canteiros são distanciados 60 a 80 cm um do outro, a fim de permitir o deslocamento das pessoas no interior do viveiro . Atualmente, existe uma tendência de utilização de tubetes com maior praticidade em relação aos sacos plásticos. Os tubetes devem apresentar as seguintes dimensões: na parte externa 62 mm, interna 52 mm, altura 190 mm e capacidade 288 cm3,, acondicionados a bandejas em uma bancada a 0,80 m do solo.

 

O substrato utilizado é a terra retirada das camadas superficiais do solo. Entretanto, é importante a realização de análise de fertilidade, principalmente para verificar a ocorrência de problemas como salinidade, que podem causar fitotoxidez nas mudas. Por ocasião do plantio, é muito importante a seleção de mudas homogêneas, que apresentem desenvolvimento normal das brotações, sadias, com sistema radicular bem formado e boa soldadura da enxertia.

 

Fotos: Embrapa Semi-Árido

A

B

C

Fig. 1 – Realização da enxertia: corte em cunha no garfo (A), união das duas partes (B) e corte em fenda no porta-enxerto (C)  

 

Fotos: Embrapa Semi-Árido

A

B

Fig. 2 – Mudas de videira enraizadas em sacolas plásticas (A) e em tubetes (B)

 

 

 

Copyright © 2004, Embrapa